Resumidamente, para o marxismo, a história é marcada pela luta de
classes. Na passagem a seguir, Hobsbawm, marxista, assinala que o debate sobre
as classes é bem mais complexo do que pode parecer:
“A história das classes e grupos sociais claramente se desenvolveu a
partir da premissa comum de que nenhum entendimento da sociedade é possível sem
uma compreensão dos principais componentes de todas as sociedades não mais
fundadas primordialmente no parentesco. (...).
(...).
(...). Em certo sentido, [classe] é um fenômeno geral de toda história pós-tribal,
em outro, é um produto da moderna sociedade burguesa. Em um sentindo, quase um
constructo analítico para dar sentido a fenômenos de outro modo inexplicáveis;
em outro, um grupo de pessoas de fato consideradas como pertencentes em
conjunto à consciência de seu próprio grupo ou a de algum outro, ou a de ambos.
(...).
Além disso, existem gradações de classe. Para empregar a expressão de
Theodore Shanin, o campesinato de O 18
Brumário de Marx é uma “classe de baixa classidade”, ao passo que o
proletariado de Marx é uma classe de muito alta, talvez máxima, “classidade”. Existem
os problemas da homogeneidade ou heterogeneidade de classes; ou, o que pode ser
quase a mesma coisa, de sua definição em relação a outros grupos e suas divisões
internas e estratificações. (...).
(...). (...) classe não define um grupo de pessoas em isolamento, mas um
sistema de relações, tanto verticais quanto horizontais. Assim, é uma relação
de diferença (ou semelhança) e de distância, mas também uma relação qualitativamente
diferente de função social, de exploração, de dominação/sujeição. A pesquisa
sobre classe deve portanto envolver o resto da sociedade da qual ela é parte. Donos
de escravos não podem ser entendidos sem os escravos, e sem os setores não
escravistas da sociedade. (...). Portanto, os estudos sobre classes, a menos
que se limitem a um aspecto deliberadamente restrito e parcial, são análises da
sociedade.” (HOBSBAWM, Eric. Da
história social à história da sociedade. Sobre História. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 97-99).
Prof. Paulo Renato da Silva.