O Brasil ganhou a Copa do Mundo de 1970, no México, no período
considerado mais autoritário da ditadura militar. Acima, o general e ditador
Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) segura a taça Jules Rimet. A Copa “uniu” o
país e a vitória brasileira foi utilizada pela ditadura como símbolo de um país
vitorioso, que progredia. A Copa ofuscou a censura e a repressão existentes
naqueles anos.
Alguns militantes de esquerda lembram que a Copa despertou neles
sentimentos contraditórios. Por um lado, eram contra a importância dada à Copa
enquanto o país estava mergulhado em uma ditadura. Por outro, relatam que não
conseguiram ficar indiferentes ao bom desempenho da seleção brasileira.
Em 1979, o dramaturgo de esquerda Dias Gomes (1922-1999) recriou o
Brasil de 1970 na peça Campeões do Mundo.
A peça representa bem os dilemas vividos por parte da esquerda brasileira
durante a Copa de 1970. Na peça, um grupo de militantes de esquerda sequestra o
embaixador norte-americano em plena Copa do Mundo de 1970:
“CARLÃO: A gente seqüestra o embaixador americano, faz o mundo inteiro
se voltar para essa bosta deste país e o país, noventa milhões de pessoas
grudadas nos rádios e nas televisões, acompanhando o futebol! Porra! Será que
esse povo merece o que estamos fazendo por ele? Tou arriscando a minha vida por
um povo alienado, que só pensa em futebol! Puta que pariu!
TÂNIA: O povo não tem culpa.
RIBA: E não tem nada uma coisa com a outra. Eu não sou alienado e gosto
de futebol. Sei que os milicos vão capitalizar essa vitória, mas não consigo
deixar de vibrar.” (GOMES, Dias. Campeões
do Mundo. São Paulo: Círculo do Livro, p. 93).
Em tempo, em 1969, militantes de esquerda do MR-8 e da Ação Libertadora
Nacional (ALN) sequestraram o embaixador dos Estados Unidos Charles Burke Elbrick
(1908-1983). Os militantes pediram a libertação de quinze presos políticos. A
ditadura cedeu, os presos libertados se exilaram e Elbrick foi solto.
Prof. Paulo Renato da Silva.
Professores em greve!