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Mostrando postagens de setembro, 2021

Viagem à Terra de Gandhi: Martin Luther King Jr. na Índia (1959)

Na postagem sobre Quadrinhos e História , apresentamos algumas possibilidades de exploração das relações entre o gênero das histórias em quadrinhos e a disciplina da História. Concentrando-nos em trabalhos produzidos na Ásia ou que remetessem àquela região do mundo, conhecemos um pouco da proposta editorial da Tara Books , companhia estabelecida no Sul da Índia. No texto desta semana, adotaremos como ponto de partida para nossa discussão outro quadrinho da Tara Books publicado em língua portuguesa, chamado Vejo a Terra Prometida: A Vida de Martin Luther King (2011). Nesta obra, as ligações entre um dos líderes da luta pelos direitos civis nos EUA e o Sul da Ásia aparecem em, pelo menos, duas dimensões diferentes: a colaboração entre artistas das duas regiões; a representação da viagem de King à Índia, entendida pelo reverendo estadunidense como “uma peregrinação” à terra daquele que havia inspirado sua própria percepção de não violência, Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948). Mart

Transformar nossa história em arquivo: historiadores e arquivistas

Fotografia de Floyd Kauê Moreira Silva, estudante do curso de História – América Latina, reproduzida com permissão do autor Em nossa postagem sobre a fotógrafa Susan Meiselas , destacamos como, em seu trabalho sobre o povo curdo, Meiselas dedicou-se a constituir um arquivo da diáspora curda. Esse arquivo, formado de fotografias guardadas por imigrantes curdos e seus descendentes em diversas partes do globo, permitiu-lhe contextualizar e dar sentido às fotografias que a própria Meiselas havia capturado no Oriente Médio, ao registrar os vestígios de um massacre de curdos ordenado por Sadam Hussein. Sem o arquivo, sem uma série de imagens, esse sentido estaria ausente: uma ou poucas imagens não bastariam para compreender a história da diáspora curda. A centralidade do arquivo para a escrita da história pode parecer uma obviedade, escondendo a própria história das relações entre conhecimento histórico e arquivística, entre historiadores e arquivistas. Ao longo do tempo, porém, tais relaç

Uma leitura da "colonialidade do poder": conceitos para o pensamento histórico

O sociólogo peruano Aníbal Quijano (1930 – 2018) foi um pensador conhecido por ter desenvolvido o conceito de Colonialidade do Poder . Sua obra tem sido muito influente nos campos de estudos decoloniais. No texto Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina (2005), o principal propósito de Quijano é colocar algumas questões teoricamente necessárias para se pensar as implicações da colonialidade do poder relacionadas à história da América Latina. Segundo Quijano, a América foi o primeiro espaço/tempo que constituiu um padrão de poder de vocação mundial e por essa razão, foi também a primeira id-entidade produzida pela Modernidade. Para tanto, dois processos históricos convergiram e se associaram à América, tornando-se os dois eixos fundamentais do novo Padrão de Poder. O sociólogo explica que primeiro foi estabelecida uma codificação das diferenças entre Conquistadores e Conquistados com o novo conceito de Raça. Assim, uma nova estrutura biológica condicionava uma sit

A "Primavera dos Povos" na Era do Capital: historiografia e imagens das revoluções de 1848

  Segundo a leitura de Eric J. Hobsbawm em A Era do Capital , a Primavera dos Povos foi uma série de eventos gerados por movimentos revolucionários (liberais; nacionalista e socialistas) que eclodiram quase que simultaneamente pela Europa no ano de 1848, possuindo em comum um estilo e sentimento marcados por uma atmosfera romântico-utópica influenciada pela Revolução Francesa (1789). No início de 1848 a ideia de que revolução social estava por acontecer era iminente entre uma parcela dos pensadores contemporâneos e pode-se dizer que a velocidade das trocas de informações impulsionou o processo revolucionário na Europa, pois nunca houvera antes uma revolução que tivesse se espalhado de modo tão rápido e amplo. Com a monarquia francesa derrubada pela insurreição e a república proclamada no dia 24 de fevereiro, a revolução europeia foi iniciada. Por volta de 2 de março, a revolução havia chegado ao sudoeste alemão; em 6 de março a Bavária, 11 de março Berlim, 13 de março Viena, e qu

AmarElo - É tudo pra ontem: história e diáspora africana

No ano de 2019, o cantor e compositor Leandro Roque de Oliveira (1985-, 36 anos), mais conhecido como Emicida, lançou seu terceiro álbum de estúdio, “ AmarElo ”. O álbum deu início a um projeto que incluía uma sequência de conteúdos em diversas plataformas, como os podcasts “ AmarElo - O filme invisível ” e “ Amarelo Prisma ”, ambos lançados em 2020 para complementar e expandir os conteúdos expostos no disco. Em dezembro de 2020, dando sequência ao projeto, Emicida estreou pela plataforma Netflix o documentário “ AmarElo - É Tudo Pra Ontem ”, contando com a realização da Laboratório Fantasma , a produção de Evandro Fióti e a direção de Fred Ouro Preto . Utilizando-se de imagens, relatos e vídeos como fontes que perpassam a história da negritude no Brasil, o filme reconstrói e discute a contribuição da diáspora africana na cultura, a partir do fio genealógico que liga o Samba ao Movimento Hip-Hop.   Emicida no Theatro Municipal de São Paulo. Imagem disponível em  https://blogs.corre