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Mostrando postagens de junho, 2017

Utopias e distopias: histórias do futuro

Pensamos, na última postagem, na construção de narrativas sobre o passado realizadas por historiadores. Na postagem de hoje voltaremos nossa atenção para narrativas sobre o futuro: utopias (a imaginação de um futuro melhor) e distopias (o vislumbre de um futuro pior para a humanidade), presentes na literatura e em obras diversas de ficção científica, como filmes, séries e livros. O que nossas histórias sobre o futuro revelam sobre nosso presente? Como pensar essas obras enquanto documentos históricos, testemunhos de seus contextos de produção? O teórico e crítico cultural britânico Raymond Williams (1921-1988) pensou a relação entre a literatura utópica/distópica e a ficção científica no texto “Utopia e ficção científica” (publicado originalmente em 1979). Williams, teórico marxista e um dos pioneiros dos Estudos Culturais , acreditava ser possível distinguir quatro tipos básicos de ficção utópica/distópica: (a) o paraíso , no qual uma vida mais feliz é descrita como simplesment

Historiadores, contadores de histórias: história, narrativa e o Prêmio Nobel de Literatura

Quanto do trabalho dos historiadores consiste em “contar histórias”? Isto é, qual o papel da narrativa na escrita da história? Essa questão provocou intensos debates ao longo das últimas décadas entre historiadores e teóricos da história, sobretudo pela possibilidade de aproximação entre o que faz o historiador e o que fazem romancistas e escritores em geral. Em linhas gerais, a discussão se estabeleceu, no mundo anglo-saxão, em meados do século XX, a respeito do que significa compreender um texto de história. Para alguns filósofos da história (como W. B. Gallie, Arthur Danto e Morton White), compreender uma obra de historiador seria basicamente reconhecer os traços característicos da narrativa que este constrói. Ou seja, para entendermos história teríamos de nos valer das mesmas operações de compreensão que utilizamos para compreender qualquer narrativa ou história que nos é contada, ou que lemos. Entender quem fez o quê , onde e quando , em uma sequência de eventos, cuja lógica

“Maestros de América Latina”

A vida e as ideias de importantes pensadores latino-americanos formam a série de documentários Maestros de América Latina , co-produção do Laboratorio de Medios Audiovisuales da Universidad Pedagógica (UNIPE), Canal Encuentro e Organização de Estados Iberoamericanos para a Cultura e Educação (OEI). A produção, exibida originalmente em 2016 pelo Canal Encuentro, selecionou oito figuras fundamentais do pensamento latino-americano: o venezuelano Simón Rodríguez (1769-1854), o argentino Domingo F. Sarmiento (1811-1888), o cubano José Martí (1853-1895), o mexicano José Vasconcelos (1882-1959), o peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930), a chilena Gabriela Mistral (1889-1957), o uruguaio Jesualdo Sosa (1905-1982) e o brasileiro Paulo Freire (1921-1997). Os “maestros de América Latina” (imagem extraída de http://www.eligeeducar.cl/serie-maestros-america-latina , acesso em 7 de junho de 2017) Reunindo literatos, filósofos e escritores do período das Independências até o século

O presentismo: vivemos em um “presente onipresente”?

Nosso último post discutiu as possibilidades de uma história do tempo presente. Essa discussão evoca, além dos debates mencionados no texto da última semana, um olhar sobre nosso presente. A atenção à história do tempo presente seria um indício do peso que o presente exerce hoje, em detrimento do passado e do futuro, em nossa experiência do tempo? Estaríamos vivendo uma época marcada pelo presentismo ? O presentismo , conceito trabalhado pelo historiador francês François Hartog, remete a um regime de historicidade específico de nosso momento histórico. Regimes de historicidade , por sua vez, são categorias analíticas, instrumentos que o(a) historiador(a) pode utilizar para pensar a experiência de tempo de cada época específica (como destaca Hartog, presentismo é uma hipótese, e regime de historicidade, o instrumento para examiná-la, e ambos “completam-se mutuamente”; HARTOG, 2014, p. 11). Aproximando-se das reflexões do historiador alemão Reinhardt Koselleck, Hartog delineia a pres