Antes de vir para a Uminho, tinha a idéia de que os estudantes portugueses eram verdadeiros eruditos, que estudavam loucamente e devoravam livros. Imaginava, então, que teria imensa dificuldade em me acostumar com o ritmo de estudos. Chegando aqui, as surpresas foram muitas, boas e ruins. Aprendi muito aqui, estudei o que não poderia estudar na UFT, minha universidade no Brasil. Também aprendi a valorizar muito mais os meus professores brasileiros.
A estrutura da Uminho me agradou muito, já que a UFT, por ser uma universidade nova, ainda tem o que melhorar em termos de estrutura física. Aqui tive a biblioteca que gostaria de ter no Brasil, assim como laboratório e salas de aula bem equipadas.
Com as primeiras aulas, no entanto, vi que a distância entre os estudantes dos dois lados do Atlântico não era assim tão grande, e que o lado de cá, às vezes, é supervalorizado. Tive professores excelentes, cujo conhecimento me encantava; também tive professores cujas aulas eram cansativas, pareciam “sem proveito”, nas quais eu pensava: “seria melhor ter feito essa disciplina no Brasil”. Sempre lembrava dos meus professores brasileiros e sentia falta das minhas aulas na UFT.
Nunca imaginei, mas aqui vigora a “decoreba”, ao menos na maioria das disciplinas que eu e meus colegas fizemos. Os alunos copiam tudo o que os professores dizem e estudam para as provas com essas anotações. Há poucas indicações de leitura, menos ainda as obrigatórias. Supõe-se que os alunos guiem seu próprio estudo, visto que tem recursos para isso, mas na prática poucos o fazem. Também senti muita falta da teoria. Outra diferença é que, ao menos no meu curso, fazem-se pouquíssimos trabalhos; a avaliação é feita em sua maioria através de provas. Além disso, o curso é feito em menor tempo, 3 anos; e a habilitação profissional vem apenas com o Mestrado.
Aqui eles têm rituais diferentes de início e fim de curso. Não há trote, e sim a “praxe”, que dura o ano inteiro, onde os calouros tem que correr pelo campus, fazer alguns exercícios físicos... nada de pinturas no rosto ou trotes solidários. Aqueles alunos que aplicam a “praxe” usam um traje especial durante o ano inteiro, em todas as atividades da universidade. No fim do curso há uma série de cerimônias, que ocorrem no meio do semestre, e não há festa de formatura.
Não há tanta perspectiva entre os estudantes após o fim do curso, visto que as taxas de desemprego são crescentes. Segundo colegas, finalizar o curso é uma realização pessoal, sim, mas não há grandes expectativas quanto a empregos, em virtude do momento que o país enfrenta. Alguns, mesmo após terminar o mestrado, tem que trabalhar em outras áreas, por não conseguirem vaga como professores de História.
A realidade para quem vive o intercâmbio, no entanto, é outra. Nesse período longe de casa e em contato com novidades, tudo parece maravilhoso. O preço de roupas, sapatos, acessórios e eletrônicos aqui é bem inferior – foi minha chance de ir às compras. O preço dos produtos nos mercados também é bem menor, e sei que ficarei muito brava diante dos preços nas prateleiras quando voltar para casa.
A “noite” de Braga, comparada a de Palmas, também é muito diferente. Nunca fui muito chegada à vida noturna, mas menciono porque também faz parte da vida universitária. Aqui, eles têm um costume que adorei: o de ficar até a madrugada nos cafés, em sua maioria charmosos, conversando, rindo e bebendo (até mesmo café). Me agrada porque gosto mais desse ambiente e da música. Ao menos em Palmas, há apenas das opções, que envolvem forró e sertanejo, e não gosto de nenhuma das duas. Além disso, a “balada” aqui custa menos e costuma ter ofertas de bebidas. E basta ficar atento a programação cultural para não perder as peças de teatro, os filmes e shows gratuitos.
Mas o que se torna uma das coisas mais significativas para quem faz intercâmbio é o acesso às viagens. As passagens aéreas são muito baratas, especialmente as que saem da Península Ibérica; há ainda os trens, que facilitam muito a vida, dos quais sentirei saudades; hospedagem também se encontra por bom preço, nos “hostels”, que aí no Brasil chamamos de albergues. Dessa maneira, os brasileiros que vem estudar aqui podem conhecer vários países. No meu caso, fui à Espanha, Itália, Inglaterra e França e parece inacreditável poder estar nos cenários de filmes e em algumas das cidades mais “faladas” do mundo.
A experiência é indescritível, pelos lugares visitados, pessoas conhecidas e pela convivência com novos hábitos. As amizades feitas nesse período nos une de uma maneira especial, uma vez que, longe da família e em meio a tantas novidades, é com os amigos que se pode contar, e é com eles que se divide tudo. Esse período de intercâmbio, entre setembro de 2010 e agosto de 2011, ficará nas minhas melhores lembranças e foi responsável por uma grande mudança interna, além de ter me proporcionado experiências maravilhosas, que nem em sonhos imaginei viver. Aprendi a respeitar ainda mais o meu país, e hoje, admiro e respeito também Portugal, seu povo e suas tradições.
Maiara Muniz
Estudante de História da Universidade Federal do Tocantins,
Intercambista na Universidade do Minho no ano letivo 2010-2011.