O filme A Última Ceia, do diretor cubano Tomás Gutiérrez Alea, foi lançado em 1976. É um dos filmes mais importantes da cinematografia cubana e latino-americana. Conta a história de um senhor que, no final do século XVIII, convida 12 de seus escravos para reproduzirem a última ceia de Cristo. No dia seguinte, estoura uma grande rebelião de escravos. O filme é baseado em um acontecimento verídico. O filme foi produzido pelo Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC), mas demonstra que existiam divergências sobre os rumos da Revolução. A seguir destacamos algumas dessas divergências.
A Revolução Cubana então
priorizava o combate às diferenças e aos preconceitos de classe. Questões
étnicas tinham um espaço reduzido. No entanto, o filme dá um destaque
expressivo à diversidade que há entre os negros, o que diferia da política da Revolução.
Há menções aos congos, mandingas e carabalis, a elementos do vodu e à dança e
canto iorubás.
É claro que A Última Ceia pode ser visto como uma
crítica ao cristianismo. Mas também devemos fazer uma leitura mais ampla. A “religião”
criticada no filme pode ser o marxismo em suas versões mais ortodoxas.
Na cena da ceia, os
escravos divergem do senhor quanto a alguns aspectos do cristianismo, mas não negam
o cristianismo. Porém, quando o senhor adormece, o escravo Sebastián, então
calado, finalmente se manifesta e evoca elementos de sua cultura e etnia e não
do cristianismo. Ou seja, quando o poder não está presente, o “povo” pode ou consegue
se manifestar livre e autenticamente. A cena mostraria que, em Cuba, havia sim
espaço para críticas; estas, porém, não poderiam negar a Revolução.
Demonstraria que, no país, nem todos concordariam com a Revolução e ou seus rumos,
mas não seria possível se manifestar abertamente.
Vale frisar que o filme
não é contra a Revolução. O episódio verídico aconteceu em 1789, mas, no filme,
a história se passa no final do século XVIII, após a Revolução Haitiana iniciada
em 1791. A Revolução Haitiana é mencionada no filme. O objetivo dessa mudança
temporal seria mostrar como as revoluções se expandem e estimulam outros povos
e regiões.
Outro exemplo de
sintonia com a Revolução seria a cena final, quando o escravo Sebastián corre
em um local que parece a Serra Maestra.
Essas e outras análises
sobre o filme podem ser aprofundadas em trabalhos de Leonardo Ayres Furtado e
de Mariana Martins Villaça, dentre outros disponíveis na internet.
O filme pode ser
assistido no link <http://www.youtube.com/watch?v=zEPYju-0l9o>.
Prof. Paulo Renato da Silva.