Quando soube que viria fazer um ano de intercâmbio em Portugal, imaginei que teria contato com outra cultura, outra paisagem, pessoas com outras crenças, outras experiências e que isso me enriqueceria. No entanto, não fazia idéia de quão rica seria a minha estadia aqui; a realidade é maior do que se imagina e o intercâmbio se tornou um “divisor de águas”.
Vim morar na cidade de Braga, para estudar na Universidade do Minho. Braga fica no norte português – região mais conservadora do país – realidade bastante diferente dos dois estados brasileiros nos quais vivi, São Paulo e Tocantins. A Uminho, no ano letivo de 2010/2011, recebeu centenas de intercambistas, vindos de outros países europeus, da América Latina e de alguns países da África e Ásia. Muitos destes estudantes vivem nas residências universitárias, como eu. Assim sendo, a circulação de línguas estrangeiras no mesmo corredor foi diária.
Esse convívio causou todos os choques – cultural, religioso, lingüístico, político e até mesmo econômico. Já no primeiro momento, foi necessário para todos aprender a conviver com essas diferenças, do contrário, ninguém daria outro passo. Aqui usei meu inglês, portunhol e aprendi outra língua portuguesa, muito, mas muito diferente da que falei a vida inteira. Além de conhecer pessoas do mundo todo e de conversar um pouco com algumas delas para conhecer a realidade de outros países, conheci também (e em sua maioria) brasileiros de todos os cantos e descobri inúmeras características do meu povo; deu vontade de conhecer muitos lugares.
A paisagem também é totalmente diferente. Desde 2006 vivo em Palmas – TO, cidade planejada que tem 22 anos e é plana. Braga é da época dos romanos e fica numa região montanhosa, o que se traduz em ladeiras e ruas íngremes... Hoje, quase um ano depois, ainda me encanto com o que, para mim, é um cenário: a cidade com ruas estreitas, prédios de arquitetura românica, barroca, casas azulejadas e flores, que enfeitaram Braga até no inverno. É muito diferente do que conheço e elemento fundamental para compor a experiência.
Não posso, é claro, deixar de falar do povo português. Mesmo em tempos de crise, percebem-se ainda vestígios do orgulho dos “Lusíadas” entre os portugueses e grande indignação diante do desemprego, do aumento de impostos, do corte das bolsas universitárias e de outros problemas. O Brasil aqui é bem visto pelas melhorias econômicas dos últimos anos.
A situação de crise me chamou muito a atenção quando cheguei, já que no Brasil não se fala em crise econômica, mas em crescimento da economia brasileira. Ao contrário, a qualidade de vida do europeu (mesmo em crise), ainda é superior (às vezes, bem superior) a do brasileiro – vou sentir muitas saudades do transporte público que funciona, das boas estradas e, especialmente, dos impostos mais baixos (apesar do ligeiro aumento no último ano), que se refletem em produtos muito mais baratos.
Os portugueses em geral não são calorosos, tem uma certa frieza uns com os outros e principalmente com quem é de fora. Ainda assim, foram receptivos; sempre tive quem me ajudasse e foram muitas as perguntas sobre o meu país. Nunca me faltou um “bom dia” simpático ao chegar à universidade. Não tenho do que me queixar, tive sorte. No entanto, sempre senti falta da aura alegre nas ruas; eles andam mais sérios, fechados, nós sorrimos mais e isso faz diferença, deixa o ambiente mais leve.
Em resumo, o que imaginava foi muito maior; o contato com as diferenças e o enriquecimento que isso traz é indescritível. A experiência de sair de casa, mudar de país, estudar fora contribui muito para o amadurecimento e para reagir mais calmamente diante dos problemas. A quem puder, faça intercâmbio. É, com certeza, umas das experiências mais marcantes que se pode ter!
Maiara Muniz
Estudante de História da Universidade Federal do Tocantins,
Intercambista na Universidade do Minho no ano letivo 2010-2011.