Amanhã faz 15 anos
que o Brasil parou diante da televisão para acompanhar o sequestro do ônibus
174 na cidade do Rio de Janeiro. O sequestro teve um desfecho trágico, com a
morte do sequestrador e de uma das reféns. O episódio foi tratado no
documentário Ônibus 174 (2002), de
José Padilha.
Por um lado, o
documentário se concentra em recuperar a história de vida do sequestrador,
Sandro do Nascimento. Menino pobre, de pai desconhecido, Sandro presenciou o
assassinato da mãe. Tornou-se menino de rua, se envolveu com drogas, praticou
pequenos crimes e viveu um cotidiano marcado pela violência e pela repressão
policial. Assim, o documentário nos alerta para as causas sociais da violência
no Brasil/na América Latina.
Mas, por outro lado, o
documentário também nos traz elementos importantes para detectar como as representações
culturais interferem nos processos históricos. O medo e o preconceito parecem
ter impedido que a polícia e a população enxergassem importantes gestos de
Sandro, como a liberação de um estudante e de outros reféns. Enxergaram um criminoso e não um criminalizado pela sociedade. O próprio Sandro parece ter usado o
medo que sentiam dele para tentar conseguir o que queria, principalmente daqueles
que estavam do lado de fora do ônibus, e chegou a simular que tinha atirado em
uma das reféns. Do lado de fora, o medo e o preconceito parecem ter impedido
que alguém cogitasse a hipótese da simulação. Para a maioria parecia haver uma
única solução: a morte de Sandro.
Enfim, o documentário,
um dos melhores produzidos no e sobre o Brasil, coloca um grande desafio para
nós historiadores. A versão a seguir tem legendas em espanhol:
Prof. Paulo Renato da
Silva.