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A América Latina (e o Brasil)

(http://lahistoriadeldia.files.wordpress.com/2010/03/america-latina.png)


“Nosso destino é nos unificarmos com todos os latino-americanos por nossa oposição comum ao mesmo antagonista, que é a América anglo-saxônica, para fundarmos, tal como ocorre na comunidade europeia, a Nação Latino-Americana sonhada por Bolívar. Hoje, somos 500 milhões, amanhã seremos 1 bilhão. Vale dizer, um contingente humano com magnitude suficiente para encarnar a latinidade em face dos blocos chineses, eslavos, árabes e neobritânicos na humanidade futura.” (p. 454. O povo brasileiro - A formação e o sentido do Brasil, Darcy Ribeiro)

A Nação Latino-Americana sonhada por Bolívar certamente não incluía o Brasil. Desde a Carta da Jamaica de 1815 o Brasil fora excluído do projeto de Bolívar. Enquanto os reis de Espanha haviam sido aprisionados na França por Napoleão I e as colônias espanholas sustentavam lutas pela independência, o Brasil recebera a família real portuguesa (esperta, embarcou para o Brasil na hora certa) e desse modo convertera-se em sede da Corte.
A presença da família real no Brasil significou a integridade territorial da colônia e chamou a atenção das grandes potências (principalmente os ingleses). O Brasil não foi mencionado na Carta da Jamaica. O sonho de Bolívar (a Nação Latino-Americana) não previa o Brasil. As diferenças se acentuaram ainda mais com a constituição de um Império na luso-américa aos moldes europeus (inclusive com a coroação de um príncipe europeu – se bem que, mais brasileiro do que europeu).
Ao longo do século XIX foram realizados vários congressos que tencionavam promover a união dos países latino-americanos (o primeiro deles fora realizado em 1826, no Panamá). O Império brasileiro procurou não ficar de fora desses congressos, embora não dessa tanta importância a eles¹. Também os próprios países latino-americanos acabaram por fecharem-se uns aos outros e ainda digladiaram-se em conflitos por territórios ou riquezas.
No século XX as tentativas de aproximação da América Latina lograram algum êxito. ALAC (Associação Latino Americana de Livre Comércio) e ALADI (Associação Latino Americana de Integração) contribuiriam para a posterior formação de blocos econômicos (como o MERCOSUL). Caminharíamos para uma integração – mas ainda permanecem desconfianças por parte de alguns países em relação a outros países. O Brasil é visto por muitos de seus vizinhos como um país imperialista. (Gostaria de deixar destacado que essa é uma visão de alguns acadêmicos da UNILA – estrangeiros principalmente – que veem a Universidade de Integração Latino Americana como um projeto imperialista da parte do Brasil). É certo que tentativas de integração puramente político-econômica contribuem para uma visão de imperialismo por parte de um país mais forte sobre outro. A integração cultural também esteve de certa forma incluída na agenda política no passado² (e hoje sua importância é indiscutível no processo de integração).  A UNILA surge para contribuir através da promoção do intercâmbio do conhecimento.
A integração abrangerá a todos os povos latino-americanos (aqueles que se identificam por um passado comum de opressão e imposição por partes das potências) ou a construção da Nação Latino-Americana excluíra algum povo em virtude de sua diferença linguística, política, cultural? E uma pergunta pertinente que fica: somos todos latino-americanos?


1. O Brasil entre a América e a Europa. Luís Cláudio Villafañe G. Santos.
     2. A Diplomacia cultural entre Brasil e Argentina: uma crítica a tradicional rivalidade buscando estratégias de cooperação regional. Raquel Paz dos Santos.


     Samuel José Cassiano- 1°. Turma de História-UNILA

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