O
jornalista Leandro Narloch ficou conhecido recentemente pelos livros Guia Politicamente Incorreto da História do
Brasil e Guia Politicamente Incorreto
da América Latina. Ambos os livros são sucessos editoriais. Como
historiadores, devemos reconhecer que os jornalistas, geralmente, apresentam
uma linguagem mais sedutora e, de alguma forma, temos que aprender com eles para
aumentarmos o nosso público leitor.
Porém,
os livros de Narloch não apresentam rigor de pesquisa e na análise da
historiografia. Além disso, politicamente, poderiam ser definidos como de
centro-direita. O problema não é ser de centro-direita, afinal, este é um país
democrático: o problema é o excesso de senso-comum que marca os livros do
jornalista.
Na sexta-feira,
em artigo publicado na Folha de São Paulo
(http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/09/1344614-leandro-narloch-e-se-allende-fosse-vitorioso-em-1973.shtml),
o jornalista deturpa e ironiza a história chilena, particularmente o governo
Allende. Narloch parece se pautar na crise atual de Cuba ao “analisar”
o Chile de Allende. E não é demais destacar o seguinte: 1. São países
diferentes; 2. Entre Allende e o início da crise cubana se passaram pelo menos 15 anos; 3. Cuba nem sempre viveu todos os problemas apontados no artigo.
Não
queremos, aqui, idealizar o governo Allende, os historiadores devem fugir de
toda e qualquer idealização, mas Narloch, em seu exercício de “futurologia”,
omite o autoritarismo que marcou o Chile após a queda/morte de Allende. Um
leitor menos avisado, ao concluir o artigo, poderá ter uma única conclusão: o
golpe de 1973 e a ditadura Pinochet “salvaram” o Chile. A liberdade de
expressão e de opinião são sagradas, mas não podem se sustentar na omissão de
informações. Esse é um exemplo de como não se faz História.
E, 40 anos depois, o artigo mostra que muitas páginas ainda não foram viradas. Por isso, nunca é demais repetir:
Memória, Verdade e Justiça.
Prof. Paulo Renato da Silva.