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Mostrando postagens de maio, 2017

É possível uma história do agora? A história do tempo presente e a história do imediato

Pode o historiador fazer história daquilo que se passa diante de seus olhos? É possível fazer história das reviravoltas diárias da política, ou das mudanças sociais e culturais que se desenrolam no nosso cotidiano? Questões como essas têm motivado os historiadores a pensarem em uma “história do tempo presente”. Mas como se daria essa história? A rejeição da história como um estudo exclusivamente do passado já fora defendida pelos historiadores há tempos. Vemos, por exemplo, Marc Bloch, em Apologia da história, ou o Ofício do historiador (1944), contestar a visão tradicional de que historiadores estudam tão somente o passado, definindo a disciplina como “a ciência dos homens no tempo”. Ao longo do século XX, porém, o estudo da política, sociedade e cultura da atualidade foi, no geral, objeto mais da Sociologia, Ciência Política e Antropologia que da História. Os historiadores mantiveram preocupações constantes com o problema da “distância histórica”: deveria o historiador manter um

A história vista-de-baixo e a história do povo

A preocupação de escrever uma história fora da ótica das elites motivou um grupo de historiadores britânicos no século XX a desenvolver uma abordagem que teria influência global nos estudos históricos: a história vista-de-baixo . Contando com uma já existente tradição de história popular, e refletindo sobre a escrita da história a partir do marxismo, autores como E. P. Thompson, Eric. J. Hobsbawm, Christopher Hill, Rodney Hilton, Raphael Samuel, entre outros, renovaram o estudo do povo na história. A história do grupo tem origem no Partido Comunista Britânico, ao qual a maioria dos autores citados era filiada na primeira metade do século XX. Embora a grande maioria, com exceções como Hobsbawm, tenha deixado o partido em 1956, após a invasão da Hungria pela União Soviética, e se afastado da orientação stalinista do partido, o grupo permaneceu nas fileiras do socialismo, e pensando suas práticas historiográficas dentro do marxismo. Mais do que uma escolha temática, uma opção de estu

Eu não sou seu negro (2016): o racismo na história dos Estados Unidos

O documentário Eu não sou seu negro (2016), dirigido pelo cineasta e ativista haitiano Raoul Peck, traça um panorama e uma análise crítica do racismo na história dos Estados Unidos a partir de obra não concluída do escritor James Baldwin (1924-1987). Baldwin, autor de romances, ensaios, peças de teatro e poemas, além de militante e ativista social, registrou, no escrito Remember This House , seu convívio com três ativistas históricos do movimento pelos direitos civis nos EUA: Medgar Evers (1925-1963), Malcolm X (1925-1965) e Martin Luther King Jr. (1929-1968). Três militantes com distintas filosofias, e diferentes concepções sobre a questão racial nos EUA, bem como sobre as formas de luta a serem adotadas. Evers, militante da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP [Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor]), defendia o fim da segregação em espaços públicos e instituições como universidades, por meio de ações públicas (como boicotes), jurídic