Desde pequena a doce Marjane tinha muitos questionamentos sobre a vida. Sonhara ser profetiza porque não se conformava com muitas injustiças que percebia na sociedade e queria de alguma forma contribuir para melhorá-la. Em suas noites, enquanto criança, gostava de meditar na cama antes de dormir. Faltava entender muitas coisas e, quando seus pais ou o tio, que também lhe contava histórias junto à cama, não lhes tirava todas as dúvidas, esperava ansiosa a visita Daquele que com sabedoria viria lhe esclarecer muito dos seus questionamentos: talvez só a resposta proveniente de um ser sobrenatural pudesse nessas horas confortar o incômodo causado pela dúvida, vivia em um país onde não se podia falar muitas coisas.
Mas o tempo passou e os dias, juntamente com todos os acontecimentos no seu país, se encarregaram de mudar muitas coisas na sua forma de pensar e agir. Apesar da queda da monarquia dos Xás e a implantação da república, o novo governo e sua forma de governar não trouxeram importantes mudanças ao Irã. Inconformada com tudo que vivenciava seu país, a guerra com o Iraque, a forma extremada dos governantes que os obrigavam seguir à risca os preceitos do Alcorão e o medo de expressar sua opinião a obrigaram a viver exilada na Áustria. Triste, longe dos pais e da avó, Marjane vive dividida entre duas vidas turbulentas: uma que deixara lá, no seu país que passava por difícil situação e a outra que vivia agora. Em continente diferente, vivendo com pessoas de cultura diferente, não sabia muitas vezes como pensar e agir. Quando os olhares preconceituosos, a incompreensão, a solidão e o medo lhe perseguiam só uma coisa lhe confortava: a lembrança da sua família que, lá, no distante país asiático, lhe esperava também inconformada com o seu governo. Eles a amavam e a entendiam, sem perguntar a receberiam de volta assim como ela era.
Essa emocionante animação, Persépolis, baseada na autobiografia da iraniana Marjane Satrapi, que viveu nessa época turbulenta na qual passava seu país no final da década de 1970 e início da de 80, está marcada por vários e importantes significados e alegorias onde o real e o imaginário, o que é objetivo e o subjetivo se misturam em um jogo fantástico e interessante de se ver. Foi importante vê-la neste último sábado na exibição do programa Cinedebate e discutir importantes temas como religião, política de governo de diferentes países e problemas enfrentados por um que vive a dificultosa realidade do exílio (principalmente em casos como o da protagonista que, de cultura oriental, foi viver na Europa). Próximo sábado teremos outra interessante produção. Não percam! Fiquem de olho na programação e venha também participar conosco.
Francisco Leandro de Oliveira – Acadêmico de Letras da UNILA.