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Grandes greves da América Latina: Brasil, Greve Geral de 1917.


No mês de Julho de 1917, em São Paulo, ocorreu uma das maiores mobilizações operárias do Brasil. Através de ideais anarquistas, oriundos dos imigrantes, operários e sindicatos entraram em greve, paralisando a indústria e o comércio. O jornalista Fernando Kitzinger Dannemann publicou um pequeno texto sobre o movimento.  A seguir o texto e, logo abaixo, um documentário sobre a greve.
"[...] o desenvolvimento industrial e urbano proporcionou o surgimento de bairros operários em algumas cidades. Mas além da precariedade das condições de vida que desfrutavam em decorrência dos baixos salários recebidos, os trabalhadores que neles habitavam também cumpriam jornada de trabalho estafante, além de não contarem com qualquer garantia trabalhista, o que tornava o problema ainda mais sério. Em virtude dessa situação começaram a surgir procedimentos e manifestações inspiradas nas idéias socialistas e anarquistas que moviam as reclamações operárias em diversos países do mundo, buscando não só a melhoria nas condições de emprego, mas visando, também, objetivos mais amplos, como a derrubada do sistema capitalista e a implantação de uma sociedade mais igualitária. Acompanhando esse exemplo, ocorreram manifestações e greves em vários estados brasileiros, notadamente em São Paulo, onde se concentrava o maior número de indústrias.
Em 1907, trabalhadores da construção civil, da indústria de alimentos e metalúrgicos, reivindicaram a jornada de oito horas diárias de trabalho, paralisando a cidade de São Paulo com uma greve que se estendeu a outras cidades paulistas, como Santos, Ribeirão Preto e Campinas. Mais à frente, em julho de 1917, os operários de duas fábricas têxteis de São Paulo iniciaram um movimento paredista que se espalhou rapidamente e paralisou a cidade, pois contou com a adesão imediata dos trabalhadores do serviço público. Cerca de 50.000 pessoas aderiram a essa manifestação, considerada pelos patrões não como uma questão social e política, mas como caso de polícia. Um exemplo disso foi o grande aparato militar que se formou, em 1918, no Rio de Janeiro, com revistas nos passageiros dos bondes e em todos os operários e populares que transitavam pelas ruas. O Palácio do Catete, sede do Governo Federal, foi cercado por tropas, e a imprensa da época tratava as agitações como anarquistas.
Everardo Dias, em 'História das Lutas Sociais no Brasil', relata dessa forma os acontecimentos: 'São Paulo é uma cidade morta: sua população está alarmada, os rostos denotam apreensão e pânico, porque tudo está fechado, sem o menor movimento. Pelas ruas, afora alguns transeuntes apressados, só circulavam veículos militares, requisitados pela Cia. Antártica e demais indústrias, com tropas armadas de fuzis e metralhadoras. Há ordem de atirar para quem fique parado na rua. Nos bairros fabris do Brás, Moóca, Barra Funda, Lapa, sucederam-se tiroteios com grupos de populares; em certas ruas já começaram fazer barricadas com pedras, madeiras velhas, carroças viradas. A polícia não se atreve a passar por lá, porque dos telhados e cantos partem tiros certeiros. Os jornais saem cheios de notícias sem comentários quase, mas o que se sabe é sumamente grave, prenunciando dramáticos acontecimentos'.
Relatando os acontecimentos, a imprensa divulgava que 'Em 1917, São Paulo parou. Sindicatos anarquistas lideraram uma paralisação contra os baixos salários e por melhores condições de trabalho. O salário médio de um operário era em torno de 100 mil réis. O consumo básico de uma família (homem, mulher e dois filhos) chegava a 207 mil réis. O governo deu ordem de abrir fogo em quem ficasse parado na rua. Operários e polícia entraram em conflitos violentos. Em 11 de julho, morreu o sapateiro Antônio Martinez. O movimento grevista se radicalizou e atingiu toda a cidade. Bairros operários tornaram-se fortalezas de resistência, e barricadas se espalharam pelos bairros da Lapa, Brás, Mooca, Barra Funda e outros. O governo suspendeu a repressão, e iniciaram-se as negociações. A greve foi suspensa após empresários concordarem em dar 20% de aumento salarial, a liberação de grevistas presos e a suspensão de demissões'.” (Disponível em:  <http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=541675>. Acesso em: 2 jun. 2012).


Paulo Alves Pereira Júnior é acadêmico do curso de História da UNILA.
Professores em greve!

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