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Humor gráfico e Guerra Fria no Chile

 


Topaze, 12 de mayo de 1961, p. 14


        O projeto intitulado “Imaginarios visuales sobre la Guerra Fría: humor gráfico chileno entre 1959 y 1970”, financiado pelo Fondo Nacional de Desarrollo Cultural y de las Artes, é uma pesquisa cujo objetivo principal é valorizar um patrimônio visual de significativa relevância em seu contexto de circulação: o humor gráfico chileno produzido durante o período da Guerra Fria.

Esse conflito, de caráter global, tem sido amplamente abordado pela historiografia, especialmente em suas dimensões econômicas, políticas, militares e diplomáticas. No entanto, a Guerra Fria também se manifestou em planos culturais e simbólicos que, em comparação, receberam menos atenção. Embora os principais atores do conflito geralmente sejam identificados como os Estados Unidos e a União Soviética, sua expressão concreta se projetou em praticamente todas as regiões do mundo, adquirindo características particulares em cada uma delas.

Nesse contexto, o presente projeto propõe abordar a Guerra Fria a partir de uma perspectiva cultural, centrada na América Latina e, especificamente, no Chile. O objetivo é analisar como esse conflito internacional foi vivido, representado e comunicado no âmbito local. Por meio do estudo do humor gráfico, busca-se compreender as formas pelas quais esse meio visual contribuiu para a construção de imaginários sobre a Guerra Fria, evidenciando tanto as tensões ideológicas quanto as sensibilidades sociais da época.

Com esse horizonte, foram analisadas publicações periódicas de circulação nacional editadas entre 1959 e 1970. Essa década é considerada particularmente relevante, pois nela a Guerra Fria teve uma manifestação especialmente intensa na América Latina. A Revolução Cubana de 1959 marcou um ponto de inflexão, atraindo uma atenção renovada para a região e impulsionando novos e profundos esforços por parte de ambas as potências para ampliar suas respectivas zonas de influência. Nesse marco, desenvolveram-se iniciativas como a Aliança para o Progresso, surgiram com força as guerrilhas armadas e foram estimulados movimentos militares golpistas, entre outros processos que sustentam essa afirmação. Por outro lado, o projeto se encerra em 1970, uma data emblemática para a história chilena. Naquele ano, Salvador Allende foi eleito presidente da República por meio da chamada “via chilena para o socialismo”, um projeto que apostava em uma transformação profunda por meio de mecanismos democráticos e institucionais. Esse acontecimento transformou o Chile em uma referência internacional no contexto da Guerra Fria. Nesse mesmo período, algumas das publicações consideradas neste estudo deixaram de circular.

Para a realização deste estudo, foram considerados jornais de diferentes orientações políticas. Entre eles, destaca-se Topaze, revista semanal de longa trajetória, identificada com uma linha editorial de centro político. A partir de uma posição mais à esquerda, foram incluídos El Siglo, vinculado ao Partido Comunista do Chile, e Las Noticias de Última Hora, associado ao Partido Socialista. Pela direita, foi incorporada a análise de El Mercurio de Santiago, principal meio de comunicação da elite chilena, e El Diario Ilustrado, jornal conservador de orientação católica. Apesar das diferenças ideológicas, editoriais e de formato, todas essas publicações contavam com espaços frequentes e contínuos dedicados ao humor gráfico, por meio de histórias em quadrinhos ou caricaturas.

Uma das linhas de ação fundamentais deste projeto é a vinculação ativa entre o patrimônio visual estudado e a cidadania. Com esse propósito, foram desenvolvidas diversas estratégias voltadas à divulgação e circulação do conhecimento. Entre elas, destaca-se a implementação de uma estratégia comunicacional através das redes sociais, com presença em plataformas como Instagram, TikTok e Facebook, nas quais são compartilhados conteúdos relacionados ao humor gráfico chileno no contexto da Guerra Fria, com o objetivo de aproximar esse valioso material de públicos mais amplos e diversos. Essas plataformas estão reunidas sob o nome Monitos Guerra Fría. No Chile, o termo “monitos” é uma forma coloquial e afetiva de se referir a desenhos ou caricaturas, razão pela qual nos pareceu fundamental incorporá-lo ao título do projeto, reforçando sua dimensão lúdica e acessível para um público amplo.

A equipe responsável por este projeto é composta por Silvina Sosa Vota, formada pela UNILA e pesquisadora; Nicolás Valenzuela, pesquisador; e Angélica Salas, designer.

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