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O retrato e o auto-retrato no Renascimento.


Vimos que, no Renascimento, ainda não havia um conceito de identidade/individualidade estabelecido como o que temos atualmente. Entretanto, destacamos que o conceito começava a se estabelecer, por exemplo, entre os artistas, como mostra La Fornarina, na qual o pintor Rafael escreveu seu nome.
Outro exemplo do estabelecimento gradual do conceito de identidade/individualidade é a proliferação de retratos e auto-retratos durante o Renascimento. Por vezes, essa proliferação é apresentada como um modo de a burguesia dar um status para si naquela sociedade ainda dominada por nobres. Trata-se de uma explicação pertinente, mas incompleta, pois muitos nobres e, dentre eles, muitos clérigos também encomendaram retratos. Ou seja, não se trata de um processo restrito a uma classe – para usarmos o conceito marxista –, mas referente às transformações culturais do período.
Além de indicar o estabelecimento gradual do conceito de identidade/individualidade que conhecemos atualmente, a proliferação dos retratos e auto-retratos demonstra a preocupação dos artistas em retratar o mundo ao seu redor, ao contrário do idealismo característico da pintura religiosa.
 
Os retratos de Battista Sforza e de Federico de Montefeltro (1472), feitos por Piero della Francesca (1420-1492), estão entre os mais conhecidos do Renascimento. Costumava-se retratar de perfil, como os imperadores romanos, outro exemplo de imitação dos clássicos. Gradualmente, porém, como mostra a pintura a seguir, os retratados passaram a ser representados "de frente".
"O célebre quadro de Ghirlandaio, o Velho e o Menino, do Louvre, mostra um igual interesse pela fidelidade. O pintor soube opor a delicadeza dos traços do neto ao grave rosto e, sobretudo, ao nariz cheio de verrugas do avô. No entanto, este tem uma expressão benevolente e não amedronta a criança." (DELUMEAU, 2004, p. 83).
Acrescento que, ao fundo, as paisagens representadas pelos dois pintores também indicam o "realismo" buscado por muitos artistas renascentistas.
Referências bibliográficas:
DELUMEAU, Jean. A Civilização do Renascimento. Lisboa: Edições 70, 2004.
Prof. Paulo Renato da Silva.

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