“E de repente, num daqueles dias sem sentido, viu-se arrastado por pessoas que corriam, enquanto lá no alto rugiam aviões a jato e todos gritavam “Plaza Mayo” (...).” (SÁBATO, Ernesto. Sobre Heróis e Tumbas. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 310.).
O escritor argentino Ernesto Sábato faleceu na madrugada de sábado, 30 de abril. Autor de clássicos como O Túnel e Sobre Heróis e Tumbas, publicado em 1961, o escritor é representativo do destaque literário alcançado pela Argentina no século XX, assim como dos dilemas político-sociais que marcaram a intelectualidade do país.
Entre 1946 e 1955, durante os dois primeiros mandatos do presidente Juan Domingo Perón, Sábato esteve entre os opositores. De um modo geral, além do autoritarismo, criticava a pressão por uma arte e por um pensamento nacionalistas. Após o golpe de Estado que derrubou Perón em 1955, recebeu dos militares a direção da revista Mundo Argentino. Mudou de posição em seguida e revisou o peronismo em 1956 em A Outra Face do Peronismo. O escritor manteve algumas de suas principais críticas, mas passou a considerar que Perón tinha canalizado o ressentimento das massas, as quais finalmente teriam participado politicamente. Isso provocou desentendimentos com o escritor Jorge Luis Borges, o qual se manteve antiperonista.
Na década de 1980, Sábato teve papel de destaque no levantamento de crimes cometidos pela última ditadura militar argentina (1976-1983), os quais foram denunciados em Nunca Más, conhecido como “Informe Sábato”.
Prof. Paulo Renato da Silva.