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Slam de la frontera: poesia falada e resistência

 

O Blog de História da Unila nesta semana apresenta um importante coletivo artístico da cidade de Foz do Iguaçu, o Slam de la frontera. 

O Slam pode ser considerado um movimento social a partir da formação de grupos sociais unidos pela arte, e especialmente pela poesia. Esses movimentos normalmente reúnem sujeitos marginalizados em forma de protesto contra diversos tipos de opressões, como o racismo, o patriarcado e a desigualdade social, que se utilizam da ferramenta das batalhas de poesias faladas para suas ações sociais. 

Como podemos encontrar na página do instagram do @slamdelafrontera: “Verifica-se ao longo do tempo, que grupos historicamente excluídos vêm se utilizando dessa expressão artística como forma de reivindicar seus lugares de direito, dar visibilidade às suas lutas e se colocar como protagonistas de suas próprias histórias”. 

Normalmente cada sessão da batalha tem duração de 3 minutos, contando apenas com o corpo e a voz, sem adição de figurino nem música, e com a condição de que a poesia deve ser autoral. São escolhidos jurados em meio à plateia, para qualificar os(as) participantes com notas que podem variar de 0 a 10, reduzindo o número de participantes a cada rodada até que seja escolhido um(a) vencedor(a). Além disso, normalmente também conta com um tempo disponibilizado para microfone aberto, e também com feiras ou vendas de itens relacionados às temáticas sociais.

O Slam de la Frontera é um movimento nascido em Foz do Iguaçu (PR), tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, e surgiu no ano de 2019, quando começou a realizar suas atividades no bairro Vila C velha, ao lado do Supermercado JD. Durante a pandemia as mobilizações foram paralisadas, tendo sua retomada em 2022, quando mudou de localização para a Biblioteca Comunitária do bairro Cidade Nova, o que foi de grande importância por possuir uma estrutura mais adequada, e também por estreitar o contato com a comunidade.

Imagem 1: Biblioteca comunitária do Cidade Nova, onde acontecem os encontros do Slam de la Frontera;

Autora: Joselaine Raquel da Silva Pereira

Em 2022, representantes do grupo participaram e obtiveram o 3º lugar no Slam Paraná, movimento regional que busca levar os(as) vencedores(as) das batalhas para competição a nível nacional no Slam BR. Em 2023, os(as) representantes Doug, Lara e Jhey participaram novamente do Slam Paraná, que ocorreu no dia 24 de setembro, em Curitiba, e contaram também com a colaboração de apoiadores(as) do movimento para uma vakinha online e para a venda de camisetas e ecobag que os ajudaram no financiamento da viagem.

Imagem 2: Slam de la frontera, edição de 27 de abril de 2024, Doug no microfone;

Autora: Joselaine Raquel da Silva Pereira

É importante destacar que esse movimento atua em parceria com diversos outros movimentos autônomos da fronteira, como a cartonera Kapivara preta, que possibilita a elaboração dos fanzines sobre o Slam, e também com O Foguete Art, juntamente com o qual foi realizado um brechó artístico com diversas atrações, o Kaburé Maracatu, que também participa dos eventos trazendo resistências musicais de inspiração afro-latina e caribenha, El cine club Nuestra Sala, que entre suas projeções incluiu para debate o filme “Slam Voz de Levante” (2018), entre outros coletivos que se unem na realização de eventos de arte e resistência popular. Nesse sentido, é uma peça fundamental numa rede de movimentos articulados que integra e conecta a população que possui sede de movimentos artísticos e sociais autônomos na região.

Imagem 3: Slam de la frontera, edição de 27 de abril de 2024, Yuri no microfone.

Autora: Joselaine Raquel da Silva Pereira



Referência

Slam” é voz de identidade e resistência dos poetas contemporâneos. Jornal da USP. 2017. Disponível em: <https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/slam-e-voz-de-identidade-e-resistencia-dos-poetas-contemporaneos/#:~:text=Essa%20palavra%20surgiu%20em%20Chicago,algo%20pr%C3%B3ximo%20do%20nosso%20'p%C3%A1 > Acesso em: 12 de jun. de 2024.


Jhey RodriguesGraduação em Superior de Tecnologia em Fotografia pela Universidade do Oeste Paulista (2018). Estudante de Mediação Cultural, Artes e Letras na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Atua no projeto de extensão Direito à Poesia desde 2020 (UNILA). 

Joselaine Raquel da Silva Pereira: Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPGICAL) da UNILA. Mestra pelo Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-americanos (PPGIELA) da UNILA. Bacharel em Antropologia - Diversidade Cultural Latino-americana e graduanda em História (Licenciatura) pela mesma universidade.

Thainá de Santana Alencar: Mestre Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (PPGIELA) na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Bacharel em Letras, Artes e Mediação Cultural na mesma instituição. Integra o Núcleo de Estudos Afro Latino-Americanos (NEALA) e o coletivo Slam de la Frontera.

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