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A Diversidade Cultural No México: disputas e desafios

 

Nesta postagem do Blog de História da UNILA, pretendemos dissertar um pouco sobre as questões socioculturais e a diversidade sociolinguística do México, dando ênfase às disputas e desafios que cercam estes temas. 

 

A população do México possui cerca de 122 milhões de indivíduos, a segunda maior população da América Latina, atrás apenas do Brasil. 60% de sua população declara-se como mestiço (resultantes da miscigenação de inúmeros povos); 30% declara-se como ameríndio e 9% declara-se como branco. Ao todo, cerca de 75% da população mexicana vive em áreas urbanas localizadas nas regiões planálticas do país.

Segundo o Atlas são falados 55 idiomas originários distintos no território do México, entre eles se destacam pelo número de falantes: o Náhuatl (1,3 milhão); o Maia (759.000); as línguas Mixtecas (423.000); as Zapotecas (411.000); Entre outras como: o Mixteco; Paipai Purépecha; Tének; Triqui; Tojolobal; Tostil e Zapoteco.

A diversidade cultural no México possui uma origem rica e milenar, visto que recebe influências de muitas culturas, desde as pré-colombianas (como os Maias e os Astecas), aos espanhóis que invadiram e colonizaram o território. Atualmente e em virtude da globalização, a cultura mexicana também tem recebido uma crescente influência da cultura norte-americana, que tem se expandido pelo mundo através de filmes, músicas e redes de fast-food.

De acordo com os dados expostos no relato da escritora e linguista Yásnaya Elena Aguilar, presente na matéria “500 línguas nativas correm perigo na América Latina”, escrita por Carlos Heras e publicada no jornal El País em abril de 2019, na época da independência, cerca de 65% da população do México falava alguma língua indígena. Esse índice hoje, porém, é de apenas 6,5%. Neste sentido, a escritora defende que houve um processo de homogeneização cultural apoiado no sistema educativo dos tempos da Revolução Mexicana (1910-1921), que permanece até os dias de hoje, basta olhar para as instituições públicas do país, que funcionam quase que exclusivamente em espanhol.

Além do mais, durante os três séculos de invasão e colonização espanhola ocorreu um novo tipo de intercâmbio cultural no México que deixou profundas marcas na religiosidade e demais expressões culturais. Um exemplo disto é o Barroco mexicano do século XVIII, que é caracterizado por levar ao extremo a decoração deslumbrante de fachadas e interiores, além das esculturas e pinturas.

Museu de Belas Artes, na Cidade do México. Imagem disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/cultura-mexicana.htm, acesso em 18/11/2021

 

Em termos de variedade de sabores e texturas, a gastronomia mexicana é conhecida por ser rica em proteínas, vitaminas e minerais, além de ser uma das mais diversificadas do mundo. Pode-se dizer que a maior parte da culinária mexicana tem origem nativa americana em relação às várias misturas de tradições, ingredientes e criatividades, além do acréscimo da culinária espanhola.

Dentre os pratos mais populares do país estão: o Taco, a Enchilada, o Tamal e o Pozole. Seus ingredientes mais tradicionais são o Milho, o Feijão, o Tomate, o Abacate, o Cacau e a extensa variedade de Pimenta. Dentre as bebidas, destacam-se o Mezcal e a Tequila, ambos muito exportados para várias regiões do mundo.

As raízes musicais do México também estão firmadas na herança cultural deixadas pelos povos pré-hispânicos. A música tradicional do país é o chamado Son, cuja origem está no interior rural do país, além do mais, a música Ranchera, ao lado da Mariachi, acabam por formar a identidade musical do México.

Exemplares da culinária mexicana. Imagem disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/cultura-mexicana.htm, acesso em 18/11/2021

Um dos principais conflitos do México está relacionado às formas de vida indígenas que estão tradicionalmente no meio rural. Hoje, a sobrevivência dessas culturas e de seus meios de expressão estão cada vez mais ameaçada pelas pressões econômicas sobre os territórios e pela migração para as cidades. Dessa forma, hoje o neoextrativismo forma um dos maiores desafios que os povos indígenas enfrentam no México, pois, a luta pelos recursos da terra produz ataques contra os seus territórios e bens comuns.

Outro desafio do país é a sua relação com os países da América Anglo-Saxônica, (Estados Unidos e Canadá). Historicamente essa relação foi permeada por conflitos e perdas territoriais e atualmente, o país precisa lidar com a concorrência das empresas e indústrias norte-americanas instaladas em seu território, o que desnacionaliza boa parte de sua economia.

Um dos conflitos armados que marcaram a história do Mexico é entre o Estado mexicano e o Exército Zapatista, que teve seu iniciou no ano de 1994, com a ocupação de seis cidades em Chiapas e reivindicações de pautas sociais ligadas a educação; saúde; trabalho e terra. O cessar-fogo foi decretado pelo governo mexicano em 12 de janeiro de 1994, mas o conflito entre o grupo e o governo ainda persiste mesmo sem enfrentamentos armados. Além do mais, as negociações entre o governo mexicano e o grupo zapatista resultaram na aprovação de uma Lei Indígena em 2001 que legitimou as ocupações zapatistas em determinadas localidades do território de Chiapas.

Militantes do Exército Zapatista de Libertação Nacional, em fotografia histórica de Juán Popoca, de  1994. Imagem disponível em https://www.brasildefato.com.br/2016/08/19/dia-mundial-da-fotografia-a-historia-de-10-imagens-de-luta, acesso em 18/11/2021. Em reportagem de Daniel Hernández, o fotojornalista mexicano Marco Antonio Cruz comentou 20 fotografias históricas do movimento, entre elas a que reproduzimos acima: https://www.vice.com/pt/article/78z4w4/feliz-aniversario-de-20-anos-zapatistas


Diante de um Estado que se comporta de forma monolíngue ocorreram algumas mudanças significativas na concepção do México em relação à importância dada à diversidade cultural e à educação intercultural.

No ano de 1997, a educação primária destinada a populações indígenas mudou sua denominação de Educação Bilíngüe Bicultural para Educação Intercultural Bilíngue; no ano de 2001, criou-se a Coordenação Geral de Educação Intercultural Bilíngue, que pela primeira vez estabeleceu a educação intercultural para toda a população, propondo uma educação culturalmente pertinente para os indígenas, em todos os níveis educativos. Além disso, no ano de 2003 foi sancionada a Lei de Direitos Linguísticos que reconheceu o direito da população indígena à educação bilíngue, independentemente de seu nível educativo ou do tipo de escola frequentada.

Para além disso, os idiomas originários mais falados no México devem ser oficializados e equiparados ao espanhol, no entanto, isso deve envolver políticas efetivas, portanto, é necessário que o bilinguismo funcione nas instituições públicas e que ele seja utilizado na educação de forma integral, visando uma real inclusão em termos de diversidade sociolinguística e sociocultural.

 

Referências:

 

HERNAIZ. Ignácio. Educação na diversidade: experiências e desafios na Educação Intercultural Bilíngüe. 2º Edição. Abril de 2007, Brasília.

500 línguas nativas correm perigo na América Latina | Internacional | EL PAÍS Brasil (elpais.com)

Cultural, Diversidade — Enciclopédia Latinoamericana

México — Enciclopédia Latinoamericana

Cultura mexicana - Mundo Educação (uol.com.br)

Cultura do México – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

México - Mundo Educação (uol.com.br)

Conflito no México: dos movimentos guerrilheiros aos cartéis de drogas - GEDES - Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (gedes-unesp.org)


Gilson José de Oliveira Neto, estudante do curso de História – América Latina da UNILA

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