Os
processos iniciais de internacionalização do ioga (ou globalização do ioga,
expressão preferida por alguns pesquisadores) são geralmente
atribuídos a Swami
Vivekananda, reformador hindu que ficou bastante conhecido no Ocidente após sua
participação no Parlamento das Religiões do Mundo, em Chicago, no ano de 1893. Ao
longo do século XIX, período de consolidação da dominação britânica do
subcontinente indiano, os iogues e suas práticas foram criticados por
britânicos e por hindus que buscavam reformar a própria sociedade
apropriando-se de concepções europeias de organização social. Neste sentido,
Vivekananda divulgou em sua estadia no Ocidente o Raja Yoga (ou Ioga Real), com ênfase em aspectos
meditativos/espirituais, colocando em segundo plano as práticas físicas (as
posturas) do ioga, consideradas imagens do “atraso” e da “superstição” hindus.
No entanto, no mesmo período, os indianos também sofreram influência do
movimento internacional de cultivo do corpo e, nas décadas iniciais do século
XX, exercícios de ioga foram objeto de investigação científica sistemática e de
validação por acadêmicos indianos que procuravam “comprovar” a sabedoria
ancestral hindu. Nos anos 1940, o ioga que se praticava e ensinava na Índia
havia incorporado vários elementos desta tradição de cultivo do corpo. Este
também foi o período em que a distinção entre uma prática secularizada (voltada
para a saúde e a educação física) e outra espiritual (em que prática corporal e
espiritual são concebidas como indissociáveis) começa a ser traçada (HAUSER,
2013).
É
interessante observar como diferentes visões do ioga foram difundidas a partir
do subcontinente indiano por grupos e indivíduos de origem ocidental que por
ali circularam, por líderes espirituais indianos que emigraram/viajaram para o
Ocidente, por praticantes e admiradores da educação física (indianos ou não)
que transitaram entre a Europa, os Estados Unidos e o subcontinente indiano –
para citar apenas alguns exemplos. No Brasil, o ioga teria sido introduzido na
década de 1950 por um francês que cresceu na Argentina, viveu no Uruguai e se
radicou no Brasil (Rio de Janeiro e Paraná): Leo Alvarez Costet de Mascheville
(Sevananda Swami) (SANCHES e GNERRE,
2015). A partir dos anos 1960 e do
advento da contracultura, a circulação mundial de práticas, ideias e objetos relacionados
ao ioga se intensificou, o que implicou também a multiplicação de estilos de
prática e de sentidos atribuídos a tais estilos.
Os processos de difusão do ioga pelo mundo e
pela América Latina são complexos e multifacetados e não poderiam ser
analisados em profundidade nesta postagem. Apresentamos uma breve introdução,
indicamos referências bibliográficas ao final do texto e comentamos sucintamente
um estilo de ioga específico: Kundalini Yoga como Ensinado por Yogi Bhajan. No
mês de junho, estudantes e convidad@s da disciplina História das Religiões Sul-Asiáticas,
do curso de História da UNILA, fizeram uma aula de Kundalini Yoga, e
conversaram com o professor Rodrigo Cupelli sobre a prática e a história deste
estilo. Yogi Bhajan, um indiano originário do Panjab, chegou aos Estados Unidos
no final da década de 1960 e ali sistematizou e difundiu técnicas físicas de
ioga associadas à espiritualidade sique. O siquismo é uma religião do Norte do
subcontinente indiano, surgida no século XV. Na América Latina, Kundalini Yoga
é praticado em vários países, com destaque para México, Chile, Argentina e
Brasil.
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Foto: Mirian Oliveira |
Referências:
ELIADE, M. Historia de las creencias y
las ideas religiosas. Volumen I. De la edad de piedra a los misterios de
Eleusis. Barcelona: Paidós Ibérica, 1999. ELIADE, M. Historia de las creencias y las ideas religiosas. Volumen II. De
Gautama Buda al triunfo del cristianismo. Barcelona: Paidós Ibérica, 1999. HAUSER,
B. Introduction: Transcultural Yoga(s). Analyzing a Traveling Subject. HAUSER, B. (Ed.) Yoga Traveling. Bodily practic in
transcultural perspective. Springer: London, 2013. SANCHES, R. L.; GNERRE, M.
L. A. As representações de Sevananda como pioneiro no campo do Yoga brasileiro. Cultura Oriental, v. 2, n.1, p. 59-70, jan-jun.2015, p. 59-70.
Profa. Mirian Santos Ribeiro de Oliveira