Passados alguns anos desde a escrita do artigo Memória, História e Cidadania, apesar dele ter sido publicado apenas em 2010, gostaria de pontuar e desenvolver algumas questões discutidas sucintamente nestes dias.
Em primeiro lugar, cabe diferenciar a memória do Holocausto da memória das ditaduras militares na América Latina. No pós-guerra, a Alemanha trouxe à tona a experiência do nazismo, enquanto que na América Latina ainda predomina o desconhecimento quanto às ditaduras militares. Por isso a discussão de limites para a memória de processos históricos traumáticos é mais presente na Alemanha do que na América Latina.
A discussão de limites, por sua vez, não deve culminar na defesa do esquecimento, tampouco na ausência de justiça. Os limites devem ser pensados para que esta memória não seja apropriada indevidamente; por exemplo, preocupa no caso argentino que, recentemente, os governantes pareçam se destacar mais do que os movimentos sociais no que se refere à memória da ditadura. Os limites permitiriam que o “anjo da História” continuasse a voar para a frente, ainda que com os olhos voltados para trás.
Os militares e seus defensores argumentam que os opositores também cometeram crimes. Trata-se de um assunto complexo a ser enfrentado, mas é preciso considerar que não havia equilíbrio entre as forças dos militares e a dos opositores. Enquanto os primeiros possuíam a “máquina do Estado” ao seu dispor, os segundos, na maioria das vezes, atuavam na clandestinidade.
A discussão continuará oportunamente.
Prof. Paulo Renato da Silva.