“A constituição de bibliotecas e de arquivos forneceu (...) os materiais
da história. Foram elaborados métodos de crítica científica, conferindo à história um de seus aspectos de ciência em sentido técnico, a partir dos
primeiros e incertos passos da Idade Média (Guenée), mas sobretudo depois do
final do século XVII, com Du Cange, Mabillon e os beneditinos de Saint-Maur,
Muratori etc. Portanto não se tem história sem erudição. Mas, do mesmo modo que se fez no século XX a crítica da
noção de fato histórico, que não é um objeto dado e acabado, pois resulta da
construção do historiador, também se faz hoje a crítica da noção de documento,
que não é um material bruto, objetivo e inocente, mas exprime o poder da
sociedade do passado sobre a memória e o futuro: o documento é monumento
(Foucault e Le Goff). Ao mesmo tempo, ampliou-se a área dos documentos, que a
história tradicional reduzia aos textos e aos produtos da arqueologia, de uma
arqueologia muitas vezes separada da história. Hoje os documentos chegam a
abranger a palavra, o gesto. Constituem-se arquivos
orais; são coletados etnotextos.
Enfim, o próprio processo de arquivar os documentos foi revolucionado pelo
computador. A história quantitativa,
da demografia à economia até o cultural, está ligada aos progressos dos métodos
estatísticos e da informática aplicada às ciências sociais.” (LE GOFF, Jacques.
História e Memória. 5ª ed. Campinas
(SP): Editora da UNICAMP, 2003. p. 9-10).
Prof. Paulo Renato da Silva.