Pular para o conteúdo principal

A violência e o mito do Estado hobbesiano.

Hoje o blog inicia uma série sobre a violência na América Latina. Não é preciso explicar muito o porquê: a insegurança pública continua sendo um dos nossos principais problemas, apesar das conquistas sociais importantes que muitos países tiveram nos últimos anos. Inicialmente priorizaremos dois livros, Tiempo Presente de Beatriz Sarlo e O Desafio Latino-Americano de Bernardo Sorj e Danilo Martuccelli. Em uma segunda etapa enfatizaremos a historicidade do que se entende por violência e a construção das chamadas “classes perigosas”.
Hoje Beatriz Sarlo analisa como a violência impacta o papel do Estado, o discurso que lhe deu origem:
“El otro dato del problema (...) [provocado pela violência] es la atenuación de la idea de pertenencia a una sociedade. Cuando tanto los sectores populares como las capas medias (por razones diferentes y desigualmente fundadas) sienten que el Estado ha dejado de darles la seguridad que, por definición, le toca garantizar, se debilitan los motivos de pertenencia que, en la tradición filosófico-política y sus narraciones fundadoras, sustentan el contrato de producción de lo estatal. En la narración hobbesiana, los hombres entregan una parte de su soberanía, precisamente para evitar la guerra de todos contra todos. El príncipe garantiza la paz; en esa garantía y en la entrega contractual que la hace posible, los hombres evitan la guerra de todos contra todos, la desconfianza extrema que origina violencia, y pueden vivir como miembros de un cuerpo social.
La violencia urbana da la idea, e impulsa la experiencia, de que el Estado no puede garantizar esa paz entre los miembros de la sociedad. La circulación y venta clandestina de armamento, la debilidad o la corrupción de las fuerzas policiales, el desorden de la represión cuando actúa excediéndose, son factores del naufragio sufrido por una sociedad que llega a sentir que el Estado ya no la sostiene. No se necesita ser filósofo de la política, para experimentar la idea de que el contrato originario (que como toda narración subsiste como mito) está fisurado y que el Estado, pese a los reclamos y pese a las intenciones de los gobernantes, no está en condiciones de hacer aquello para lo cual fue instituido.” (SARLO, 2002: 55-56).
Referências bibliográficas:
SARLO, Beatriz. Tiempo Presente: notas sobre el cambio de una cultura. Buenos Aires: Siglo XXI, 2002.
Prof. Paulo Renato da Silva.

Postagens mais visitadas deste blog

A perspectiva na pintura renascentista.

Outra característica da pintura renascentista é o aprimoramento da perspectiva. Vejamos como a Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais se refere ao tema: “Técnica de representação do espaço tridimensional numa superfície plana, de modo que a imagem obtida se aproxime daquela que se apresenta à visão. Na história da arte, o termo é empregado de modo geral para designar os mais variados tipos de representação da profundidade espacial. Os desenvolvimentos da ótica acompanham a Antigüidade e a Idade Média, ainda que eles não se apliquem, nesses contextos, à representação artística. É no   renascimento   que a pesquisa científica da visão dá lugar a uma ciência da representação, alterando de modo radical o desenho, a pintura e a arquitetura. As conquistas da geometria e da ótica ensinam a projetar objetos em profundidade pela convergência de linhas aparentemente paralelas em um único ponto de fuga. A perspectiva, matematicamente fundamentada, desenvolve-se na Itália dos sécu...

"Operários", de Tarsila do Amaral: diversidade e unidade dos trabalhadores.

Há um amplo debate sobre a formação do movimento operário e os elementos que interferem em sua constituição. Um quadro da brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973), Operários , de 1933, de certa forma sintetiza esse debate. No quadro, a pintora representa a diversidade - sobretudo étnica e de gênero, para usarmos conceitos atuais - que caracterizava os trabalhadores da indústria brasileira do período. Se por um lado notamos a diversidade dos trabalhadores, por outro a pintora também indica elementos em comum. Os rostos sobrepostos representariam a “massificação” dos trabalhadores. A expressão de "cansaço" da maioria dos rostos indicaria esse processo. Prof. Paulo Renato da Silva.