François Duvalier nasceu
em 1907, pertencente à família negra sem grandes recursos. Cresceu em um
momento em que o Haiti esteve sob ocupação militar dos Estados Unidos, período
em que estudou medicina na Universidade do Haiti (onde se formou em 1934) e
ainda na Universidade de Michigan (EUA) – por um curto período de tempo, para
especializar-se em doenças tropicais. Em 1937, passou a fazer parte de uma campanha
promovida pelo governo estadunidense para conter epidemias que grassavam o
Haiti. Durante sua atuação em áreas interioranas e montanhosas do país, recebeu
da população atendida o apelido de “Papa Doc” (Papa de papai e Doc de doutor,
em francês).
Em 1946 foi nomeado diretor-geral
do Serviço Nacional de Saúde Pública pelo presidente Dumarsais Estimé e em 1949
Ministro da Saúde e do Trabalho. Em 1950, a elite mulata e o exército
organizaram um golpe contra Estimé. Sem uma saída, Dumarsais Estimé assinou sua
demissão e partiu para o exílio. Duvalier manteve-se afastado dos assuntos
políticos até 1956, quando a renúncia do general Paul Magloire (que governara
desde 1950) abriu espaço para vários governantes provisórios – em um espaço de
tempo muito curto – até a consolidação de eleições presidenciais. Nestas
eleições, e recebendo apoio dos militares, François Duvalier foi eleito
presidente, vencendo seu opositor Louis Déjoie, proprietário de terras e
mulato. Duvalier impediu um golpe em 1958 pretendido pelos próprios militares,
e numa série de reformas na constituição, declarou-se em 1964 (após “consultar”
a população através de um referendo) presidente vitalício:
Article 99 – le citoyen Docteur François
DUVALIER, Chef Suprême de la Nation Haitienne ayant provoque pour la première
fois depuis 1804 une prise de conscience nationale à travers un chagement
radical au point de vue politique, économique, social, culturel et religieux en
Haiti, élu Président à Vi ele 14 juin
1964 afin d’assurer les conquêtes et la permanence de la Révolution
Duvaliériste, sous l’étendard de l’Unité Nationale.[1]
O título deste texto faz referência à fala de Gerard
Pierre-Charles: “por cuanto el régimen de "sucesión dinástica"
(monarca sin monarquía) equivale a un exabrupto, más parecido a las sociedades
de estructura feudal que a una nación de finales del siglo XX.”[2]
Veremos na próxima
postagem que desde o seu início, a ditadura Duvalierista apoiou-se na
manipulação do vodu e na criação de uma milícia responsável por perseguir os
que se opunham ao regime, criando as raízes necessárias para sua consolidação.
Samuel Cassiano - estudante do Curso de História - América Latina, da UNILA.
Samuel Cassiano - estudante do Curso de História - América Latina, da UNILA.
[1] Constitution de la République d’Haiti 1964. Presses Nationales d’Haiti, 1971.
Disponível em: https://archive.org/details/constitutiondela07hait Acesso:
09/01/2014. Os grifos são nossos.
[2] Haití: la procesión va por dentro. NUEVA SOCIEDAD NRO. 41 MARZO-ABRIL 1979, PP. 129-134. Disponível em: http://www.nuso.org/upload/articulos/553_1.pdf Acesso: 13 de dezembro de 2013.
Samuel Cassiano - estudante do Curso de História - América Latina, da UNILA.