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Postagens

Mostrando postagens de março, 2013

2 anos, 32.800 visualizações.

Hoje o blog completa dois anos no ar. Entre idas e vindas, somamos neste tempo pouco mais de 32.800 visualizações de página. Obrigado a todos que colaboraram, visualizaram e divulgaram o blog. Sigam conosco! Prof. Paulo Renato da Silva.

Ditadura e Igreja em León Ferrari.

Aproveitando a sequência de postagens sobre arte e, hoje, o 37º aniversário do golpe de Estado de 1976 na Argentina, apresentamos algumas obras do artista plástico argentino León Ferrari, nas quais denuncia fortemente os militares. Durante a ditadura, Ferrari se exilou no Brasil. Nas obras a seguir e em várias outras, o artista tem a Igreja como um dos principais alvos de suas críticas, o que provocou, há alguns anos, desentendimentos inclusive com o atual papa. Sua obra demonstra como é intenso o debate sobre as relações entre a Igreja e a ditadura na Argentina, como estamos acompanhando desde a eleição de Francisco I. A obra de Ferrari pode ser conhecida no site < http://leonferrari.com.ar/ >. Prof. Paulo Renato da Silva.

CineDebate História: "Greve de Março" e os trabalhadores de Itaipu.

Trabalhadores em greve no ABC paulista no final da década de 1970. Na próxima segunda-feira, dia 25, às 19:00, na Sala de Cinema da UNILA Centro teremos a segunda sessão de 2013 do projeto CineDebate História. Será exibido o documentário  Greve de Março  (1979), de Renato Tapajós. O documentário retrata a reorganização do movimento operário brasileiro sob a ditadura militar. No debate abordaremos como esse processo repercutiu, poucos anos depois, entre os trabalhadores que construíram Itaipu. O nosso convidado especial será o professor Odirlei Manarin, Mestre em História pela UNIOESTE, onde defendeu a dissertação  Peões da Barragem . Além de ser um especialista no tema, o professor Odirlei é uma testemunha do período: a sua família veio para Foz do Iguaçu na época da construção e trabalhou nela. A sessão será mediada pelo professor Gerson Galo Ledezma Meneses, professor e coordenador do curso de História da UNILA. Ajudem a divulgar! Trabalhadores da construção de Itai

Artesanato é Arte?

  Apesar das mudanças em curso, o conceito de arte ainda é bastante conservador e pautado por uma tradição europeia. Diante disso, como encarar o artesanato, tão comum entre nós latino-americanos? A seguir apresentamos um resumo dos debates sobre o artesanato, a partir do livro Culturas Híbridas de N é stor Garc í a Canclini:   “Por que tão poucos artesãos chegam a ser reconhecidos como artistas? (...). Ao conceber-se a arte como movimento simbólico desinteressado, um conjunto de bens “espirituais” nos quais a forma predomina sobre a função e o belo sobre o útil, o artesanato aparece como o outro, o reino dos objetos que nunca poderiam dissociar-se de seu sentido prático. (...). [Além disso,] A Arte corresponderia aos interesses e gostos da burguesia e de setores cultivados da pequena burguesia, desenvolve-se nas cidades, fala delas e, quando representa paisagens do campo, faz isso com óptica urbana. (Disse bem Raymond Williams: “Uma terra que se trabalha não é quase nunca uma pa

Arte marginal.

Nas primeiras postagens vimos que são os críticos de arte, as galerias e os museus que costumam definir o que seria e o que não seria arte. Porém, na última postagem vimos que novos olhares conceituam, por exemplo, a grafitagem como arte. Ou seja, nem toda obra precisaria da aprovação dos “grandes” críticos, das galerias ou dos museus para ser considerada arte. A arte existente fora do circuito tradicional é designada como arte marginal por alguns especialistas. Vale frisar que muitos artistas são bastante questionadores e não desejam ser (re)conhecidos pelo circuito tradicional. Mas o circuito tradicional pode incorporar a arte considerada marginal, se apropriar dela. Afinal, como já vimos, a arte é dotada de historicidade e varia muito de uma cultura para outra. Além disso, a "arte marginal”, em alguns casos, se tornou um rótulo que desperta curiosidade, interesse e, por isto, passou a chamar a atenção do "mercado de arte". Obra de "Os Gêmeos", ir

Arte efêmera.

Destacamos na postagem anterior que a materialidade das obras de arte possui uma historicidade. Destacamos as dificuldades enfrentadas pelos serviços de restauração para prolongar a “vida” das obras. Porém, nem toda obra é feita necessariamente para “durar”. Algumas são produzidas apenas para ocasiões e lugares específicos. Essas obras costumam ser designadas como arte efêmera, ou seja, passageira, rápida. Trata-se de uma arte ligada à decoração de cerimônias políticas, cívicas e religiosas. Nesse caso, é uma arte marcada, por exemplo, por arranjos, arcos do triunfo, cortinas, tapetes, estátuas e monumentos de materiais frágeis. Novos olhares consideram a grafitagem, os tapetes de Corpus Christi e as esculturas de areia e de gelo como exemplos de arte efêmera. Assim também são consideradas muitas instalações da arte contemporânea. Jean-Baptiste Debret (1768-1848) -  Cenário para o Bailado Histórico , litografia do livro  Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil  (1834-1839

Materialidade, restauro e historicidade das obras de arte.

Detalhe de obra em processo de restauro (Disponível em: < http://galeriagrazini.blogspot.com.br/2011/01/conservacao-e-restauracao-de-obras-de.html >. Acesso em: 10 mar. 2013). Já vimos como as artes variam de uma cultura para outra e historicamente. Hoje acrescentamos um elemento a essa discussão, a historicidade da própria materialidade das obras. Elas envelhecem, se degradam, estão sujeitas a acidentes, a fungos, à poluição e a cupins, dentre outros perigos. E, apesar de sua importância, os processos de restauração não garantem o retorno das obras à sua condição original: “A obra – quadro, estátua, edifício – vive, sofre acidentes, envelhece. Para lhe devolver o estado primitivo existem as técnicas de restauração. Ora, essas técnicas têm quer se basear no pressuposto de que podem recuperar o estado de origem, a feição inicial da obra, o que é ao mesmo tempo um dado hipotético e um problema. Além disso, elas intervêm, concretamente, na obra e na sua evolução. Supo

A arte é para ser “entendida”?

Árvore Inconsciente (1999-2000) - José Damasceno. É muito comum nos depararmos com alguém preocupado em “entender” uma obra de arte. As pessoas costumam buscar um “objetivo”, uma “intenção” nas obras. Contudo, a arte não existe necessariamente para ser “entendida”, não pertence apenas ao âmbito da razão. A arte existe para ser “sentida”. Além disso, o artista usa de sua liberdade para inovar formas, cores, romper com modelos representativos, como notamos com frequência, por exemplo, na arte abstrata e na contemporânea. Vejamos o que nos diz Jorge Coli: “Isso não significa que, em nossa relação com a arte, a razão deixe de intervir. Está presente na fabricação do objeto artístico, pois para tanto precisamos de uma organização material e de um aprendizado técnico impossível sem ela. Dependemos também de um encadeamento lógico para ordenarmos nossas ideias quando queremos exprimir o resultado do nosso contacto com a obra de arte. A razão está assim intrinsecamente presente no

Sobre períodos, "escolas" e "movimentos".

É muito comum artistas serem agrupados em períodos ou em “escolas” e “movimentos”. Escutamos sobre a “pintura do século XVI”, sobre os “impressionistas”, sobre os “expressionistas”, sobre os "muralistas mexicanos" e assim por diante. Essas denominações dão uma dimensão da técnica e/ou das preocupações de um período ou de um grupo de artistas. Entretanto, podem mascarar diferenças profundas entre os artistas de um mesmo período, “escola” ou “movimento”. Algumas dessas denominações surgem inclusive a posteriori . Outras são aplicadas para dar “identidade” a um artista, inserindo-o no meio e valorizando as suas obras. Vejamos a seguir um exemplo de como essas denominações podem desconsiderar a heterogeneidade da obra de um mesmo artista. Conheçamos um pouco do pintor italiano Giuseppe Arcimboldo (1527-1593), tradicionalmente designado como "maneirista": Maximiliano II, sua esposa Maria e seus três filhos (1563). O Jurista (1566). Primavera (1573).

Como trabalha o historiador da arte?

Apesar das diferenças entre os historiadores da arte, que divergem sobre os elementos que incidem mais diretamente sobre a criação artística, há um procedimento recorrente no trabalho deles, o de buscar na própria história da arte a compreensão de uma determinada obra. O que isso quer dizer? Isso quer dizer que os historiadores da arte não se limitam ao “contexto” no qual uma obra foi produzida, mas analisam como uma determinada “cultura visual” é relida pelos artistas. Vejamos um exemplo. Reparem nos personagens "prostrados" das imagens a seguir: Félix Parra - Fray Bartolomé de las Casas (1875). Detalhe do quadro. Triunfo de Marcus Aurelius - 176-80 a. C. Agora, observem as semelhanças na representação do suplício de Cuauhtémoc, o último imperador asteca, nas duas obras a seguir: Gabriel Guerra - El Suplicio de Cuauhtémoc  (1887). Leandro Izaguirre - El Suplicio de Cuauhtémoc (1892). Daí a importância de se ter uma "cultura visual&qu

A arte e o supérfluo.

Benvenuto Cellini - Saleiro de Francisco I (1543) - Kunsthistorisches Museum, Viena. Já vimos como a arte está associada a um sentimento de admiração na cultura ocidental. Mas é muito pouco para conceituarmos o que é arte. Jorge Coli acrescenta que a arte é marcada pelo supérfluo, ou seja, por aquilo que não é vital para os homens. A arte não teria, portanto, uma função específica e muitos objetos perdem a sua utilidade original quando ganham o estatuto de arte. No entanto, isso não deve ser visto necessariamente como algo negativo: “Mário de Andrade disse uma vez que a arte não é um elemento vital, mas um elemento da vida. Não nos é imediatamente necessária como a comida, as roupas, o transporte e descobrimos nela a constante do supérfluo, do inútil. (...). Benvenuto Cellini, em 1540, realiza, para o rei Francisco I da França, um saleiro. Mas “um saleiro que em nada se assemelha aos saleiros comuns”, como diz o próprio artista em suas memórias, pois se trata de uma extrao

Uma vez obra-prima, obra-prima para todos e para sempre?

Na postagem anterior, vimos como a crítica e instituições como os museus determinam o que seria e o que não seria arte. Entretanto, não há consenso. Existem diferentes olhares sobre o que é considerado arte. Algumas obras seriam “melhores” do que outras. Além disso, os olhares variam no decorrer do tempo e de acordo com a cultura de uma sociedade: The Ancient of Days (1794) de William Blake (1757-1827). “A crítica [de arte] (...) tem o poder não só de atribuir o estatuto de arte a um objeto, mas de o classificar numa ordem de excelências (...). Existe mesmo uma noção em nossa cultura, que designa a posição máxima de uma obra de arte (...): o conceito de obra-prima. (...). Temos que nos desenganar, no entanto. (...) quando se trata de obras mais polêmicas, (...) as disputas mantêm-se acerbas (qual é o interesse de Gounod ou Massenet? Grande, dizem os anglo-saxões; nenhum, respondem os franceses; Le Brun pode ser um artista admirável ou apenas gerar tédio; Blake um doido