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Mostrando postagens de 2013

Lula: “E eu achava que o golpe era uma coisa boa.” Ditaduras e sociedade civil, uma relação complexa.

Um tema muito controverso é a participação da sociedade civil durante as ditaduras latino-americanas. Houve apoio? Colaboração direta? Indiferença? Medo? Resistência? As respostas variam bastante: dependem do país, da época e do grupo social em questão, dentre outros fatores. Em História Indiscreta da Ditadura e da Abertura: Brasil (1964-1985) , Ronaldo Costa Couto apresenta dois depoimentos importantes sobre a participação do “povo” durante a ditadura militar brasileira. O primeiro depoimento é do ex-presidente Lula, dado ao autor do livro em 1997: “Quando houve o 31 de março, eu tinha exatamente 18 anos de idade. (...). E eu achava que o golpe era uma coisa boa. Eu trabalhava junto com várias pessoas de idade. E pra essas pessoas, o Exército era uma instituição de muita credibilidade. (...). Todo mundo de marmita, a gente sentava pra comer e eu via os velhinhos comentarem: “Agora vai dar certo, agora vão consertar o Brasil, agora vão acabar com o comunismo” (...). Essa era a visão

“Renunciar a Satanás, a suas pompas e ao comunismo”: ditadura e anticomunismo, um caso do Paraguai.

Há algumas postagens destacamos que as ditaduras latino-americanas eram anticomunistas. Para combater o comunismo, as ditaduras divulgavam que os comunistas eram ateus. Segundo as ditaduras, o comunismo não combinaria, assim, com a “fé cristã” dos latino-americanos. Do Paraguai vem um exemplo extremo desse anticomunismo das ditaduras latino-americanas: “(...) la guerrilla comunista fue la que más perduró. Su primera columna, Ytororo, fue tempranamente exterminada. De sus 54 miembros, sólo dos lograron sobrevivir. La siguiente columna, Mariscal López, asoló el departamento de Cordillera hasta que en 1965 fueron aprehendidos muchos de sus componentes con los cuales, en el mes de setiembre de ese año, el régimen de Stroessner desarrolló un payasesco rito seudoreligioso con tintes propagandísticos: tras ser salvajemente torturados, como era de rigor, los ex guerrilleros fueron “rebautizados”. En sendas ceremonias llevadas a cabo en cuatro localidades del departamento de Cordillera, di

Ditadura e futebol: a campanha de boicote à Copa de 1978 na Argentina.

A postagem de hoje aproveita o clima de sorteio da Copa do Mundo. O Mundial de 1978 foi realizado na Argentina, em plena ditadura militar. Os militares usaram a Copa – e o nacionalismo que sempre se manifesta nestas ocasiões – para conquistar o apoio da sociedade argentina e esconder a repressão sofrida pelos opositores. No entanto, meses antes da Copa, começou uma campanha na Europa defendendo o boicote ao evento e denunciando os crimes contra os direitos humanos que ocorriam no país. Vejamos algumas ações dessa campanha: Aqui, o logo da Copa (abaixo) é usado para denunciar a existência de campos de concentração de opositores no país. Nesta charge, o ditador argentino Videla é aproximado de Hitler. Cartaz holandês da Anistia Internacional representa uma bola de futebol com arames farpados, representando as prisões. Cartaz italiano contra o Mundial de 1978. Prof. Paulo Renato da Silva.

A propaganda das ditaduras: “nação”, “religião”, “paz” e “progresso”.

As ditaduras militares eram anticomunistas. Os comunistas denunciavam as desigualdades sociais existentes na sociedade. Para combater os comunistas, as ditaduras empregavam a repressão e apelavam para o nacionalismo e a religião. O apelo ao nacionalismo e à religião era uma forma de mascarar, de esconder as diferenças sociais, era uma tentativa de “unir” a sociedade em torno de características “comuns”, pois, para os militares, as identidades nacionais e a fé estariam acima das diferenças sociais. As ditaduras pretendiam, assim, evitar os confrontos de classe (greves, protestos, etc.) e estabelecer a “paz”. As ditaduras apresentavam a “paz” como uma condição para o “progresso”, discurso que, de um modo geral, interessava às elites econômicas e políticas. Vejamos alguns exemplos de propagandas das ditaduras militares:  Propaganda da ditadura militar argentina instaurada em 1976. Uma das mais conhecidas propagandas da ditadura militar brasileira (1964-1985). O general

“La Última Cena”: uma (re)leitura da Revolução Cubana.

O filme A Última Ceia , do diretor cubano Tomás Gutiérrez Alea, foi lançado em 1976. É um dos filmes mais importantes da cinematografia cubana e latino-americana. Conta a história de um senhor que, no final do século XVIII, convida 12 de seus escravos para reproduzirem a última ceia de Cristo. No dia seguinte, estoura uma grande rebelião de escravos. O filme é baseado em um acontecimento verídico. O filme foi produzido pelo Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC), mas demonstra que existiam divergências sobre os rumos da Revolução. A seguir destacamos algumas dessas divergências. A Revolução Cubana então priorizava o combate às diferenças e aos preconceitos de classe. Questões étnicas tinham um espaço reduzido. No entanto, o filme dá um destaque expressivo à diversidade que há entre os negros, o que diferia da política da Revolução. Há menções aos congos, mandingas e carabalis, a elementos do vodu e à dança e canto iorubás. É claro que A Última Ceia pod

Marxismo, vanguarda e as particularidades latino-americanas: um caso do Paraguai.

Há algumas postagens destacamos que há um debate no marxismo quanto à universalidade ou não dos seus pressupostos. As duas posições apresentam problemas. Hoje, porém, apontaremos, ainda que resumidamente, como uma concepção universal de marxismo pode desconsiderar as particularidades de determinados processos histórico-culturais. Julio José Chiavenato não é historiador, é jornalista, mas os seus trabalhos sobre História do Paraguai tiveram – e ainda têm – grande repercussão. O autor segue os pressupostos do marxismo, mais precisamente do marxismo-leninismo e o papel atribuído à “vanguarda revolucionária”. Vejamos como o autor se refere à relação entre o “povo” paraguaio e a esquerda durante a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989): “O povo paraguaio, vivendo a opressão dos governos liberais, sem nenhum partido político de massas a organizá-lo, aprendeu a identificar-se com sua única opção: o Partido Colorado. (...). (...). Os partidos de esquerda no Paraguai (...)

“En el Camino”: história e cultura da Argentina.

Muitos programas de televisão apresentam imagens estereotipadas de regiões e populações interioranas. Muitas vezes, as regiões e populações interioranas são representadas de forma exótica e pitoresca. Uma exceção é o programa En el Camino , do canal argentino Todo Noticias , mais conhecido como TN . Um dos principais atrativos do programa é justamente a ênfase na história dos locais visitados. O TN tem um link para vários episódios do programa em: < http://tn.com.ar/programas/en-el-camino?page=1 >. Prof. Paulo Renato da Silva.

As classes n’O Manifesto Comunista: condição social, gênero e geração.

O marxismo não se resume a O Manifesto Comunista , mas, provavelmente, é o livro mais conhecido e difundido do marxismo. Foi escrito por Marx e Engels (não nos esquecemos de Engels!) para ser divulgado, daí sua linguagem mais “simples” quando comparada à de outros livros do marxismo “clássico”. Assim, o conceito de classe presente no livro marcou fortemente – e de certa forma ainda marca – o discurso acadêmico e principalmente o político. Resumidamente, a condição de classe é definida pela posição que o sujeito ocupa no processo produtivo, como detentor dos meios de produção (burguesia) ou como não detentor (proletariado). A posição que o sujeito ocupa no processo produtivo seria mais importante do que outras condições: “Quanto menos habilidade e força física venha requerer o trabalho manual, isto é, quanto mais se desenvolve a indústria, tanto mais o trabalho dos homens é substituído pelo das mulheres. Diferenças de idade e de sexo não têm mais validade distintiva social para a cla

O marxismo é universal?

Um dos principais debates do marxismo pode ser resumido do seguinte modo: o marxismo é universal ou deve ser adaptado às particularidades de cada caso? O início d’ O Manifesto Comunista é uma das tantas passagens que alimentam esse debate. Vejamos: “A história de todas as sociedades que já existiram é a história de luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, chefe de corporação e assalariado; resumindo, opressor e oprimido estiveram em constante oposição um ao outro, mantiveram sem interrupção uma luta por vezes, por vezes aberta – uma luta que todas as vezes terminou com uma transformação revolucionária ou com a ruína das classes em disputa. Nos primeiros tempos da História, por quase toda parte, encontramos uma disposição complexa da sociedade, em várias classes, uma variada gradação de níveis sociais. Na Roma antiga, temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos. Na Idade Média, senhores feudais, vassalos, chefes de corporação, assalariados, ap

"Operários", de Tarsila do Amaral: diversidade e unidade dos trabalhadores.

Há um amplo debate sobre a formação do movimento operário e os elementos que interferem em sua constituição. Um quadro da brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973), Operários , de 1933, de certa forma sintetiza esse debate. No quadro, a pintora representa a diversidade - sobretudo étnica e de gênero, para usarmos conceitos atuais - que caracterizava os trabalhadores da indústria brasileira do período. Se por um lado notamos a diversidade dos trabalhadores, por outro a pintora também indica elementos em comum. Os rostos sobrepostos representariam a “massificação” dos trabalhadores. A expressão de "cansaço" da maioria dos rostos indicaria esse processo. Prof. Paulo Renato da Silva.

“Fuerza Cristina”: a vígila, o “povo” e o peronismo.

O vídeo acima é da Agência Nacional de Notícias, portanto, favorável ao governo argentino. Mas o vídeo tem aspectos muito interessantes: demonstra quantos referenciais se manifestam - e os que são destacados pela Agência - em momentos como este, no qual a presidenta está internada: o hino nacional, Gauchito Gil, Nossa Senhora, o papa Francisco, Eva Perón, os laços sentimentais que se estabelecem entre os governantes e os setores populares, etc. São diversos os elementos que formam os sujeitos e os grupos étnicos, políticos e sociais. O vídeo também é uma síntese do peronismo e, particularmente, de sua busca pela "unidade" nacional: nele aparecem mulheres e homens, a menina de traços indígenas tocando o hino nacional (“Na Argentina os únicos privilegiados são as crianças”, dizia Evita), a “típica” argentina branca e loira (a que veio da Província de Entre Ríos) e idosos (vale lembrar que o peronismo publicou “Los Derechos de la Ancianidad”). E os depoimentos remetem a s

Procurando uma fonte para pesquisar? Revista “Mundo Peronista” completa na internet!

A revista Mundo Peronista foi publicada pela extinta Editorial Haynes entre 1951 e 1955. A revista apoiava o presidente argentino Juan Domingo Perón (1946-1955) e foi um dos principais instrumentos de propaganda do seu governo e de “doutrinamento” dos setores populares. Todos os números podem ser baixados da internet a partir do link < http://gestar.org.ar/biblioteca-digital >. Prof. Paulo Renato da Silva.

Foz do Iguaçu: os monumentos que temos...e os que nos faltam?

O portal H2Foz publicou ontem uma reportagem interessante sobre monumentos e estátuas de Foz do Iguaçu ( http://www.h2foz.com.br/noticia/monumentos-fazem-parte-da-paisagem-de-foz ). Um dos monumentos mais interessantes e representativos é o Memorial em Homenagem aos Mortos pelas Ditaduras na América Latina, justamente ao lado da Avenida Costa e Silva, que leva o nome de um dos presidentes militares do Brasil. Esse é um exemplo de memórias diferentes disputando o reconhecimento da opinião pública. Às vésperas do Centenário, a ser comemorado no ano que vem, a leitura da reportagem nos leva a pensar, também, nos monumentos que nos faltam. Para você, que monumentos faltam em nossa cidade? Luís Carlos Prestes continua à espera de um monumento na cidade por onde passou com suas tropas em meados da década de 1920. Mas claro que já temos um busto de Getúlio Vargas em um lugar central da cidade. Como mostra a reportagem do H2Foz, a cidade – felizmente – homenageia os mitos indígenas sob

Como não se faz História: Narloch "analisa" Allende.

O jornalista Leandro Narloch ficou conhecido recentemente pelos livros Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil e Guia Politicamente Incorreto da América Latina . Ambos os livros são sucessos editoriais. Como historiadores, devemos reconhecer que os jornalistas, geralmente, apresentam uma linguagem mais sedutora e, de alguma forma, temos que aprender com eles para aumentarmos o nosso público leitor. Porém, os livros de Narloch não apresentam rigor de pesquisa e na análise da historiografia. Além disso, politicamente, poderiam ser definidos como de centro-direita. O problema não é ser de centro-direita, afinal, este é um país democrático: o problema é o excesso de senso-comum que marca os livros do jornalista. Na sexta-feira, em artigo publicado na Folha de São Paulo ( http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/09/1344614-leandro-narloch-e-se-allende-fosse-vitorioso-em-1973.shtml ), o jornalista deturpa e ironiza a história chilena, particularmente o governo Allende. Narlo

"A 33 años del mayor atentado en Paraguay."

Reportagem do Jornal do Brasil sobre o atentado (Disponível em: < http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=15638 >. Acesso em: 21 set. 2013). Nesta semana fez 33 anos que o ditador nicaraguense Anastasio Somoza foi morto em Assunção pelo grupo argentino ERP (Ejército Revolucionario del Pueblo). Leia reportagem do jornal paraguaio  ABC Color sobre o episódio   em: < http://www.abc.com.py/especiales/fin-de-semana/a-33-anos-del-mayor-atentado-en-paraguay-619610.html >. Prof. Paulo Renato da Silva.

Zamba em Yapeyú, terra de San Martín.

Hoje nos despedimos de Zamba com sua ida à Yapeyú, terra natal do libertador San Martín, localizada na Província de Corrientes. Prof. Paulo Renato da Silva.

Explicar a(s) ditadura(s) para as crianças.

Durante uma excursão pela Casa Rosada, Zamba conversa com o busto da República e mergulha nas profundezas da(s) ditadura(s) argentina(s). Prof. Paulo Renato da Silva.

Zamba: crianças, história e memória na Argentina.

Devido ao recesso, faremos uma pausa na série sobre teoria e metodologia da História. Nesta semana apresentamos Zamba, personagem animado argentino que percorre episódios da história do país. Zamba é representativo da relação dos argentinos com sua história. A História ocupa um lugar expressivo na educação dos argentinos quando comparamos, por exemplo, com o Brasil. Esse lugar expressivo faz com que haja uma apropriação intensa da história nacional por diferentes movimentos político-sociais. Os personagens históricos são constantemente citados nos debates políticos do país. Mas é necessário apontar que, muitas vezes, essa relação é marcada pela idealização de personagens e processos históricos. O desenho de Zamba é transmitido pelo canal infantil público Pakapaka, do Ministério da Educação da Argentina. Hoje apresentamos a incursão de Zamba na Guerra das Malvinas (1982). Prof. Paulo Renato da Silva.

O recorte temporal.

O recorte temporal é fundamental para a pesquisa em História. Afinal, segundo a definição clássica de Mar Bloch, a História é a ciência “dos homens, no tempo ” [grifo meu]. (BLOCH, 2001, p. 55). Não é fácil delimitar o recorte temporal. A delimitação exige muito conhecimento sobre o tema a ser pesquisado, pois apenas assim detectamos questões e períodos menos estudados e onde residem as principais dúvidas e “contradições” da historiografia. A disponibilidade de fontes também é um elemento que incide sobre a delimitação do recorte. Temas e períodos marcados por menor disponibilidade de fontes geralmente resultam em recortes temporais mais amplos para que seja possível apreender as rupturas e permanências que nós historiadores sempre buscamos. Raramente encontramos, por exemplo, um estudo sobre a “Antiguidade” ou sobre a “Idade Média” restrito a dois ou três anos. Ou seja, a delimitação do recorte temporal depende da formulação de um problema a ser investigado e da existência de condi

Allende e o golpe de 1973 no Chile, 40 anos depois.

Hoje faz 40 anos que o governo constitucional de Salvador Allende foi derrubado no Chile pelo golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet. Um dos principais documentários sobre o tema, "A Batalha do Chile", de Patricio Guzman, está disponível no Youtube: Parte 1. Parte 2. Na sexta continuamos com a nossa série sobre teoria e metodologia da História. Prof. Paulo Renato da Silva.  

Sobre “escolas” e nossas escolhas teórico-metodológicas.

Para os que trabalham e não puderam comparecer à fala do prof. Doratioto na UNILA, sintetizo a seguir, com palavras próprias, um dos pontos que foram abordados. Trata-se de uma questão introdutória, mas essencial para qualquer pesquisa: os referenciais teórico-metodológicos são ferramentas para auxiliar os historiadores e não “camisas-de-força”. Os referenciais devem nos ajudar a formular boas perguntas para as fontes. Os referenciais devem nos ajudar a perceber as lacunas e contradições das fontes. Devem nos ajudar, inclusive, a desmentir as nossas hipóteses iniciais, caso as fontes nos mostrem que estamos enganados. Mas, quando seguimos os referenciais teórico-metodológicos de modo muito rígido, corremos o risco de ler as fontes de forma pré-concebida e perder a complexidade das experiências vividas que pesquisamos. Devemos considerar, sempre, os ensinamentos teórico-metodológicos deixados pelos historiadores que nos precederam, mas nunca podemos nos esquecer das particularidades

"Pós-modernismo", relativismo e Holocausto.

Uma das principais críticas feitas ao “pós-modernismo” se refere ao risco de cairmos em uma História totalmente relativista. Se a História e as fontes são fundamentalmente discursos, desvinculados das experiências vividas que dizem retratar, deveríamos então aceitar tudo, todos os pontos de vista, todas as versões do passado? Dependendo do tema, o debate se torna bastante intenso. Por exemplo, seriam “apenas discursos” os números tatuados que vemos nos sobreviventes do Holocausto ou o que restou dos campos de concentração? Trata-se de uma situação muito controversa, paradoxal: por um lado, o “pós-modernismo”, ao considerar a multiplicidade dos discursos, seria um aliado da tolerância; mas, por outro, ajudaria a legitimar versões do passado marcadas, inclusive, pela intolerância. Para quem quiser se aprofundar mais no debate sobre o Holocausto, uma das críticas mais contundentes ao "pós-modernismo" foi feita por Carlo Ginzburg em Unus testis – O Extermínio dos Judeus e o

"O Texto Histórico como Artefato Literário", de Hayden White.

Outro historiador ligado ao “pós-modernismo” é Hayden White. Resumidamente, para White, o trabalho do historiador se aproxima ao do escritor, a História seria um discurso semelhante à Literatura. Além das lacunas e das contradições levantadas em uma pesquisa, para White pode variar bastante a forma de se narrar o passado, ou seja, o “gênero”, o “estilo” textual a ser escolhido pelo historiador. Em O Texto Histórico como Artefato Literário , Hayden White destaca o seguinte: “O que Collingwood não logrou perceber é que nenhum conjunto dado de acontecimentos históricos casualmente registrados pode por si só constituir uma estória; o máximo que pode oferecer ao historiador são os elementos de estória. Os acontecimentos são convertidos em estória pela supressão ou subordinação de alguns deles e pelo realce de outros, por caracterização, repetição do motivo, variação do tom e do ponto de vista, estratégias descritivas alternativas e assim por diante – em suma, por todas as técnicas que no

"Pós-modernismo" e História.

Na postagem do dia 31/08, escrevemos que, para Geoges Duby, o passado seria uma construção, mas não uma invenção. Outros historiadores, porém, enfatizam a História enquanto discurso, desvinculado – totalmente? – das experiências vividas. Essa visão está particularmente presente entre os “pós-modernistas”. Resumidamente, para os pós-modernistas, o trabalho do historiador não estaria focado no passado propriamente dito, mas nos processos que produziram os discursos sobre o passado. Vejamos o que nos diz Keith Jenkins sobre isso: “No nível da teoria, gostaria de apresentar dois argumentos. O primeiro (que esboço neste parágrafo e desenvolvo em seguida) é que a história constitui um dentre uma série de discursos a respeito do mundo. Embora esses discursos não criem o mundo (aquela coisa física na qual aparentemente vivemos), eles se apropriam do mundo e lhe dão todos os significados que têm. O pedacinho de mundo que é o objeto (pretendido) de investigação da história é o passado. A h

Escrita, construção e metodologia.

Continuamos com Georges Duby. No trecho a seguir, Duby fala sobre a escrita, sobre a sua própria escrita, o que não seria uma tarefa simples para os historiadores. A escrita exige planejamento, exige que seja traçado um percurso a ser seguido. Entretanto, esse “mapa” não deve ser seguido à risca, a escrita sempre deve estar aberta aos novos caminhos que a pesquisa pode nos apresentar a qualquer momento. A escrita tampouco pode ignorar as incertezas que nos cercam, pois a pesquisa nunca responde todas as perguntas. Pelo contrário, costuma colocar várias outras em nossa cabeça. Finalmente, como Duby frisa bem, a escrita deve buscar o “calor” das ações humanas que pesquisamos, “calor” este que, evidentemente, não existe mais, daí ser um grande desafio. Duby também aborda um ponto que é bastante debatido e ressalta que o passado é uma construção marcada, dentre outros fatores, pelo presente, pelo historiador que o constrói e pelas lacunas deixadas pelas fontes. Contudo, seria uma con