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Do massacre à reconciliação.

Um episódio representativo dos conflitos étnicos-raciais existentes na história do Haiti, e particularmente, para a ditadura Duvalierista foi o Massacre des Mulattos ou Massacre des Vêpres jérémiennes (Massacre dos Mulatos ou das Vésperas jérémiennes).
Este massacre ocorreu na cidade de Jeremie, em agosto de 1964. Cerca de 28 pessoas pertencentes a elite mulata desta cidade foram executados sob as ordens de François Duvalier. O termo vésperas faz referência aos passeios dominicais dados pelas elites que disfrutavam de uma melhor condição econômica.
Como vimos nas postagens anteriores, o opositor do médico negro François Duvalier em 1957 foi Louis Déjoie, um rico proprietário de terras mulato. A vitória de Duvalier significou a ascensão dos negros no poder, da revalorização do vodu (a partir de um uso político) – entendido como prática autêntica dos haitianos negros desde os tempos coloniais – e da instituição de uma guarda composta exclusivamente por negros.
Os mulatos, descendentes quase sempre dos colonos brancos franceses da época colonial, se voltavam para o que entendiam como “civilizado”. Em sua maioria eram católicos e falavam francês, diferentemente do resto do país, praticante do vodu e falantes de créole.
Madame Sanette Balmir, uma das fillettes laleau, foi uma das responsáveis pelo massacre destas famílias. Entre as vítimas estavam “une octogénaire paralysée et un bébé de deux ans”[1]
Infelizmente, na História do Haiti, é comum estes massacres. O que torna este episódio significativo é o fato de representar bem as tensões étnico-raciais em torno do poder político. Em um segundo momento, a ditadura Duvalierista iria aliar-se com uma família mulata, representando uma “reconciliação”.[2]


Casamento de Jean Claude Duvalier, o Baby Doc, e Michelle Bennett, em Porto Príncipe, 1980. Disponível em: http://hcvanalysis.files.wordpress.com/2011/01/haitibabydocprincess.jpg Acesso: 22/05/2014.

Michelle era filha de Ernest Bennett e Aurore Ligonde – parente de François Ligonde o arcebispo de Porto Príncipe nomeado por François Duvalier. A “reconciliação” não funcionou. Apenas o clã Bennett aumentou ainda mais seu patrimônio financeiro. Ernest Bennett faleceu na Flórida, Estados Unidos, em 2008.[3]

Samuel Cassiano - estudante do Curso de História - América Latina, da UNILA.


[1] LEMOINE, Patrick. Fort-Dimanche, Fort-La-muerte. (p.21)
[2] CASTOR, Suzy. Haití: de la ruptura a la transición. NUEVA SOCIEDAD NRO. 82 MARZO-ABRIL 1986, (p.57).
[3] Décès d’Ernst Bennett, ex-beau-père de Jean-Claude Duvalier. Disponível em: http://radiokiskeya.com/spip.php?breve1725 Acesso: 22/05/2014.

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