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"Foi uma experiência única": entrevista com Ariana Mara da Silva, bacharel em História – América Latina pela UNILA



Nessa semana de mobilizações em torno do projeto da UNILA, trazemos ao blog um pouco da experiência de nosso curso de História pelo olhar de Ariana Mara da Silva, formada no curso em 2016. Atualmente na pós-graduação da Universidade Federal da Bahia, Ariana conta sua visão do que a UNILA proporcionou de único em sua formação, descrevendo ainda a pesquisa que realiza atualmente no mestrado, sobre mulheres lésbicas negras artistas de rap na América Latina, também marcada por estudos iniciados na UNILA. A entrevista foi realizada por Alexandre Araújo de Sousa, bolsista de extensão do blog.

Quando você entrou no curso de História – América Latina da UNILA? E porque escolheu a UNILA?

Ariana Mara da Silva: Eu entrei na UNILA em 2011. O nome do curso ainda era “História e Direitos Humanos na América Latina” e eu recém tinha saído do curso de Relações Internacionais em uma universidade privada da minha cidade. Nessa universidade anterior eu tive uma professora formada pelo PROLAM/USP e ela falava muito sobre América Latina. Havia no curso de RI uma grande expectativa sobre a criação da “Universidade do Mercosul”, que já havia sido anunciada pelo Lula, então quando a UNILA foi criada eu já estava esperando. O objetivo inicial era terminar RI e fazer História em qualquer universidade pública, como havia ainda Direitos Humanos e América Latina no nome do curso, eu me inscrevi.

Como foi sua experiência no curso, inclusive pela abordagem latino-americana?

Foi uma ótima experiência. O acesso à teoria decolonial, à teoria feminista e a autores pouco contemplados por outras universidades foi o diferencial na minha formação, essa é a parte mais evidente para mim. Ao invés de reproduzir o cânone eurocêntrico, o curso de História na UNILA me possibilitou uma mudança no ângulo de visão de maneira tão intensa que em quatro anos eu me tornei outra pessoa, mais consciente politicamente e mais comprometida com a minha amefricanidade, como diria Lélia Gonzalez. Foi uma experiência única.  

Quando você se formou?

Minha colação de grau foi em 21 de maio de 2016.

Em qual faculdade você está fazendo mestrado? Como foi o processo de entrada?

Eu estou fazendo mestrado na Universidade Federal da Bahia. Acho que o processo foi bastante parecido com o de outras universidades: escrevi um projeto, me inscrevi, fiz as provas teóricas e de inglês e uma entrevista. Foi um pouco tenso, porque mudei de cidade sem dinheiro, a seleção foi no verão e emendou com o carnaval, enfim, mas acho que nada muito diferente.

Quando você entrou no mestrado, sentiu diferença no sentido de estar fazendo uma faculdade mais “tradicional”, sem a proposta curricular à qual você estava acostumada na UNILA?

Sim e não. Eu faço mestrado no Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – NEIM/UFBA, então algumas coisas são mais acolhedoras do que em “universidades tradicionais”. Creio que senti a diferença em relação às colegas, muitas adeptas do feminismo materialista, com uma visão bem específica de gênero e classe, por exemplo. Como eu vinha de outro lugar, minhas ideias eram pautadas em interseccionalidade e decolonialidade. Senti também a bibliografia da disciplina de introdução, com uma carga extensa de leitura de autoras europeias e estadunidenses. Ao mesmo tempo, tive uma disciplina de raça, classe e gênero, com autores e autoras negros e/ou latino-americanos que me foram apresentados na UNILA, então era um pouco dúbia a sensação.  

Qual a reação das pessoas dentro e fora da academia quando você conta que fez graduação na UNILA?

As pessoas de fora, não sabem muito o que é a UNILA, mas em cinco minutos de conversa eu explico e elas amam a ideia. Já as pessoas acadêmicas conhecem e muito bem o projeto. Na Bahia tem um campus da UNILAB, universidade irmã da UNILA, então há um reconhecimento, um afeto e muita curiosidade em relação à universidade e à integração. Tenho algumas colegas que tentaram estudar na UNILA e por algum motivo não conseguiram e algumas que ainda querem estudar e conhecer. A reação é sempre de admiração, nunca ouvi nada negativo.

Atualmente, qual seu tema de pesquisa no mestrado? Comente um pouco para nós.

Eu pesquiso mulheres lésbicas negras que fazem rap na América Latina. É um projeto com total influência da UNILA, primeiro porque falar de lésbicas negras foi um tema que eu escolhi durante a graduação, participei de diversos eventos com artigos sobre esse tema. Segundo porque lésbicas negras também foi o tema do meu TCC, onde entrevistei militantes da década de 1970 e analisei o discurso de um jornal gay no período. E por último, mas não menos importante, minha co-orientadora, que também co-orientou meu TCC, é da UNILA, Andreia Moassab, uma das pessoas que mais vestiu a camisa da integração latino-americana que eu conheço. O rap e a música também foram temas recorrentes durante a minha graduação, os projetos de extensão no Cidade Nova com Mano Zeu, um evento da PROEX com o GOG, o projeto de extensão do qual eu fazia parte que discutia diversidade sexual e gênero nas escolas públicas de Foz do Iguaçu, as organizações das Semanas da Consciência Negra, um projeto de pesquisa sobre guarânias e chamamés. Tudo isso influenciou a escrita do meu projeto de mestrado e me influencia ainda hoje.

Alexandre Araújo de Sousa


Revisão: Prof. Pedro Afonso Cristovão dos Santos

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