Pular para o conteúdo principal

Pedagogia da Autonomia: uma reflexão a respeito da contribuição de Paulo Freire nesse momento de formação


O ano é 2018. Trato mais especificamente do último ano do curso e tudo gira em torno dos últimos preparativos para a sua conclusão. Engana-se quem pensa que o sentimento é de euforia e de plenitude. Há algumas pendências a serem resolvidas, principalmente tratando da motivação para o exercício de lecionar.
A desmotivação com a profissão provocada pelas recentes medidas do governo, tanto na questão do sucateamento de investimentos, como na desvalorização dos professores, são fatores que pesam e nos fazem refletir sobre a escolha. Entretanto, ao mesmo tempo que as forças desmotivadoras agem, outros personagens entram em campo, fazendo-nos repensar e mostrando-nos a importância de – ainda – acreditar e lutar pela educação. Falo especificamente de Paulo Freire e de seu livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


Como o nome do livro já adianta, ele faz uma abordagem a respeito da base de conhecimento necessário para a atuação do profissional da educação, saberes esses que ele julga essenciais. Sua abordagem pedagógica nos dá alguns parâmetros e nos apresenta reflexões importantíssimas a respeito da postura e da coerência que se exige de quem pretende ser um educador.
O professor, de modo geral, costuma se blindar de críticas e sugestões quando está ministrando sua aula, age como se estivesse em um pedestal. Isso, de modo algum, é saudável na prática educativa. Um dos principais fatores da relação professor-aluno é a humildade, é mostrar-se também sujeito no processo educacional, não como um depositador de saberes, mas sim como quem também aprende no exercício de ensinar.

É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (FREIRE, 1996, p. 24)

Freire propõe um ensino diferente do tradicional, aliás, ele diz que a condição atual da educação (que vale para hoje em dia também) não favorece a aprendizagem, pois a aprendizagem só ocorre de forma dialética entre os sujeitos envolvidos nela. A aprendizagem só ocorre efetivamente quando é significativa pra quem aprende e pra quem ensina, quando envolve sentimentos e quando a curiosidade ingênua transforma-se em epistemológica através da mediação do professor.

É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual o sujeito criador dá forma, estilo ou alma ao um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

Ler Paulo Freire, de modo geral, é um exercício de provação da ética. É acreditar num mundo melhor transformado pela educação. É um exercício pedagógico de alimentar a esperança e concretamente um guia para a coerência entre discurso e prática. Paulo Freire nos mostra a grandeza de nossa profissão, lê-lo é tomar um gole de autoestima.
Foi a leitura certa no momento certo. É entender-se como ator de transformação no mundo, visando um futuro menos desigual e entendo a necessidade de sermos éticos em nossas relações interpessoais, necessidade que se deu a partir do momento em que nos fizemos presença no mundo. Como diz Freire, está errada a educação que não reconhece a raiva justa, que não se indigna com as desigualdades e que não promove a transformação. É entender que qualquer discriminação é imoral e que lutar contra ela é um dever.
Não podemos, porém, pensar que a execução desse exercício é fácil. Exige disciplina, coerência, pesquisa e, sobretudo, vontade de mudança. Quem escolhe agir por essa profissão, escolhe agir por todos, mesmo que alguns não a reconheçam como capaz.

Referência:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.



João Victor da Silva Pedrozo

Postagens mais visitadas deste blog

A perspectiva na pintura renascentista.

Outra característica da pintura renascentista é o aprimoramento da perspectiva. Vejamos como a Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais se refere ao tema: “Técnica de representação do espaço tridimensional numa superfície plana, de modo que a imagem obtida se aproxime daquela que se apresenta à visão. Na história da arte, o termo é empregado de modo geral para designar os mais variados tipos de representação da profundidade espacial. Os desenvolvimentos da ótica acompanham a Antigüidade e a Idade Média, ainda que eles não se apliquem, nesses contextos, à representação artística. É no   renascimento   que a pesquisa científica da visão dá lugar a uma ciência da representação, alterando de modo radical o desenho, a pintura e a arquitetura. As conquistas da geometria e da ótica ensinam a projetar objetos em profundidade pela convergência de linhas aparentemente paralelas em um único ponto de fuga. A perspectiva, matematicamente fundamentada, desenvolve-se na Itália dos séculos XV e

Entre Maria e Marianne: A figura feminina como símbolo da República Brasileira.

Nos textos anteriores sobre a formação do imaginário republicano no Brasil, observamos a transformação de um homem em herói nacional e a importância dos símbolos nacionais.Analisaremos a tentativa dos republicanos em implantar a figura feminina no imaginário popular brasileiro. "A aceitação do símbolo na França e sua rejeição no Brasil permitem, mediante a comparação por contraste, esclarecer aspectos das duas sociedades e das duas repúblicas." (CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas – O Imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p.14). A figura feminina já era utilizada na França desde a Revolução Francesa. Antes, a monarquia era representada pela figura masculina do Rei, porém com a proclamação da República essa figura tinha que ser substituída por um novo símbolo, assim começou-se a adotar a imagem da mulher. Na Roma Antiga a figura feminina já era um símbolo de liberdade. Com o avanço da Revolução Francesa, os franceses começar