Pular para o conteúdo principal

O marxismo é universal?

Seguindo com a série sobre marxismo, hoje publicamos novamente a postagem de 17 de novembro de 2013:

Um dos principais debates do marxismo pode ser resumido do seguinte modo: o marxismo é universal ou deve ser adaptado às particularidades de cada caso? O início d’O Manifesto Comunista é uma das tantas passagens que alimentam esse debate. Vejamos:
“A história de todas as sociedades que já existiram é a história de luta de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, chefe de corporação e assalariado; resumindo, opressor e oprimido estiveram em constante oposição um ao outro, mantiveram sem interrupção uma luta por vezes, por vezes aberta – uma luta que todas as vezes terminou com uma transformação revolucionária ou com a ruína das classes em disputa.
Nos primeiros tempos da História, por quase toda parte, encontramos uma disposição complexa da sociedade, em várias classes, uma variada gradação de níveis sociais. Na Roma antiga, temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos. Na Idade Média, senhores feudais, vassalos, chefes de corporação, assalariados, aprendizes, servos. Em quase todas estas classes, mais uma vez, gradações secundárias.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos das classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta no lugar das antigas.
Nossa época – a época da burguesia – distingue-se, contudo, por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade se divide cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas classes que se opõem frontalmente: a burguesia e o proletariado.
(...).
A camada mais baixa da classe média, os pequenos comerciantes, os lojistas e os artífices aposentados em geral, os artesãos e os camponeses, todos eles se afundam, gradualmente, no proletariado. Em parte, porque seu capital diminuto não basta para a escala na qual a indústria moderna é levada avante e atola-se na competição com os grandes capitalistas, e, em parte, porque suas especializações se tornaram inúteis com os novos métodos de produção. Assim, o proletariado é recrutado de todas as classes da população.” (1998: p. 9-21).
Por um lado, as classes marcariam a “história de todas as sociedades”. Em outras palavras, opressores e oprimidos teriam existido em toda a história e continuariam existindo.
No entanto, em cada modo de produção as classes teriam denominações próprias: homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, etc. Além da denominação, a luta de classes teria particularidades em cada caso: acima, Marx e Engels destacam, por exemplo, que a luta entre a burguesia e o proletariado seria marcada por uma polarização maior do que as anteriores.
Por um lado, as classes parecem ser categorias universais, dadas, definidas a priori. Por outro, parecem ser um produto histórico, sujeito a mudanças. Marx e Engels falam que a sociedade estava dividida entre a burguesia e o proletariado, mas também destacam que existiam grupos sociais (baixa classe média, pequenos comerciantes, etc.) que não pertenciam claramente nem a uma classe, nem a outra, ainda que estivessem em processo de “proletarização”.
Referências bibliográficas:
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
 
Prof. Paulo Renato da Silva.

Postagens mais visitadas deste blog

A "Primavera dos Povos" na Era do Capital: historiografia e imagens das revoluções de 1848

  Segundo a leitura de Eric J. Hobsbawm em A Era do Capital , a Primavera dos Povos foi uma série de eventos gerados por movimentos revolucionários (liberais; nacionalista e socialistas) que eclodiram quase que simultaneamente pela Europa no ano de 1848, possuindo em comum um estilo e sentimento marcados por uma atmosfera romântico-utópica influenciada pela Revolução Francesa (1789). No início de 1848 a ideia de que revolução social estava por acontecer era iminente entre uma parcela dos pensadores contemporâneos e pode-se dizer que a velocidade das trocas de informações impulsionou o processo revolucionário na Europa, pois nunca houvera antes uma revolução que tivesse se espalhado de modo tão rápido e amplo. Com a monarquia francesa derrubada pela insurreição e a república proclamada no dia 24 de fevereiro, a revolução europeia foi iniciada. Por volta de 2 de março, a revolução havia chegado ao sudoeste alemão; em 6 de março a Bavária, 11 de março Berlim, 13 de março Viena, ...

"Progresso Americano" (1872), de John Gast.

Progresso Americano (1872), de John Gast, é uma alegoria do “Destino Manifesto”. A obra representa bem o papel que parte da sociedade norte-americana acredita ter no mundo, o de levar a “democracia” e o “progresso” para outros povos, o que foi e ainda é usado para justificar interferências e invasões dos Estados Unidos em outros países. Na pintura, existe um contraste entre “luz” e “sombra”. A “luz” é representada por elementos como o telégrafo, a navegação, o trem, o comércio, a agricultura e a propriedade privada (como indica a pequena cerca em torno da plantação, no canto inferior direito). A “sombra”, por sua vez, é relacionada aos indígenas e animais selvagens. O quadro “se movimenta” da direita para a esquerda do observador, uma clara referência à “Marcha para o Oeste” que marcou os Estados Unidos no século XIX. Prof. Paulo Renato da Silva. Professores em greve!