Na peça O Santo Inquérito (1966), o dramaturgo Dias Gomes representou o autoritarismo da ditadura militar através de uma narrativa sobre a Inquisição. No trecho a seguir, o dramaturgo denuncia a presunção de culpa, a distorção de palavras e atos e a tortura características do período – e de outros também.
“BRANCA: Padre, lembre-se de que eu mergulhei uma vez no rio para salvá-lo. Foi também o Diabo quem me empurrou?
PADRE: Já não sei se foi realmente para salvar-me...
BRANCA: Como, padre?!
(…).
PADRE (Chegando ao máximo da exacerbação.): Se não estava possuída pelo Demônio, por que aproveitou-se do meu desmaio para beijar-me na boca?!
(…).
BRANCA: Fiz isso para que não sufocasse, para que não morresse!
PADRE (Grita.): Cínica! Foi esse o pretexto que Satanás arranjou para o seu pecado!” (GOMES, Dias. O Santo Inquérito. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. p. 82).
Prof. Paulo Renato da Silva.