O Mestrado em História da UNILA está com inscrições abertas (mais informações sobre o processo de inscrição, gratuito, você encontra aqui: https://portal.unila.edu.br/noticias/mestrado-em-historia-recebe-inscricoes-ate-16-de-outubro). Nas próximas semanas o Blog de História divulgará informações sobre o Mestrado da UNILA. Hoje, publicamos entrevista com o prof. Evander Ruthieri, professor de História da África no Mestrado, e, ao final, os links com entrevistas anteriores realizadas pelo Blog, indicando possibilidades de pesquisa em História na UNILA. Nosso mestrado é presencial e totalmente gratuito.
Confiram a entrevista com o professor Evander Ruthieri, que atua na área de História da África na graduação e na pós-graduação em História da UNILA.
1) Prof. Evander, agradecemos por colaborar com o Blog de História da UNILA. Em primeiro lugar, gostaríamos de conhecer um pouco mais sobre seus interesses de pesquisa e temas de sua preferência para orientação na graduação e pós-graduação.
Fico grato com a oportunidade para conversarmos um pouco sobre pesquisa em História! Meus interesses de pesquisa e de orientação estão concentrados em dois âmbitos principais: História e Literatura; e História Africana/Afrodiaspórica. Desde minhas primeiras pesquisas (na graduação e no mestrado), tenho me interessado pelas relações entre História e Literatura na segunda metade do século XIX e início do século XX, principalmente na utilização da literatura como fonte histórica para o estudo de debates políticos e relações sociais, e na investigação histórica das trajetórias de romancistas e literatos. Minhas primeiras pesquisas tratavam, por exemplo, das relações entre o racismo e literatura no final do século XIX. Além disso, tenho atuado, sobretudo desde meu doutorado, com História da África contemporânea, sobretudo por meio de pesquisas acerca do sul da África (onde atualmente se encontra o estado nacional sul-africano) a partir da segunda metade do século XIX. Tenho um interesse específico em investigar os impactos do colonialismo naquela região, e as resistências e iniciativas africanas diante da exploração colonial e do avanço de legislações segregacionistas na região. Mais recentemente, tenho pesquisado também literaturas africanas contemporâneas a partir de uma perspectiva histórica, com foco nas produções de romancistas em Moçambique e no Zimbábue entre as décadas de 1980 e 2000, e com o objetivo de analisar a literatura como “lugar de memória” do colonialismo e dos processos de descolonização, bem como os impactos desses contextos nas relações de gênero e política. Desse modo, tenho orientado pesquisas que tratam das relações entre História e Literatura; e História Africana/Afrodiaspórica, principalmente em temas como cultura, política, colonialismo e resistências.
2) Tendo em vista sua área de atuação, o que um potencial estudante de pós-graduação, especificamente, deveria levar em conta ao propor um projeto em seu campo de estudos?
Como comentei acima, minha área de atuação tem se concentrado na História da África contemporânea, em um recorte cronológico relativamente amplo (séculos XIX e XX). Considero que um potencial estudante de pós-graduação, ao construir seu projeto de pesquisa, precisa ter alguma proximidade, ainda que inicial, com a historiografia africana e africanista recente, comprometida com o que Esperanza Brizuela Garcia chamou de “africanização do conhecimento histórico”. E isso porque, pelo menos desde a década de 1960/1970, a historiografia africana tem chamado atenção aos agenciamentos e protagonismos africanos ao longo do tempo, superando, assim, certas ideias preconcebidas da África como um “continente sem história” ou, ainda, ausente de documentos históricos. Além disso, um potencial pesquisador de pós-graduação precisa atentar-se à definição clara de quais conjuntos de fontes históricas pretende analisar e problematizar ao longo de sua pesquisa: ter isso em mente é fundamental, até mesmo, para verificar a viabilidade do projeto de pesquisa proposto.
3) Com que fontes históricas você trabalha, ou já trabalhou? Poderia comentar um pouco sobre as especificidades dessas fontes?
Ainda que historiador, tenho trabalhado muito com o que poderiam ser chamadas de “fontes literárias”, considerando ainda o que o historiador Robert Darnton caracteriza como uma “concepção mais ampla” de literatura, isto é, que abarque todas as atividades que tenham contato com as palavras, e também todos os sujeitos históricos envolvidos na produção de literatura: romancistas, editores, impressores, leitores. É claro, observar a literatura enquanto uma fonte histórica também requer uma atenção metodológica à especificidade da fonte, entendendo a partir do modo como ela representa e se relaciona com uma sociedade e um tempo. Implica pensar na dimensão social, política, cultura e econômica da literatura. Num gesto característico da história social da cultura, penso que é fundamental investigar a literatura como parte dos movimentos de uma sociedade; buscar a “lógica social do texto” (a expressão é de Gabrielle Spiegel). Mais recentemente, também tenho trabalhado com outros tipos de documentos, principalmente relatos de viajantes, fontes missionárias e testemunhos da oralidade.
4) Sua pesquisa abrange que períodos históricos? Por que você chegou a esse recorte temporal? O que esse período tem, para a pesquisa histórica, de possibilidades para novas investigações?
Tenho trabalhado com duas temporalidades distintas, ainda que conectadas: as últimas décadas do século XIX, momento marcado principalmente pela expansão do colonialismo na África, e de inúmeros episódios de iniciativas e resistências africanas diante da violência colonial; e com o período pós-independências no sul da África, especialmente as décadas de 1980 a 2000. O estudo desses períodos, e especialmente no que se refere à história africana, permite que entendamos melhor o processo de construção do Estado colonial, um processo extremamente violento de exploração de terras, recursos naturais e mão de obra; mas também o modo como diversas formas de agências africanas foram mobilizadas para resistir, confrontar ou negociar a presença colonial. Esse período também inclui temas ainda pouco abordados pela historiografia no Brasil, especialmente em partes do continente africano não-lusófonas. A história recente do continente africano também me interessa, principalmente do ponto de vista das suas literaturas: afinal de contas, é um momento de expansão do campo literário em África, o que possibilita mobilizar diversos tipos de literatura como fonte para o conhecimento do passado (e do passado recente).
5) Que abordagens e referências teóricas você citaria como relevantes em seu campo de pesquisa?
No que se refere à historiografia africana (e africanista), me inspiro nos trabalhos de historiadores já clássicos como Joseph Ki-Zerbo, Kenneth Onwuka Dike e Toyin Falola pela sua importância em valorizar/recuperar os agenciamentos e protagonismos africanos ao longo do tempo. Tenho também dialogado com historiadores e cientistas sociais que possibilitam um diálogo com a história política e a história social da cultura, em especial Sabelo Ndlovu-Gatsheni e Mahmood Mamdani. Além disso, acho particularmente importante as sugestões metodológicas da historiadora Nwando Achebe, especialmente no que se refere à interlocução de documentos escritos e orais para investigar as memórias coletivas. Em termos de abordagens mais próximas da história social da cultura, outros autores também foram muito importantes na minha formação enquanto pesquisador, especialmente E. P. Thompson, Natalie Zemon Davis e Carlo Ginzburg.
Mais entrevistas com professor@s do Mestrado em História da UNILA:
Rosangela de Jesus Silva - https://unilahistoria.blogspot.com/2021/03/pesquisando-imprensa-ilustrada-e-fontes.html
Mirian Santos Ribeiro de Oliveira: https://unilahistoria.blogspot.com/2021/03/pesquisando-historia-da-asia-na-unila.html
Paulo Renato Silva: https://unilahistoria.blogspot.com/2021/03/pesquisando-as-relacoes-entre-paraguai.html
Pedro Afonso Cristovão dos Santos: https://unilahistoria.blogspot.com/2021/04/pesquisando-teoria-da-historia-e.html