Pular para o conteúdo principal

A ditadura chilena pelas lentes do cinema


O vencedor do Oscar de melhor curta-metragem de animação de 2016 foi a produção chilena História de um urso. Dirigido por Gabriel Osorio, o curta baseia-se, segundo o diretor, na história de vida de seu avô, Leopoldo Osorio, preso e exilado durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Ao receber o prêmio, o cineasta dedicou a estatueta a seu avô e a todos os que, como ele, sofreram no exílio.
História de um urso retrata o percurso de um urso que é preso por agentes fardados, afastado de sua família e forçado a trabalhar num circo. O filme traduz nesta fábula a trajetória de muitos chilenos perseguidos durante o governo Pinochet. A história é contada por meio de um pequeno teatro de bonecos movido a engrenagens, que é apresentado na rua por um artista ambulante. No curta, um garoto pede a seu pai dinheiro para assistir ao teatrinho mecânico. Desse modo, o filme mostra ainda a transmissão da memória do que ocorreu naquele sombrio período da história chilena às novas gerações.



A única indicação anterior do Chile ao Oscar, em 2013, também foi por uma história relacionada à ditadura: No, de Pablo Larraín, retratou a campanha publicitária pelo “Não” em plebiscito que decidiria a continuidade de Pinochet no poder. A vitória da alternativa contrária ao general pôs fim à ditadura no país.



Outro filme que trata de forma sensível o período ditatorial chileno é Allende, mi abuelo Allende. O documentário produzido por Marcia Tambutti Allende, neta do ex-presidente, foi premiado como o melhor documentário no Festival de Cinema de Cannes de 2015. Distanciando-se da imagem do homem público e decidida a resgatar, entre seus familiares, a memória do avô, pai e marido que foi Allende, a documentarista se depara com o silêncio, com a fragmentação de narrativas e a dispersão de imagens (fotográficas, inclusive) de seu antepassado. E é justamente a partir das fraturas e ausências causadas pelo traumático golpe militar que ela (re)constrói facetas da vida de Salvador Allende e de sua família pouco conhecidas do público em geral.


Profa. Mirian Santos Ribeiro de Oliveira
Prof. Pedro Afonso Cristovão dos Santos



Postagens mais visitadas deste blog

A "Primavera dos Povos" na Era do Capital: historiografia e imagens das revoluções de 1848

  Segundo a leitura de Eric J. Hobsbawm em A Era do Capital , a Primavera dos Povos foi uma série de eventos gerados por movimentos revolucionários (liberais; nacionalista e socialistas) que eclodiram quase que simultaneamente pela Europa no ano de 1848, possuindo em comum um estilo e sentimento marcados por uma atmosfera romântico-utópica influenciada pela Revolução Francesa (1789). No início de 1848 a ideia de que revolução social estava por acontecer era iminente entre uma parcela dos pensadores contemporâneos e pode-se dizer que a velocidade das trocas de informações impulsionou o processo revolucionário na Europa, pois nunca houvera antes uma revolução que tivesse se espalhado de modo tão rápido e amplo. Com a monarquia francesa derrubada pela insurreição e a república proclamada no dia 24 de fevereiro, a revolução europeia foi iniciada. Por volta de 2 de março, a revolução havia chegado ao sudoeste alemão; em 6 de março a Bavária, 11 de março Berlim, 13 de março Viena, ...

“Núcleo Integralista, Núcleo Proletário”: Os trabalhadores e os sindicatos no jornal integralista “A Offensiva”

       1.  INTRODUÇÃO      Em outubro de 1932, o político e escritor brasileiro Plínio Salgado (1895-1975) publicou o manifesto que seria a base doutrinária de um dos maiores movimentos político-sociais de extrema direita da América Latina, o Integralismo. Com fortes inspirações fascistas, o movimento logo alcançou um grande número de adeptos e militantes, e marcou os cenários político e social brasileiros da primeira metade do século XX.      Um dos principais meios de propaganda e comunicação da Ação Integralista Brasileira (AIB) foi a imprensa periódica, sobretudo através do jornal A Offensiva, publicado no Rio de Janeiro e distribuído nacionalmente entre 1934 e 1938 (Oliveira, 2009, p. 151).      Através deste texto, considerando A Offensiva como nossa fonte de pesquisa, buscamos analisar criticamente a seção sindical do jornal em três diferentes números publicados entre 03 e 05 de novembro de 1936. Tratam-...