Na Semana da Consciência Negra, marcada
no Brasil pelo feriado de 20 de novembro (homenagem a Zumbi dos Palmares), o
blog relembra um dos grandes historiadores brasileiros das últimas décadas,
cuja obra manteve constante atenção à temática da cultura africana na história
do Brasil: Joel Rufino dos Santos (1941-2015).
O carioca Joel Rufino dos Santos cursou
História na antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, e foi
convidado por Nelson Werneck Sodré (um dos mais importantes historiadores
marxistas brasileiros) para integrar o Instituto Superior de Estudos
Brasileiros (ISEB), instituição marcante na história intelectual do Brasil nas
décadas de 1950 e 1960. No ISEB, Joel Rufino contribuiu para a História Nova do Brasil, uma coleção
didática em fascículos publicada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e
ISEB em 1964, por meio de programa intitulado Campanha de Assistência ao
Estudante (Cases). A coleção buscava oferecer uma alternativa ao ensino de
história do Brasil que seus autores viam como “tradicional”. Na História Nova, a história brasileira era
dividida em episódios, e os eventos apareciam contextualizados e
historicizados. Uma abordagem mais voltada a forças sociais, econômicas e
políticas do que a indivíduos e elites, notadamente influenciada pelo marxismo
e por uma integração maior da história com as demais ciências sociais.
A coleção teria dez números, mas foi
interrompida no quinto exemplar (saíram os volumes O descobrimento do Brasil, As
invasões holandesas, A expansão
territorial, A independência de 1822,
e Da Independência à República),
abreviada pelo regime militar recém-instaurado após o golpe de 1º de abril de
1964. Joel Rufino teve de sair do país, passando por Bolívia e Chile, antes de
voltar ao Brasil, onde acabou preso três vezes pela ditadura. Entre as
privações que sofreu nesse período, esteve o não ter presenciado o nascimento
de seu filho Nelson (em homenagem a Werneck Sodré). Em uma das ocasiões em que
esteve preso, ente 1973 e 1974, no presídio do Hipódromo, em São Paulo, Joel
Rufino escreveu várias cartas a Nelson, então com oito anos, tentando, de certa
forma, suavizar para o filho a rotina que vivia e o momento que a família e o
país atravessavam. Além de querer participar da vida escolar de Nelson,
contando-lhe, por exemplo, sobre Zumbi dos Palmares. As cartas foram reunidas
posteriormente no livro Quando eu voltei,
tive uma surpresa, que recebeu o prêmio Orígenes Lessa – o melhor do ano
para jovens leitores em 2000.
Convidamos nossos leitores a conhecer
mais do pensamento do historiador, professor e escritor Joel Rufino dos
Santos. Sua atuação se estendeu ainda a diversos órgãos, como a Fundação
Cultural Palmares (vinculada ao MINC), na qual ocupou a presidência, o Museu
Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, do qual foi diretor, além de atuação na
UNESCO e no Comitê Internacional da Diáspora Negra, sediado em Washington
(EUA). Uma referência importante para conhecer Joel Rufino dos Santos é seu
site oficial: http://www.joelrufinodossantos.com.br/paginas/index.asp.
O site disponibiliza vídeos de Joel Rufino, dos quais destacamos aqui reflexões
do autor sobre a presença da cultura africana na história brasileira, em
depoimento para a série “África em Nós” e no debate Dia da África, do programa
“Sem Censura”, da TV Brasil. Este último conta ainda com a participação de
outros estudiosos da cultura africana, além de artistas. Nele, Joel Rufino fala
de seu livro Gosto de África – Histórias de
Lá e Daqui, que reúne lendas e tradições da cultura africana. Selecionamos
ainda o programa “Café Filosófico”, com palestra de Joel Rufino sobre “O
Encontro com o Outro” (onde o historiador discute o conceito de democracia racial), e sua entrevista ao programa “Umas Palavras”, do Canal
Futura, exibida em 2013:
Sobre a coleção História Nova, sugerimos a análise contida em GUIMARÃES, Lucia
Maria Paschoal; LEONZO, Nanci. A reforma de base no ensino da história pátria:
o projeto da História Nova do Brasil.
Revista de História 149 (2º semestre
de 2003), p. 235-251. Disponível em http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/viewFile/18971/21034,
acesso em 23/11/2016.
Prof. Pedro Afonso Cristovão dos Santos