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"Cartas para Hitler", de Henrik Eberle.


“De maneira geral, as cartas podem ser divididas em duas categorias. De um lado estão as cartas da população sem uma intenção determinada, apenas de agradecimento, congratulações e homenagem. Pessoas que haviam conseguido um emprego outra vez, por exemplo, agradeciam por ter de novo comida suficiente. Outros adoravam Hitler com euforia devido a seus sucessos políticos, como a anexação da Áustria ao Reich alemão. (...).
(...).
A segunda categoria pode ser descrita como cartas de demandas e pedidos. “Pessoas absolutamente normais” esperavam de Hitler uma melhora de sua situação social. A esse grupo pertenciam aqueles que realmente vegetavam abaixo do limite da pobreza. Mas entre eles incluíam-se também os que se consideravam rebaixados em sua classe social ou que tinham a impressão de ser pressionados pelos comerciantes alemães.
O terror estatal cada vez maior também teve como consequência um aumento das petições de clemência. Porém, todos os pedidos que chegavam às chancelarias de Hitler para que libertassem o marido, filho, cunhado ou tio preso, iam diretamente para os arquivos sem respostas ou eram encaminhadas para o Reichsführer da SS Heinrich Himmler. (...).
(...).
A quantidade e o conteúdo das cartas estavam, como esperado, diretamente associados aos acontecimentos políticos. Imediatamente após a tomada do poder e depois da anexação da Áustria, Hitler recebeu muitas cartas entusiásticas.
No bem-sucedido ano de 1934, também houve, porém, vozes críticas. Entre elas, estavam cartas de judeus que se sentiam feridos em sua honra e exigiam de Hitler que a recuperasse. Durante a guerra, Hitler recebeu muito menos cartas, o que leva a crer que a confiança em sua pessoa diminuíra. Essa descoberta não é nova. Ian Kershaw já chamara a atenção nos anos 1980 para a decadência do “mito de Hitler” em sua análise detalhada de relatos da atmosfera na época. Götz Aly corroborou a recente descoberta com alguns indicadores confiáveis, por exemplo, a diminuição da poupança ou a redução da cota de recém-nascidos com o nome Adolf.
(...). Não há dúvida: os alemães viram em Hitler o novo “Messias”, o “redentor”, o “salvador” da vergonha e da desonra. Eles o viram como o Führer que os levaria da miséria profundamente sentida do Tratado de Versalhes, a “Paz vergonhosa de 1919”, a alturas nunca antes alcançadas.
(...).
Mesmo assim, houve pessoas que rejeitaram o regime completamente ou que estipularam um limite pessoal dizendo “até aqui e não mais adiante”. Algumas delas se opuseram. A escala do comportamento opositor ia da emigração interna até a recusa total. Alguns se esforçaram, e nem sempre foram bem-sucedidos, para manter a “decência” e a “honra” no dia a dia. (...).” (EBERLE, Henrik. Cartas para Hitler. São Paulo: Planeta, 2010. p. 13-16).
Prof. Paulo Renato da Silva.
Professores em greve!

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