Em janeiro de 2016, turistas
apressados caminhavam pelas ruas centrais de Santiago, capital do Chile. Eu fazia
parte de um grupo que percorria, a pé, as principais atrações turísticas do
centro da cidade. Na Plaza de Armas, ouvimos do guia, um brasileiro que falava
muito bem o espanhol, que a história de Santiago se iniciou com a conquista
espanhola e que a praça é um dos principais cenários deste importante evento
histórico. Algumas pessoas do grupo fizeram perguntas sobre o entorno, sobre
características da Plaza. E me assombrei por não ouvir uma única indagação
sobre os habitantes originários do território. Bem, os mapuche apareceram na
narrativa do guia um pouco adiante, quando parou diante de um monumento que
remete ao sofrimento deste povo, em luta constante contra a opressão (dos
conquistadores espanhóis, dos criollos e dos próprios chilenos). Caminhamos um
pouco mais, entramos na rua Compañía
e nos detivemos alguns momentos perto do Museo
Chileno de Arte Precolombino. Agora sim, os habitantes originários da terra
foram mencionados. A coleção do museu foi elogiada e uma visita fortemente
recomendada. O tour seguiu, levando-nos a outras direções do centro da capital
chilena. Mas permaneci incomodada, durante todo o passeio, com a mensagem
transmitida pelo guia: a história do Chile (e, por derivação) da América
Latina, teria começado com a conquista europeia.
Poucos dias depois, visitei o
Museu Chileno de Arte Pré-Colombina. Lembrei-me do tour e tive a esperança de que
alguns de meus companheiros de caminhada turística houvessem seguido a
recomendação de conhecer seu acervo. Estava aqui uma oportunidade de conhecer
outra versão da história da região que hoje chamamos de América Latina. O museu
foi inaugurado em 1981. A coleção pessoal de Sergio Larraín García-Moreno (1905-1999),
um arquiteto chileno admirador, conhecedor e colecionador de peças de arte criadas
por povos originários de nosso subcontinente, formou as exposições permanentes
do museu. A riqueza, complexidade e sofisticação das peças reunidas e das
narrativas que contam sobre o passado americano desafiam as perspectivas
eurocentradas sobre nossa história. Um relato interessante sobre a formação do
Museu pode ser visto neste vídeo:
Los comienzos del Museo
O edifício que abriga a
instituição também tem uma história interessante. Em meados da década de 1980,
enquanto se preparava uma reforma do prédio, arqueólogos encontraram vestígios
de, pelo menos, três ocupações anteriores daquele terreno: a Corregedoria de
Santiago, no século 16; um convento jesuíta, no século 17; o Palácio da Aduana,
no século 19. Também foram identificados artefatos indígenas e espanhóis que
não apenas reforçam a memória da presença ancestral indígena no território hoje
ocupado por Santiago. As tecnologias híbridas de construção de ferramentas e do
próprio edifício lembram, ainda, as trocas culturais, marcadas por relações
desiguais de poder, entre os povos originários e os conquistadores espanhóis. Um pouco mais sobre a história do prédio do
Museu:
El edificio del Museo
O website do Museu Chileno de
Arte Pré-Colombina merece ser visitado: http://www.precolombino.cl/
Ali podem ser vistas algumas peças do acervo, bem como podem ser encontradas
informações sobre as atividades da instituição, publicações e catálogos de
exposição disponíveis para download e materiais educativos.
Profa. Mirian Santos Ribeiro de
Oliveira