No cenário da América Latina do século XIX, nas décadas
seguintes às Independências, a escrita das histórias das jovens nações
independentes ocupou lugar de destaque. As histórias
pátrias, como eram chamadas, proliferaram pelo continente, escritas, em sua
maioria, por homens com alguma ligação com a vida pública e política de seus
países. A presença das mulheres nessa historiografia era rara, bem como sua
inserção nas academias e institutos históricos espalhados pela América Latina.
Algumas obtiveram êxito em adentrar esse mundo; entre elas, a colombiana Soledad
Acosta de Samper (1833-1913).
Soledad Acosta produziu vasta obra, na qual se destacam
biografias históricas no gênero “grandes homens”, escritos que exaltavam o
caráter exemplar do biografado, servindo de modelo e inspiração para os
leitores. São de sua autoria, por exemplo, Biografías
de hombres ilustres o notables relativas a la época del descubrimiento,
conquista y colonización de la parte de América denominada actualmente EE.UU.
de Colombia (1883), e a Biografía
del general Joaquín Acosta: prócer de la independencia, historiador, geógrafo,
hombre científico y filántropo (1901), esta última a respeito de seu
pai.
Além de historiadora, Soledad Costa foi ainda jornalista, e
nesse papel escreveu sobre a condição das mulheres em sua época, em particular
na obra La Mujer en la Sociedad Moderna
(1895). Em 1878 fundou o periódico La
Mujer, que em seu prospecto esclarecia a intenção de ser uma revista
produzida exclusivamente por mulheres: “En primer lugar empezaremos a anunciar
que no escribirán en ella sino mujeres; y en lo posible se tratará de que sean
sólo colombianas y sud-americanas. Hay en Inglaterra, en Alemania, en Francia,
y en otros países europeos muchos periódicos redactados, publicados e impresos
sólo por mujeres; otro tanto sucede en los Estados Unidos de Norte-América;
pero no tenemos noticia de una empresa igual en Hispano-América. Tócanos a
nosotras, pues, el haber iniciado en
Bogotá esta obra; el haber abierto este camino nuevo en nuestra
literatura”.
Soledad Acosta escreveu também novelas históricas, como Los piratas en Cartagena: crónicas
histórico-novelescas (Bogotá, 1886), e fez parte de instituições como a
Academia Colombiana de História. Foi ainda representante da Colômbia nas
comemorações do quarto centenário da viagem de Colombo à América, na Espanha,
em 1892. Sua vida traz à luz a contribuição das mulheres à escrita das
histórias nacionais no século XIX, contribuição muitas vezes negligenciada,
ainda que muito do trabalho dos historiadores naquele período envolvesse
tarefas de revisão, tradução, escrita e cópia de documentos feitas por suas
esposas e filhas, por exemplo, que permaneceram sem reconhecimento.
Primeira página do prospecto de La Mujer (Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Soledad_Acosta_de_Samper#/media/File:La_Mujer_(1879-1881).jpg,
acesso em 15 de junho de 2016)
Prof. Pedro Afonso Cristovão dos Santos