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Mostrando postagens de agosto, 2013

Escrita, construção e metodologia.

Continuamos com Georges Duby. No trecho a seguir, Duby fala sobre a escrita, sobre a sua própria escrita, o que não seria uma tarefa simples para os historiadores. A escrita exige planejamento, exige que seja traçado um percurso a ser seguido. Entretanto, esse “mapa” não deve ser seguido à risca, a escrita sempre deve estar aberta aos novos caminhos que a pesquisa pode nos apresentar a qualquer momento. A escrita tampouco pode ignorar as incertezas que nos cercam, pois a pesquisa nunca responde todas as perguntas. Pelo contrário, costuma colocar várias outras em nossa cabeça. Finalmente, como Duby frisa bem, a escrita deve buscar o “calor” das ações humanas que pesquisamos, “calor” este que, evidentemente, não existe mais, daí ser um grande desafio. Duby também aborda um ponto que é bastante debatido e ressalta que o passado é uma construção marcada, dentre outros fatores, pelo presente, pelo historiador que o constrói e pelas lacunas deixadas pelas fontes. Contudo, seria uma con

Orientadores e orientandos e o início de uma pesquisa.

Aproveitando a vinda do prof. Doratioto à UNILA para falar sobre pesquisa e metodologia e a proximidade da monografia para a turma 2011, o blog, a partir de hoje, abordará com mais frequência questões relacionadas à teoria e metodologia da História. No trecho a seguir, Georges Duby (1919-1996), historiador conhecido por seus trabalhos sobre a Idade Média, escreve com precisão – e bom humor – sobre o início de uma pesquisa e sobre a relação entre orientadores e orientandos: “Eu precisava escolher um tema, mas também um orientador. É de praxe. Uma tese deve ser “orientada”, exigência que consta dos próprios regulamentos administrativos. O orientador parecia já ter encontrado: Jean Déniau. Mas Déniau queria facilitar minha carreira, e tratou de se esquivar. Naquela época, com efeito, para ter algum peso, a tese precisava ser defendida na Sorbonne. A chancela parisiense parecia indispensável. Creio que ele me teria encaminhado a Marc Bloch. Mas em 1942 Bloch desaparecera na clandestin

Violência e "cultura de transgressão" na América Latina.

Em   O Desafio Latino-Americano: coesão social e democracia , Bernardo Sorj e Danilo Martuccelli analisam a violência na América Latina. Dentre outras causas, os autores apontam o que chamam de “cultura de transgressão”, ou seja, o descumprimento das leis seria muito comum entre nós. Para os autores, a origem dessa “cultura” estaria no período colonial. “A raiz dessa situação se localiza muitas vezes na herança colonial, a saber, a distância – para não dizer o abismo – entre o país legal e o país real, isto é, entre o que a lei manda e o que a realidade social permite (o famoso “se acata mas não se cumpre” da era colonial).” (2008: 159). Trata-se de um argumento interessante, mas apresenta problemas. Seria a violência, então, um “mal de origem” nosso? Estaríamos “condenados” a conviver com ela? Se essa “cultura de transgressão” remonta ao período colonial, seria realmente possível superá-la? Em outras palavras, essa explicação pode nos levar a uma visão determinista da Históri

"Professor da Unila analisa situação política no Paraguai."

Hoje fazemos uma pausa na nossa série sobre a violência na América Latina para divulgar a entrevista que concedi pela manhã à rádio CBN Foz, sobre os primeiros dias do governo de Horacio Cartes no Paraguai. O link para a entrevista é < http://entrevista.cbnfoz.com.br/entrevistas/editorial/entrevistas/21082013-37208-professor-da-unila-analisa-situacao-politica-no-paraguai >. Os temas da violência e da "criminalização" dos movimentos político-sociais de oposição também foram tocados na entrevista. Prof. Paulo Renato da Silva.

Ainda sobre negros, pobres e “violentos”.

Na postagem anterior destacamos como os setores contrários à abolição dos escravos no Brasil difundiram a imagem dos negros – e dos pobres – como violentos. Mas os abolicionistas também contribuíram para essa imagem. O movimento abolicionista era complexo, heterogêneo e fragmentado. A abolição nem sempre foi defendida por um princípio “humanitário”. Alguns abolicionistas eram contra a escravidão por ser um sistema que se baseava na mão-de-obra de uma “raça” que viam como “inferior” e “violenta”, e que atrapalharia o desenvolvimento do país. Dentre outros pontos, defendiam a abolição para que a mão-de-obra escrava fosse substituída por imigrantes europeus. A imagem a seguir, retirada da Revista Illustrada , ligada ao abolicionismo, indica bem isso. Observem como a mulher e o bebê são associados a canivetes: Revista Illustrada , Rio de Janeiro, n. 281, 1882, ano VII, p. 8. Prof. Paulo Renato da Silva.

Negros, pobres e “violentos”: a construção das “classes perigosas” no Brasil.

Existe a violência e a sensação de insegurança. A forma pejorativa como a sociedade costuma ver determinados sujeitos, grupos e regiões colabora para a sensação de insegurança. Sabemos, por exemplo, qual é a imagem predominante sobre as periferias, principalmente nas grandes cidades. Cabe demonstrar como essas imagens negativas foram construídas historicamente para atender a certos interesses e isentar o Estado e as elites econômicas e políticas de suas responsabilidades. Na segunda metade do século XIX, o Brasil iniciou um processo gradual de abolição dos escravos. Para os setores mais conservadores da sociedade brasileira, contrários à abolição, o negro “livre” representaria um perigo, pois não seria mais “educado” e vigiado pelos seus senhores. Esses setores começaram, então, a estabelecer uma relação estreita entre negros, pobres e violência. Defendiam que a violência era uma característica “natural” dos negros e dos pobres e não um problema social. Portanto, foi uma imagem cons

A violência além da desigualdade e da pobreza.

A desigualdade e a pobreza são constantemente apresentadas como as principais causas da violência na América Latina. Para Beatriz Sarlo, se trata de uma perspectiva adequada, mas incompleta, principalmente quando se pensa no caso argentino, analisado pela autora. Segundo Sarlo, “apenas” a desigualdade e a pobreza, em si, não explicam o crescimento da violência na Argentina, mas a falta de políticas de combate a ambas, o que desencadearia frustração e falta de perspectivas em amplos setores da sociedade. A respeito da Argentina da década de 1990, destaca: “Para quienes forman parte de la masa de desocupados y subocupados, estabilizada en alrededor del veinticinco por ciento (sin seguro de desempleo), la idea de que la sociedad es un espacio donde hombres y mujeres no están inevitablemente destinados a la frustración y al fracaso es débil y remota.” (2002: 59). Já falamos como a violência gera uma crise da imagem do Estado como aquele que garantiria a segurança dos indivíduos. Sarlo

A violência e a representação da morte no cinema.

A violência costuma ser relacionada, sobretudo, a questões sociais e políticas. Mas a violência também está profundamente relacionada a questões culturais e tem implicações nesta área. A seguir, Beatriz Sarlo analisa como a representação da morte mudou no cinema nas últimas décadas: “(...) hace cuarenta años, el duelo a tiros dependía de la velocidad, la puntería, los desplazamientos en el espacio, la astucia y la fortuna de los duelistas; hoy el éxito en un enfrentamiento descansa en la potencia del arma y la decisión de usarla en exceso, más allá de cuanto, según la retórica anterior, se consideraba necesario. Para simplificar las cosas: un tiro era suficiente en cualquier clásico del oeste; varios tiros mataban a un adversario en las películas policiales; sólo una destrucción masiva del cuerpo asegura una muerte eficaz en el cine actual. Más todavía: después de la liquidación del adversario, el cine clásico mostraba un plano fundamental donde el cadáver era tomado desde lejos, co

Sarlo analisa a violência e os meios de comunicação.

As notícias policiais possuem um espaço cada vez maior em muitos países da América Latina. Há jornais, revistas e programas de rádio e de televisão especializados no tema. Beatriz Sarlo faz uma crítica a essa cobertura da violência pelos meios de comunicação: “Comparada con la velocidad de la toma directa documental, la justicia es intolerablemente lenta. Los medios se colocan del lado de las víctimas en el sentido de que ellas, las víctimas, no están interesadas en la construcción de un caso judicial con todas las garantías procesales y probatorias para los presuntos delincuentes, sino que reclaman un castigo directo y sumario. Así lo expresan cuando afirman, ante las cámaras de televisión, que los delincuentes son bestias fuera de todo derecho. Este discurso de las víctimas es comprensible porque sobre el dolor de la pérdida o la humillación de la violencia padecida no se apoya una perspectiva de justicia para todos. Es precisamente desde afuera de ese dolor, y sólo desde afuera

A violência e o mito do Estado hobbesiano.

Hoje o blog inicia uma série sobre a violência na América Latina. Não é preciso explicar muito o porquê: a insegurança pública continua sendo um dos nossos principais problemas, apesar das conquistas sociais importantes que muitos países tiveram nos últimos anos. Inicialmente priorizaremos dois livros, Tiempo Presente de Beatriz Sarlo e O Desafio Latino-Americano de Bernardo Sorj e Danilo Martuccelli. Em uma segunda etapa enfatizaremos a historicidade do que se entende por violência e a construção das chamadas “classes perigosas”. Hoje Beatriz Sarlo analisa como a violência impacta o papel do Estado, o discurso que lhe deu origem: “El otro dato del problema (...) [provocado pela violência] es la atenuación de la idea de pertenencia a una sociedade. Cuando tanto los sectores populares como las capas medias (por razones diferentes y desigualmente fundadas) sienten que el Estado ha dejado de darles la seguridad que, por definición, le toca garantizar, se debilitan los motivos de pe

Reportagem aborda as mulheres do Oriente.

Uma reportagem especial do canal pago Globonews abordou recentemente as mulheres do Oriente. Apesar de curto e superficial em alguns aspectos, a reportagem apresenta um quadro mais complexo do que o habitual, pois nem toda mulher árabe é sinônimo de véu e nem todo véu é sinônimo de conservadorismo e radicalismo. Prof. Paulo Renato da Silva.

Mais de 40 mil visualizações de página!

O blog acaba de ultrapassar a casa das 40 mil visualizações de página! Obrigado a todos por acessá-lo e divulgá-lo e aos blogs e sites que possuem links de acesso ao nosso blog. O Google se consolidou como a principal via de acesso ao blog, o que indica que os acessos não se restringem à comunidade acadêmica da UNILA. Prof. Paulo Renato da Silva.

Novo livro analisa as relações entre o Brasil e o Paraguai.

O professor Francisco Doratioto, da Universidade de Brasília (UnB), é conhecido por seus trabalhos sobre a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870). Porém, em seu mais novo livro, Doratioto analisa as relações entre o Brasil e o Paraguai entre 1889 e 1954. O livro Relações Brasil-Paraguai: afastamento, tensões e reaproximação (1889-1954) pode ser baixado gratuitamente no site da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), no link < http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/Relacoes_Brasil_Paraguai.pdf >. O professor Doratioto estará conosco em setembro na Feira do Livro de Foz do Iguaçu. Fiquem atentos à programação! Prof. Paulo Renato da Silva.