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Mostrando postagens de dezembro, 2013

Lula: “E eu achava que o golpe era uma coisa boa.” Ditaduras e sociedade civil, uma relação complexa.

Um tema muito controverso é a participação da sociedade civil durante as ditaduras latino-americanas. Houve apoio? Colaboração direta? Indiferença? Medo? Resistência? As respostas variam bastante: dependem do país, da época e do grupo social em questão, dentre outros fatores. Em História Indiscreta da Ditadura e da Abertura: Brasil (1964-1985) , Ronaldo Costa Couto apresenta dois depoimentos importantes sobre a participação do “povo” durante a ditadura militar brasileira. O primeiro depoimento é do ex-presidente Lula, dado ao autor do livro em 1997: “Quando houve o 31 de março, eu tinha exatamente 18 anos de idade. (...). E eu achava que o golpe era uma coisa boa. Eu trabalhava junto com várias pessoas de idade. E pra essas pessoas, o Exército era uma instituição de muita credibilidade. (...). Todo mundo de marmita, a gente sentava pra comer e eu via os velhinhos comentarem: “Agora vai dar certo, agora vão consertar o Brasil, agora vão acabar com o comunismo” (...). Essa era a visão

“Renunciar a Satanás, a suas pompas e ao comunismo”: ditadura e anticomunismo, um caso do Paraguai.

Há algumas postagens destacamos que as ditaduras latino-americanas eram anticomunistas. Para combater o comunismo, as ditaduras divulgavam que os comunistas eram ateus. Segundo as ditaduras, o comunismo não combinaria, assim, com a “fé cristã” dos latino-americanos. Do Paraguai vem um exemplo extremo desse anticomunismo das ditaduras latino-americanas: “(...) la guerrilla comunista fue la que más perduró. Su primera columna, Ytororo, fue tempranamente exterminada. De sus 54 miembros, sólo dos lograron sobrevivir. La siguiente columna, Mariscal López, asoló el departamento de Cordillera hasta que en 1965 fueron aprehendidos muchos de sus componentes con los cuales, en el mes de setiembre de ese año, el régimen de Stroessner desarrolló un payasesco rito seudoreligioso con tintes propagandísticos: tras ser salvajemente torturados, como era de rigor, los ex guerrilleros fueron “rebautizados”. En sendas ceremonias llevadas a cabo en cuatro localidades del departamento de Cordillera, di

Ditadura e futebol: a campanha de boicote à Copa de 1978 na Argentina.

A postagem de hoje aproveita o clima de sorteio da Copa do Mundo. O Mundial de 1978 foi realizado na Argentina, em plena ditadura militar. Os militares usaram a Copa – e o nacionalismo que sempre se manifesta nestas ocasiões – para conquistar o apoio da sociedade argentina e esconder a repressão sofrida pelos opositores. No entanto, meses antes da Copa, começou uma campanha na Europa defendendo o boicote ao evento e denunciando os crimes contra os direitos humanos que ocorriam no país. Vejamos algumas ações dessa campanha: Aqui, o logo da Copa (abaixo) é usado para denunciar a existência de campos de concentração de opositores no país. Nesta charge, o ditador argentino Videla é aproximado de Hitler. Cartaz holandês da Anistia Internacional representa uma bola de futebol com arames farpados, representando as prisões. Cartaz italiano contra o Mundial de 1978. Prof. Paulo Renato da Silva.

A propaganda das ditaduras: “nação”, “religião”, “paz” e “progresso”.

As ditaduras militares eram anticomunistas. Os comunistas denunciavam as desigualdades sociais existentes na sociedade. Para combater os comunistas, as ditaduras empregavam a repressão e apelavam para o nacionalismo e a religião. O apelo ao nacionalismo e à religião era uma forma de mascarar, de esconder as diferenças sociais, era uma tentativa de “unir” a sociedade em torno de características “comuns”, pois, para os militares, as identidades nacionais e a fé estariam acima das diferenças sociais. As ditaduras pretendiam, assim, evitar os confrontos de classe (greves, protestos, etc.) e estabelecer a “paz”. As ditaduras apresentavam a “paz” como uma condição para o “progresso”, discurso que, de um modo geral, interessava às elites econômicas e políticas. Vejamos alguns exemplos de propagandas das ditaduras militares:  Propaganda da ditadura militar argentina instaurada em 1976. Uma das mais conhecidas propagandas da ditadura militar brasileira (1964-1985). O general

“La Última Cena”: uma (re)leitura da Revolução Cubana.

O filme A Última Ceia , do diretor cubano Tomás Gutiérrez Alea, foi lançado em 1976. É um dos filmes mais importantes da cinematografia cubana e latino-americana. Conta a história de um senhor que, no final do século XVIII, convida 12 de seus escravos para reproduzirem a última ceia de Cristo. No dia seguinte, estoura uma grande rebelião de escravos. O filme é baseado em um acontecimento verídico. O filme foi produzido pelo Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC), mas demonstra que existiam divergências sobre os rumos da Revolução. A seguir destacamos algumas dessas divergências. A Revolução Cubana então priorizava o combate às diferenças e aos preconceitos de classe. Questões étnicas tinham um espaço reduzido. No entanto, o filme dá um destaque expressivo à diversidade que há entre os negros, o que diferia da política da Revolução. Há menções aos congos, mandingas e carabalis, a elementos do vodu e à dança e canto iorubás. É claro que A Última Ceia pod