Pular para o conteúdo principal

Marxismo, vanguarda e as particularidades latino-americanas: um caso do Paraguai.

Há algumas postagens destacamos que há um debate no marxismo quanto à universalidade ou não dos seus pressupostos. As duas posições apresentam problemas. Hoje, porém, apontaremos, ainda que resumidamente, como uma concepção universal de marxismo pode desconsiderar as particularidades de determinados processos histórico-culturais.
Julio José Chiavenato não é historiador, é jornalista, mas os seus trabalhos sobre História do Paraguai tiveram – e ainda têm – grande repercussão. O autor segue os pressupostos do marxismo, mais precisamente do marxismo-leninismo e o papel atribuído à “vanguarda revolucionária”. Vejamos como o autor se refere à relação entre o “povo” paraguaio e a esquerda durante a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989):
“O povo paraguaio, vivendo a opressão dos governos liberais, sem nenhum partido político de massas a organizá-lo, aprendeu a identificar-se com sua única opção: o Partido Colorado. (...).
(...).
Os partidos de esquerda no Paraguai (...) são exterminados antes que consigam falar à massa trabalhadora (...).
(...).
Toda oposição é sufocada, assassinada ou exilada (...). Fica no Paraguai, então, um povo sem vanguarda política a organizá-lo (...).” (1980: p. 89-91).
De fato, não podemos falar que existiu um “partido de vanguarda” no Paraguai durante a ditadura. Mas, naqueles anos, seria o “partido de vanguarda” a única possibilidade de organização e atuação do “povo” paraguaio? O “povo” paraguaio não colaborou em nada para a queda da ditadura? O autor analisa a história a partir do que não aconteceu, a partir do que o Paraguai não tinha, não analisa as particularidades e as possibilidades de se fazer política no país durante a ditadura Stroessner.
Referências bibliográficas:
CHIAVENATO, Julio José. Stroessner: retrato de uma ditadura. São Paulo: Brasiliense, 1980.
Prof. Paulo Renato da Silva.

Postagens mais visitadas deste blog

A "Primavera dos Povos" na Era do Capital: historiografia e imagens das revoluções de 1848

  Segundo a leitura de Eric J. Hobsbawm em A Era do Capital , a Primavera dos Povos foi uma série de eventos gerados por movimentos revolucionários (liberais; nacionalista e socialistas) que eclodiram quase que simultaneamente pela Europa no ano de 1848, possuindo em comum um estilo e sentimento marcados por uma atmosfera romântico-utópica influenciada pela Revolução Francesa (1789). No início de 1848 a ideia de que revolução social estava por acontecer era iminente entre uma parcela dos pensadores contemporâneos e pode-se dizer que a velocidade das trocas de informações impulsionou o processo revolucionário na Europa, pois nunca houvera antes uma revolução que tivesse se espalhado de modo tão rápido e amplo. Com a monarquia francesa derrubada pela insurreição e a república proclamada no dia 24 de fevereiro, a revolução europeia foi iniciada. Por volta de 2 de março, a revolução havia chegado ao sudoeste alemão; em 6 de março a Bavária, 11 de março Berlim, 13 de março Viena, ...

"Progresso Americano" (1872), de John Gast.

Progresso Americano (1872), de John Gast, é uma alegoria do “Destino Manifesto”. A obra representa bem o papel que parte da sociedade norte-americana acredita ter no mundo, o de levar a “democracia” e o “progresso” para outros povos, o que foi e ainda é usado para justificar interferências e invasões dos Estados Unidos em outros países. Na pintura, existe um contraste entre “luz” e “sombra”. A “luz” é representada por elementos como o telégrafo, a navegação, o trem, o comércio, a agricultura e a propriedade privada (como indica a pequena cerca em torno da plantação, no canto inferior direito). A “sombra”, por sua vez, é relacionada aos indígenas e animais selvagens. O quadro “se movimenta” da direita para a esquerda do observador, uma clara referência à “Marcha para o Oeste” que marcou os Estados Unidos no século XIX. Prof. Paulo Renato da Silva. Professores em greve!