“Seria um erro, porém, dar às idéias de sinceridade e autenticidade um lugar central na análise do comportamento tanto de Luís como de seus cortesãos. O culto moderno da sinceridade não existia no século XVII. Outros valores, como decoro, eram reputados mais importantes. Seja como for, o sistema não era movido apenas pela bajulação. É improvável que todas as contribuições para a glorificação do rei fossem cínicas, isto é, meras tentativas de persuadir outros de algo em que pessoalmente não se acredita. É possível, para dizer o mínimo, que o próprio Luís, a corte e país acreditassem na imagem idelizada do rei, assim como nas virtudes do toque real (…). Vista fora de contexto, a imagem de Luís XIV como monarca sagrado, invencível, pode sem dúvida parecer um caso de megalomania. No entanto, temos de aprender a vê-la em seu contexto, como criação coletiva e – pelo menos até certo ponto – como resposta a uma demanda, ainda que o público não tivesse plena consciência do que desejava. Os processos pelos quais imagens reforçam o poder são ainda mais eficazes por serem parcialmente inconscientes.” (BURKE, Peter. A Fabricação do Rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 24).
Prof. Paulo Renato da Silva.