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Mostrando postagens de maio, 2014

O fim da ditadura.

Os anos que antecederam ao fim da ditadura Duvalierista foram marcados pelo crescimento do descontentamento de diversos grupos opositores. A burguesia, insatisfeita com a crise econômica, com a ineficácia política e com as vantagens de todos os tipos oferecidas ao clã Bennett – em virtude de sua ligação com Baby Doc –, não conseguiu organizar-se através de uma liderança forte. O esvaziamento ideológico de partidos e sindicatos por Franções Duvalier deixou uma ausência de lideranças entre os burgueses. O mesmo se passava com a pequena burguesia urbana. Engrossavam o grupo de opositores, mas sem uma liderança específica. Nesta conjuntura, o clero católico do Haiti terá grande papel no processo que levaria ao fim a ditadura. As atividades desenvolvidas pelo clero, com base no Concílio Vaticano II, correspondiam as aspirações populares: igualdade, justiça social, etc. A visita do papa João Paulo II ao Haiti em 1983 contribuiu para este despertar do clero, que passou a organizar os prote

O governo de Baby Doc.

“Mi padre hizo la revolución política, yo haré la revolución económica”. [1] Esta frase teria sido dita por Jean Claude Duvalier quando assumiu o governo em 1971, após a morte de François Duvalier. A mesma constituição que garantia a “presidência para a vida” permitia ao presidente escolher seu sucessor. Todavia, os fatos que marcaram definitivamente o “reinado” do jovem e inexperiente Duvalier II foi o crescimento da dívida externa, os déficits comerciais e a alta taxa de desemprego. A despeito da ajuda financeira– que vinha sobretudo dos Estados Unidos, e de organizações internacionais – a pretendida “revolução econômica” de Baby Doc não resultou em nenhum desenvolvimento para o país, pelo contrário, acentuou sua pobreza e dependência externa, caracterizando o Haiti como o país mais pobre das Américas ao fim do seu governo. Apesar disto, industrias estadunidenses instalavam-se no país após o anúncio de Nelson Rockefeller de que o país seguia um curso democrático. The country

Do massacre à reconciliação.

Um episódio representativo dos conflitos étnicos-raciais existentes na história do Haiti, e particularmente, para a ditadura Duvalierista foi o Massacre des Mulattos ou Massacre des Vêpres jérémiennes (Massacre dos Mulatos ou das Vésperas jérémiennes). Este massacre ocorreu na cidade de Jeremie, em agosto de 1964. Cerca de 28 pessoas pertencentes a elite mulata desta cidade foram executados sob as ordens de François Duvalier. O termo vésperas faz referência aos passeios dominicais dados pelas elites que disfrutavam de uma melhor condição econômica. Como vimos nas postagens anteriores, o opositor do médico negro François Duvalier em 1957 foi Louis Déjoie, um rico proprietário de terras mulato. A vitória de Duvalier significou a ascensão dos negros no poder, da revalorização do vodu (a partir de um uso político) – entendido como prática autêntica dos haitianos negros desde os tempos coloniais – e da instituição de uma guarda composta exclusivamente por negros. Os mulatos, descen

A ilha anti-comunista.

As relações exteriores durante a ditadura foram complicadas, mas ajudam a compreender o fato de manter-se no poder sem intromissões exteriores. Havia muitas acusações de corrupção no governo haitiano em contraste com a pobreza que se alastrava-se por todo a ilha mesmo com a ajuda financeira internacional. Ainda assim, Papa Doc era um figura-chave no Caribe para os EUA, dado sua posição anti-comunista em um momento que a Revolução Cubana triunfava (1959) e com ela o comunismo: El gobierno de Duvalier I se convertiría, a partir de los acontecimientos revolucionarios en Cuba, en un bastión defensivo de los intereses estadounidenses en el Caribe y su respaldo se mantuvo constante en los círculos de poder de Washington, tanto en los gobiernos republicanos como en los demócratas, cuestión que explica su grado de perdurabilidad en el poder pese a las amenazas internas y externas que se tejían contra su gobierno. Los diferentes gobiernos de los Estados Unidos que se sucedieron en el poder

As Mulheres na Ditadura Duvalierista.

Papa Doc ao criar a sua própria milícia, considerou as mulheres. Existiu efetivamente um ramo feminino dos Tontons Macoutes . As Fillettes Laleau foram comandadas por Madame Max Adolphe. Rosalie Bosquet (1925-?), mais conhecida por Madame Max Adolphe, conquistou a confiança de Papa Doc depois que este sofreu um atentado. Foi promovida a Chefe Suprema das Fillettes Laleau e comandou durante algum tempo os interrogatórios em Fort Dimanche. Perdeu influência durante o governo de Jean Claude Duvalier. Seu paradeiro após o fim da ditadura é desconhecido. Sobre ela pairam denúncias de sua atuação em Fort Dimanche onde teria cometido inclusive violência sexual contra os prisioneiros. Madame Max Adolphe é tida como uma espécie de braço direito de Papa Doc ao lado de Luc Desyr, chefe dos Tontons Macoutes . Madame Max Adolphe (à esquerda). Disponível: http://www.fksa.org/gallery3/Florida/Admin-File/album530/album578/album606/Madame_Max_Adolphe_warden_of_the_death_dungeon_Fort_Dimanche

Baron Samedi e os Tontons Macoutes.

Notre Doc qui êtes au Palais national pour la vie, que votre nom soit béni par les générations présentes et futures, que votre volonté soit faite à Port-au-Prince et en province. Donnez-nous aujourd'hui notre nouvel Haïti, ne pardonnez jamais les offenses des apatrides qui bavent chaque jour sur notre pays [1] Esta é uma “oração” propagada pelo governo de Papa Doc. Assim como outros ditadores latino-americanos do século XX, François Duvalier também desenvolveu um culto a sua personalidade através do vodu, utilizando-o “ como instrumento de reencarnación y  reverenciacion   del  varón Samedi, Dios de la muerte y de los cementerios Vudús .” [2] Usufruindo das tradições religiosas do povo, apresentou-se como uma espécie de Grande Sacerdote do Vodu, reafirmando assim os valores autênticos da população negra, em contraponto com a elite mulata cristianizada/ocidentalizada. O clero católico fez parte do grupo de perseguidos pela ditadura: Pápa Doc aplicó una política de mano f

A dinastia Duvalier: “monarca sin monarquía”.

François Duvalier nasceu em 1907, pertencente à família negra sem grandes recursos. Cresceu em um momento em que o Haiti esteve sob ocupação militar dos Estados Unidos, período em que estudou medicina na Universidade do Haiti (onde se formou em 1934) e ainda na Universidade de Michigan (EUA) – por um curto período de tempo, para especializar-se em doenças tropicais. Em 1937, passou a fazer parte de uma campanha promovida pelo governo estadunidense para conter epidemias que grassavam o Haiti. Durante sua atuação em áreas interioranas e montanhosas do país, recebeu da população atendida o apelido de “Papa Doc” (Papa de papai e Doc de doutor, em francês). Em 1946 foi nomeado diretor-geral do Serviço Nacional de Saúde Pública pelo presidente Dumarsais Estimé e em 1949 Ministro da Saúde e do Trabalho. Em 1950, a elite mulata e o exército organizaram um golpe contra Estimé. Sem uma saída, Dumarsais Estimé assinou sua demissão e partiu para o exílio. Duvalier manteve-se afastado dos assunt

Ditadura no Haiti (1957-1986).

Em algumas postagens irei tratar de alguns aspectos da ditadura duvalierista de forma panorâmica. Esta ditadura foi comanda ao longo de três décadas por François Duvalier e Jean Claude Duvalier, respectivamente pai e filho e mais conhecidos pelos apelidos de Papa Doc e Baby Doc. Entre 1915 e 1934 o Haiti esteve sob ocupação estadunidense e depois destes anos temos o período “democrático”, que é quando presidentes alternam-se no governo. Em 1957, um médico que atuava no interior montanhoso do país foi eleito presidente. Era o início do regime Duvalierista. Disponível em: < http://kreyolicious.com/wp-content/uploads/2012/01/duvalier-simone-ovide.jpg >. Acesso em: 12 mai. 2014. O médico François Duvalier e sua esposa Simone Ovide, chamada de Mama Doc e que era enfermeira. Samuel Cassiano - estudante do Curso de História - América Latina, da UNILA.

Série Especial Haiti.

O Haiti entrou na "pauta do dia" do Brasil e de outros países latino-americanos devido à imigração de milhares de haitianos em busca de emprego e de melhores condições de vida. A imigração se intensificou após o forte terremoto de 2010, que devastou parte do país. A partir de hoje conheceremos um pouco mais sobre a história do Haiti. O estudante Samuel Cassiano, do Curso de História - América Latina, da UNILA, vai nos apresentar alguns aspectos importantes da ditadura que marcou o país entre 1957 e 1986. Enquanto durar essa série sobre o Haiti, teremos postagens diárias, não percam e nos ajudem a divulgar! Prof. Paulo Renato da Silva.

Feinmann fala sobre a Guerra da Tríplice Aliança.

Para continuarmos com o tema da guerra, divulgamos aqui uma pequena aula, uma síntese do confronto dada pelo filósofo argentino José Pablo Feinmann. Feinmann apresenta a versão liberal, dada pelos vencedores da Tríplice Aliança e apresenta a tese revisionista, que questiona a versão liberal. O filósofo propõe, ainda, uma explicação intermediária entre as duas explicações tradicionais: Prof. Paulo Renato da Silva.

“La Devolución de los Trofeos de Guerra”, de Liliana M. Brezzo.

O presidente argentino Juan Domingo Perón (1946-1955 e 1973-1974) e o ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989). Como dissemos há algumas postagens, a Guerra da Tríplice Aliança é um dos grandes temas deste ano, pois chegamos ao 150º aniversário do início do confronto. Um novo livro discute as relações entre o Paraguai e a Argentina após o confronto: La Devolución de los Trofeos de Guerra , da historiadora argentina Liliana M. Brezzo. A autora mostra como a memória da guerra marcou as relações entre os dois países, os esforços para superar as divergências e as disputas políticas provocadas pela (re)aproximação. Uma parte importante do livro pode ser consultada no Portal Guaraní, em < http://www.portalguarani.com/1269_liliana_m_brezzo/22079_la_devolucion_de_los_trofeos_de_guerra_2014__por_liliana_brezzo.html >. Prof. Paulo Renato da Silva.

"Varre, varre, vassourinha...": a campanha de Jânio Quadros.

Um dos “jingles” mais famosos das campanhas para presidente do Brasil é o que usou Jânio Quadros nas eleições de 1960: “Varre, varre, vassourinha...”, composto por Maugeri Neto. Jânio prometia “limpar” o Brasil, daí o apelido de “vassourinha”: Varre, varre,varre vassourinha! Varre, varre a bandalheira! Que o  povo  já 'tá cansado De  sofrer  dessa maneira Jânio Quadros é a  esperança  desse povo abandonado! Jânio Quadros é a certeza de um  Brasil ,  moralizado ! Alerta, meu irmão! Vassoura , conterrâneo! Vamos  vencer  com  Jânio ! Jânio venceu as eleições, mas renunciou nove meses depois. Jânio foi apoiado pela conservadora União Democrática Nacional (UDN), mas, no plano externo, procurou desenvolver uma política externa independente, não necessariamente alinhada e exclusiva com os Estados Unidos. Chegou a condecorar Ernesto Che Guevara. Foi insustentável conciliar essa política externa com o apoio que tinha recebido da UDN. Seu curto governo também fo