Na postagem do dia 31/08, escrevemos que, para Geoges Duby, o passado seria uma construção, mas não uma invenção.
Outros historiadores, porém, enfatizam a História enquanto discurso, desvinculado – totalmente? – das experiências vividas. Essa visão está particularmente presente entre os “pós-modernistas”. Resumidamente, para os pós-modernistas, o trabalho do historiador não estaria focado no passado propriamente dito, mas nos processos que produziram os discursos sobre o passado. Vejamos o que nos diz Keith Jenkins sobre isso:
“No nível da teoria, gostaria de apresentar dois argumentos. O primeiro (que esboço neste parágrafo e desenvolvo em seguida) é que a história constitui um dentre uma série de discursos a respeito do mundo. Embora esses discursos não criem o mundo (aquela coisa física na qual aparentemente vivemos), eles se apropriam do mundo e lhe dão todos os significados que têm. O pedacinho de mundo que é o objeto (pretendido) de investigação da história é o passado. A história como discurso está, portanto, numa categoria diferente daquela sobre a qual discursa. Ou seja, passado e história são coisas diferentes. Ademais, o passado e a história não estão unidos um ao outro de tal maneira que se possa ter uma, e apenas uma leitura histórica do passado. O passado e a história existem livres um do outro; estão muito distantes entre si no tempo e no espaço. Isso porque o mesmo objeto de investigação pode ser interpretado diferentemente por diferentes práticas discursivas (uma paisagem pode ser lida/interpretada diferentemente por geógrafos, sociólogos, historiadores, artistas, economistas et al.), ao mesmo tempo que, em cada uma dessas práticas, há diferentes leituras interpretativas no tempo e no espaço. No que diz respeito à história, a historiografia mostra isso muito bem.
(…).
(…). Não quero dizer com isso que nós simplesmente inventamos histórias sobre o mundo ou sobre o passado (ou seja, que travamos conhecimento do mundo ou do passado e então inventamos narrativas sobre ele), mas sim que a afirmação é muito mais forte: que o mundo ou o passado sempre nos chegam como narrativas e que não podemos sair dessas narrativas para verificar se correspondem ao mundo ou ao passado reais, pois elas constituem a “realidade”. (…).
(…).
(…). (…) ao reconhecermos que não sabemos realmente, ao vermos a história como sendo (pela lógica) qualquer coisa que queiramos que ela seja (…), nós vamos colocar a questão de como histórias específicas vieram a ser elaboradas segundo um e não outro molde, em termos não só epistemológicos, mas também metodológicos e ideológicos. Nesse ponto, o que é possível saber e como é possível saber interagem com o poder.” (JENKINS, 2001: 23-31).
Referências bibliográficas:JENKINS, Keith. A História Repensada. São Paulo: Contexto, 2001.
Prof. Paulo Renato da Silva.