Na postagem anterior, vimos
como a crítica e instituições como os museus determinam o que seria e o que não
seria arte. Entretanto, não há consenso. Existem diferentes olhares sobre o que
é considerado arte. Algumas obras seriam “melhores” do que outras. Além disso,
os olhares variam no decorrer do tempo e de acordo com a cultura de uma
sociedade:
The Ancient of Days (1794) de William Blake (1757-1827).
“A crítica [de arte] (...) tem
o poder não só de atribuir o estatuto de arte a um objeto, mas de o classificar
numa ordem de excelências (...). Existe mesmo uma noção em nossa cultura, que
designa a posição máxima de uma obra de arte (...): o conceito de obra-prima.
(...).
Temos que nos desenganar, no
entanto. (...) quando se trata de obras mais polêmicas, (...) as disputas
mantêm-se acerbas (qual é o interesse de Gounod ou Massenet? Grande, dizem os
anglo-saxões; nenhum, respondem os franceses; Le Brun pode ser um artista
admirável ou apenas gerar tédio; Blake um doido ou um iluminado genial) (...).
Sem dúvida, Cézanne é tido hoje
em dia como um dos maiores nomes da pintura de todos os tempos. Porém, não
podemos esquecer que o reconhecimento do seu valor foi tardio: (...) e esse
também foi o caso de Van Gogh, de Gauguin e dos impressionistas – pintores de
uma época em que havia justamente um conflito entre os critérios estabelecidos
e a obra que eles produziam. Poderíamos pensar que somos hoje mais aptos a
perceber o valor deles, que nossa sensibilidade é mais aberta a Van Gogh e a
Cézanne que a do público de seu tempo, e teríamos razão. Seria entretanto
abusivo acreditar que o nosso juízo de hoje determina o reconhecimento
definitivo de Cézanne e Van Gogh. A crítica, amanhã, poderá nos mostrar que
estávamos enganados, e que o interesse dessa pintura, afinal de contas, não era
assim tão grande.
(...).
Com estes exemplos, colhidos um
pouco ao acaso, já podemos chegar a uma constatação (...): a autoridade
institucional do discurso competente é forte, mas inconstante e contraditória,
e não nos permite segurança no interior do universo das artes.” (COLI, Jorge. O que é Arte. 15 ed. São Paulo:
Brasiliense, 1995. p. 14-22).
Prof.
Paulo Renato da Silva.