Outro tema presente na obra de
Hobsbawm é o engajamento político do historiador. Sinteticamente, para Hobsbawm,
é possível ser um historiador engajado, militante, e produzir uma História crítica,
inclusive com a(s) “ideologia(s)” nas quais acreditamos. Entretanto, isso não
era consenso entre os seus críticos, como apareceu em entrevista dada à Folha de São Paulo em 2009:
“Em seu novo livro
("Reappraisals"), o historiador britânico Tony Judt escreveu um
ensaio sobre o senhor ("Eric Hobsbawm and the Romance of Communism").
Neste, mostra admiração por seu conhecimento, mas faz uma severa crítica:
"para fazer o bem no novo século, nós devemos começar dizendo a verdade
sobre o antigo. Hobsbawm se recusa a mirar o demônio na cara e chamá-lo pelo
nome". Como o sr. responderia a seu colega?
A crítica de Judt não se justifica. O que ele quer é que eu
diga que estava errado. Em "A Era dos Extremos", eu encaro o
problema, o critico e condeno. Não tenho problemas em dizer que a Revolução
Russa causou dor e sofrimento à população russa. Porém, o esforço
revolucionário foi algo heroico. Uma tentativa de melhorar a sociedade como não
se viu mais na história. Me recuso a dizer que perdi a esperança.
O sr. havia dito, numa
entrevista ao "Independent", que havia alguns clubes dos quais não
iria ser sócio nunca, referindo-se aos intelectuais ex-comunistas. Ainda pensa
assim?
Não vejo
problema quando um intelectual, especialmente de países do Leste Europeu,
percebe que a democracia é melhor do que o sistema autoritário em que vivia. É
normal a mudança de posição quando surgem fatos novos. O ex-comunista que
condeno é aquele que antes militava em grupos de esquerda e que hoje tem uma
bandeira única, a de ser anticomunista apenas, esquecendo-se do resto das
ideias pelas quais lutava. Também me entristece ver intelectuais jovens, que
não passaram pela história dessas lutas, repetindo e tentando tirar benefício
desse mesmo tipo de propaganda.” (Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1161979-leia-a-ultima-entrevista-do-historiador-eric-hobsbawm-a-folha.shtml>.
Acesso em: 5 out. 2012).
Prof. Paulo
Renato da Silva.