Pular para o conteúdo principal

O recorte temporal.

O recorte temporal é fundamental para a pesquisa em História. Afinal, segundo a definição clássica de Mar Bloch, a História é a ciência “dos homens, no tempo” [grifo meu]. (BLOCH, 2001, p. 55).
Não é fácil delimitar o recorte temporal. A delimitação exige muito conhecimento sobre o tema a ser pesquisado, pois apenas assim detectamos questões e períodos menos estudados e onde residem as principais dúvidas e “contradições” da historiografia. A disponibilidade de fontes também é um elemento que incide sobre a delimitação do recorte. Temas e períodos marcados por menor disponibilidade de fontes geralmente resultam em recortes temporais mais amplos para que seja possível apreender as rupturas e permanências que nós historiadores sempre buscamos. Raramente encontramos, por exemplo, um estudo sobre a “Antiguidade” ou sobre a “Idade Média” restrito a dois ou três anos. Ou seja, a delimitação do recorte temporal depende da formulação de um problema a ser investigado e da existência de condições que viabilizem o desenvolvimento do trabalho.
O recorte temporal tampouco é um elemento neutro na pesquisa. Ao analisarmos a historiografia devemos estar atentos aos recortes temporais escolhidos pelos autores que usamos. Pesquisas podem ignorar determinados períodos para legitimar governos e movimentos políticos, evitar questões polêmicas e ou isentar determinados sujeitos, grupos ou instituições de casos embaraçosos.
Referências bibliográficas:
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
Prof. Paulo Renato da Silva.

Postagens mais visitadas deste blog

"Progresso Americano" (1872), de John Gast.

Progresso Americano (1872), de John Gast, é uma alegoria do “Destino Manifesto”. A obra representa bem o papel que parte da sociedade norte-americana acredita ter no mundo, o de levar a “democracia” e o “progresso” para outros povos, o que foi e ainda é usado para justificar interferências e invasões dos Estados Unidos em outros países. Na pintura, existe um contraste entre “luz” e “sombra”. A “luz” é representada por elementos como o telégrafo, a navegação, o trem, o comércio, a agricultura e a propriedade privada (como indica a pequena cerca em torno da plantação, no canto inferior direito). A “sombra”, por sua vez, é relacionada aos indígenas e animais selvagens. O quadro “se movimenta” da direita para a esquerda do observador, uma clara referência à “Marcha para o Oeste” que marcou os Estados Unidos no século XIX. Prof. Paulo Renato da Silva. Professores em greve!

A "Primavera dos Povos" na Era do Capital: historiografia e imagens das revoluções de 1848

  Segundo a leitura de Eric J. Hobsbawm em A Era do Capital , a Primavera dos Povos foi uma série de eventos gerados por movimentos revolucionários (liberais; nacionalista e socialistas) que eclodiram quase que simultaneamente pela Europa no ano de 1848, possuindo em comum um estilo e sentimento marcados por uma atmosfera romântico-utópica influenciada pela Revolução Francesa (1789). No início de 1848 a ideia de que revolução social estava por acontecer era iminente entre uma parcela dos pensadores contemporâneos e pode-se dizer que a velocidade das trocas de informações impulsionou o processo revolucionário na Europa, pois nunca houvera antes uma revolução que tivesse se espalhado de modo tão rápido e amplo. Com a monarquia francesa derrubada pela insurreição e a república proclamada no dia 24 de fevereiro, a revolução europeia foi iniciada. Por volta de 2 de março, a revolução havia chegado ao sudoeste alemão; em 6 de março a Bavária, 11 de março Berlim, 13 de março Viena, ...