A partir de hoje, apresentaremos algumas das principais pesquisas, ideias e questionamentos que apareceram durante o XXVI Simpósio Nacional de História, encerrado ontem na USP São Paulo.
Na segunda, dia 18, o professor Marcelo Ridenti (IFCH-UNICAMP) apresentou Memórias do Cárcere: Graciliano Ramos no meio do caminho. Além de narrar a trajetória do escritor, Ridenti destacou particularidades das relações entre Estado brasileiro e intelectuais nas décadas de 1930 e 1940. Graciliano Ramos foi preso pelo governo Vargas em 1936 na onda de repressão à Intentona Comunista de 1935 e foi solto apenas no ano seguinte: posteriormente, foi homenageado e empregado pelo mesmo governo. Como explicar isso? Não havia um mercado editorial consolidado, de tal modo que os escritores dependiam de empregos públicos para sobreviver. Apesar disso, Ridenti, citando Antônio Cândido, disse que servir na ditadura não necessariamente seria o mesmo que servir à ditadura.
Ridenti ainda ressaltou o seguinte ponto: em Memórias do Cárcere, Graciliano Ramos relata a sua experiência na prisão, mas não cita processos de repressão semelhantes ocorridos anteriormente no país, por exemplo, durante a presidência de Artur Bernardes (1922-1926), assim como o escritor não é lembrado por aqueles que sofreram perseguições durante a ditadura militar (1964-1985). Em outras palavras, Ridenti destacou a necessidade de se problematizar as relações entre memória, autoritarismo e repressão no Brasil do século XX. Pergunta para ser respondida nos comentários: a leitura e o seminário de Tempo Passado de Beatriz Sarlo que realizamos na disciplina de Introdução à História nos oferecem algumas pistas para o problema apontado por Ridenti: quais seriam estas pistas? Vale lembrar que Memórias do Cárcere foi escrito dez anos após a experiência do escritor na prisão.
Prof. Paulo Renato da Silva.