No Brasil, segundo dados do site da Fundação Nacional do Índio (www.funai.gov.br), existem, atualmente, cerca de 220 povos indígenas diferentes. No passado, esse número era superior, pois muitos foram extintos durante o processo de contato com os conquistadores. Muitos integrantes desses povos foram mortos por pistoleiros, sofreram com doenças epidêmicas e outros deixaram de falar suas línguas.
No Estado do Tocantins habitam alguns povos indígenas: os Apinajé, os Javaé, os Karajá, os Krahô, os Xerente, entre outros. É importante ressaltar que estes povos têm suas diferenças socioculturais, visto que muitas pessoas não se atentam para essas diferenças.
Os Xerente habitam sua reserva, que está localizada no município de Tocantínia. Segundo dados da dissertação de mestrado do antropólogo Luís Roberto de Paula (2000), esta reserva tem 183.200 hectares . Falante da língua Akwẽ, que pertence à família linguística Jê, pertencente ao tronco Macro-Jê, este povo possui aspectos socioculturais que o distingue tanto da sociedade não-indígena quanto de outros povos indígenas, embora apresente semelhanças culturais com os Xavante (que localizam-se no Estado do Mato Grosso). Na documentação dos séculos XVIII e XIX não há distinção entre Xerente e Xavante, às vezes os dois povos são confundidos. Para alguns pesquisadores (Farias, Lopes da Silva, Ravagnani) são dois povos com semelhanças culturais e que pertencem ao mesmo ramo linguístico: a língua Akwẽ. Sendo o Xavante uma variante dessa língua, assim como o Xerente.
Este povo, em sua organização social, está dividido em duas metades exogâmicas (Doi e Wahirê), ou seja, os membros de uma metade não podem casar entre si, devendo procurar matrimônios na outra metade. Está dividido também em seis clãs patrilineares ligados às duas metades. Sendo Kuzâ, Kbazi e Krito pertencentes à metade Doi e Krozake, Krẽprehi e Wahirê pertencentes à metade Wahirê. Essa divisão se manifesta, por exemplo, nos dois partidos que participam da corrida de tora (Htamhã e Stêromkwa). A pintura corporal distingue as pessoas pertencentes a cada clã, ou seja, cada clã tem sua pintura específica, assim como cada partido da corrida de tora.
Os Xerente fazem artesanato de capim dourado para auxiliar na sustentação familiar, uma vez que a caça, a pesca e as roças de vazante à beira do Rio Tocantins ficaram prejudicadas depois da construção da usina hidrelétrica de Lajeado, que os impactou diretamente. Nas aldeias, a língua predominantemente falada é a Akwẽ, sendo a língua portuguesa falada apenas com pessoas que não têm domínio da língua Akwẽ.
Em relação à história, é importante citar pesquisadores (Jack Goody, Edmund Leach) que consideram que cada povo tem suas histórias/historicidades e suas formas particulares de transmiti-las. Dessa forma, os Xerente transmitem de geração para geração suas histórias e seus costumes. Assim, também apresentam suas versões para acontecimentos de um passado mais recente como, por exemplo, os conflitos decorrentes do processo de demarcação de sua reserva, na segunda metade do século XX. A respeito desse processo de demarcação é possível dizer que, para os “brancos” da região, os Xerente ficaram com muita terra. Enquanto que, para os Xerente, a reserva é pequena, visto que no passado eles viviam com mais liberdade, podendo habitar grandes extensões de terra que compreendiam toda região central do atual Estado do Tocantins.
Portanto, apesar dos mais de 250 anos de contato com a sociedade envolvente e a incorporação de alguns aspectos culturais dessa sociedade, os Xerente preservam sua cultura e sua identidade.
José Sousa Silva é acadêmico de História da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus de Porto Nacional, e bolsista do CNPq.