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Mostrando postagens de julho, 2016

A história na era digital - parte IV

Apresentamos hoje a última parte de nossa entrevista com Pedro Telles da Silveira (UFRGS), que nos proporcionou um diálogo muito rico a respeito da prática da história na era digital. A entrevista completa, com tradução para o espanhol, será disponibilizada posteriormente em link aqui no blog. Pedro Afonso Cristovão dos Santos: Em termos de ensino e pesquisa, que considerações metodológicas você julga necessário incorporar aos cursos de história, para situar melhor os estudantes nessa nova realidade de arquivos digitais? Pedro Telles da Silveira: O chamado “letramento digital” me parece ser proveitoso para os estudantes de história atuais e futuros. Trata-se de um conhecimento ainda restrito à curiosidade intelectual e profissional dos estudantes, e não de saberes que foram incorporados institucionalmente às grades curriculares dos cursos de história. Creio que algumas noções básicas de programação deveriam fazer parte já do currículo escolar, afinal trata-se de uma linguagem

A história na era digital - parte III

Apresentamos hoje a terceira parte de nossa entrevista com  Pedro Telles da Silveira (UFRGS), continuando nossa conversa sobre a história na Era Digital: Que registros a era digital deixará para os historiadores do futuro? Podemos pensar que as práticas historiográficas atravessarão transformações ainda maiores nas próximas décadas?               Creio que exercícios de futurologia aplicados à tecnologia correm sempre o risco de fracassarem. Me parece que um dos desafios é fazer uma reflexão que não se torne inválida pelo próprio avanço tecnológico. Nesse sentido, é preciso que o tempo da técnica e o tempo da reflexão não coincidam; simultaneamente, porém, é necessário pensar cada vez mais rápido para dar conta dos novos fenômenos históricos – sociais, políticos, culturais – que têm nas tecnologias digitais uma de suas condições de existência. E o historiador ou a historiadora são chamados a intervir em debates públicos cada vez mais significativos, como estamos vendo hoje com

A história na era digital - parte II

Continuamos hoje nossa entrevista com Pedro Telles da Silveira (UFRGS), pensando a história na Era Digital: Em sua trajetória acadêmica, você estudou, entre outros temas, as concepções de erudição histórica nas academias do século XVIII (SILVEIRA, 2016), bem como o antiquariato, participando inclusive da tradução de um importante texto de Arnaldo Momigliano sobre o tema (MOMIGLIANO, 2014) – ou seja, trabalhos que remetem à forma como os historiadores praticavam e pensavam seu ofício. É possível dimensionar, numa perspectiva de longo prazo, o quanto as novas tecnologias de armazenamento e acesso à informação alteraram (ou alterarão) a forma como os historiadores veem o próprio ofício? Os historiadores serão “programadores”, como sugeriu outrora Ladurie?               Creio que toda história daqui para frente será “digital” simplesmente porque a situação em que vivemos o é. Isso também revela a instabilidade ou a imprecisão de termos como história ou historiografia digital. Os t

A história na era digital - parte 1

Começamos a apresentar hoje no blog uma entrevista que nos levará a pensar um tema de grande interesse atualmente, especialmente importante para nós que produzimos e difundimos história pela internet: as mudanças que a era digital trouxe para o trabalho dos historiadores. Nosso entrevistado é Pedro Telles da Silveira, atualmente doutorando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que possui mestrado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Sua dissertação, sob orientação do professor Fernando Nicolazzi, intitulada O cego e o coxo: historiografia, erudição e retórica no Brasil do século XVIII , foi publicada em livro em 2016, pela FAP-UNIFESP de São Paulo. Após dedicar-se a estudos voltados à erudição histórica, Pedro Telles da Silveira têm se debruçado sobre questões relativas à história digital . O impacto de novas formas de arquivo digital e suas implicações para noções fundamentais para os historiadores, como documento, evidência e acontecimento, têm

Yoga en la historia (Parte II)

Los procesos iniciales de internacionalización del Yoga (la globalización del Yoga, expresión preferida por algunos investigadores) son generalmente atribuidos a Swami Vivekananda, reformador hindú muy conocido en Occidente por su participación en el Parlamento de las Religiones del Mundo, en Chicago, en el año de 1893. A lo largo del siglo XIX, periodo de consolidación de la dominación británica del subcontinente indiano, los yoguis y sus prácticas fueron criticados por británicos y por hindúes que buscaban reformar la propia sociedad apropiándose de concepciones europeas de organización social. En este sentido, Vivekananda divulgó durante su estadía en Occidente el Raja Yoga (o Yoga Real), con énfasis en aspectos meditativos/espirituales, manteniendo en segundo plano las prácticas físicas (las posturas) del Yoga, consideradas imágenes del ´´atraso´´ y de la ´´superstición´´ hindúes. Sin embargo, en el mismo periodo, los indianos también sufrieron influencias del movimiento internac

Ioga na história (Parte II)

Os processos iniciais de internacionalização do ioga (ou globalização do ioga, expressão preferida por alguns pesquisadores) são geralmente atribuídos a Swami Vivekananda, reformador hindu que ficou bastante conhecido no Ocidente após sua participação no Parlamento das Religiões do Mundo, em Chicago, no ano de 1893. Ao longo do século XIX, período de consolidação da dominação britânica do subcontinente indiano, os iogues e suas práticas foram criticados por britânicos e por hindus que buscavam reformar a própria sociedade apropriando-se de concepções europeias de organização social. Neste sentido, Vivekananda divulgou em sua estadia no Ocidente o Raja Yoga (ou Ioga Real), com ênfase em aspectos meditativos/espirituais, colocando em segundo plano as práticas físicas (as posturas) do ioga, consideradas imagens do “atraso” e da “superstição” hindus. No entanto, no mesmo período, os indianos também sofreram influência do movimento internacional de cultivo do corpo e, nas décadas iniciais

Yoga en la historia (Parte I)

El 21 de junio fue declarado el Día Internacional del Yoga por la Organización de las Naciones Unidas, en 2004. Pocas personas hoy en día cuestionan el carácter internacional del Yoga. Pero ¿cuántos de nosotros nos ponemos a pensar sobre la historia del Yoga y sobre el modo como se convirtió en una práctica presente en diversos lugares del mundo? Los orígenes surasiáticos del Yoga son más fácilmente reconocidos que los del budismo. El enlace de esta práctica con la religión o la espiritualidad, sin embargo, no es tan evidente. ¿Yoga es una práctica espiritual/religiosa?  ¿Es gimnástica?  ¿Es filosofía? La respuesta para todas estas preguntas es sí. Y, para comprender cómo, en el siglo XXI, tantos sentidos pueden ser atribuidos a una única palabra, es importante que pensemos en el carácter transcultural de esta práctica. Esto quiere decir que el Yoga viajó a través del tiempo y del espacio y fue modificado/adaptado/apropiado en diferentes destinos, por diversos sujetos (de origen i

Ioga na história (Parte I)

O dia 21 de junho foi declarado o Dia Internacional do Ioga pela Organização das Nações Unidas, em 2014. Poucas pessoas hoje questionariam o caráter internacional do Ioga. Mas quantos de nós pensamos sobre a história do ioga e sobre o modo como se tornou uma prática presente em diversos lugares do mundo? As origens sul-asiáticas do ioga são mais facilmente reconhecidas que as do budismo. A ligação desta prática com a religião ou a espiritualidade, entretanto, não é tão evidente. Ioga é uma prática espiritual/religiosa? É ginástica? É filosofia? A resposta para todas estas perguntas é sim. E, para compreender, como, no século XXI, tantos sentidos podem ser atribuídos a uma única palavra, é importante pensarmos o caráter transcultural desta prática. Isto quer dizer que o ioga viajou através do tempo e do espaço e foi modificado/adaptado/apropriado em diferentes destinos, por sujeitos diversos (de origem indiana ou não), inseridos em culturas variadas. As origens da prática são atr

El budismo en la Triple Frontera (parte II)

De vuelta al Templo Budista de Foz do Iguazu, podemos pensar sobre como varias tradiciones religiosas viajaron, a lo largo de la historia y por áreas diversas, como el desplazamiento de sus practicantes, por ejemplo. En el caso específico del budismo, monjes y laicos budistas recorrieron rutas de comercio (como la ruta de la seda) y establecieron caminos propios de diseminación de la doctrina del Buda, que los llevaron al Este Asiático. En el primer siglo de la Era Común, llegaron a China estudiosos budistas de origen indiano. Llevaron consigo narrativas sobre la vida del Iluminado, bien como sus enseñanzas, que fueron traducidas y diseminadas por el territorio chino. De allí la religión fue llevada a Corea (siglo IV) y al Japón (siglo VI). La difusión del budismo por el Tibet fue favorecida por traducciones de textos clásicos de la religión al tibetano por un monje indiano (siglo VIII) (MISHRA, P. Um fim para o sofrimento .O Buda no mundo. Rio de Janeiro: Record, 2011, p. 69-70).

O budismo na Tríplice Fronteira (Parte II)

De volta ao Templo Budista de Foz do Iguaçu, podemos pensar sobre como várias tradições religiosas viajaram, ao longo da história e por áreas geográficas diversas, com o deslocamento de seus praticantes, por exemplo. No caso específico do budismo, monges e leigos budistas percorreram rotas de comércio (como a rota da seda) e estabeleceram caminhos próprios de disseminação da doutrina do Buda, que os levaram ao Leste Asiático. No primeiro século da Era Comum , chegaram à China estudiosos budistas de origem indiana. Levavam consigo narrativas sobre a vida do Iluminado, bem como seus ensinamentos, que foram traduzidos e disseminados pelo território chinês. Dali, a religião foi levada à Coreia (século IV) e ao Japão (século VI). A difusão do budismo pelo Tibete foi favorecida por traduções de textos clássicos da religião ao tibetano por um monge indiano (século VIII) (MISHRA, P. Um fim para o sofrimento . O Buda no mundo. Rio de Janeiro: Record, 2011, p. 69-70). Na América Latina, o bu