As pesquisas do Mestrado em História da UNILA: Sociabilidade na fronteira Franco-Brasileira no contexto da Cabanagem (1835-1840)
Seguimos hoje com nossa série de postagens apresentando as pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIS) da UNILA. A postagem de hoje introduz a pesquisa da mestranda do PPGHIS Maria
Izeth Braga Beltrão, que investiga as formas de sociabilidade na fronteira entre o Império brasileiro e a Guiana Francesa no período da revolta da Cabanagem, no século XIX. Boa leitura!
Sociabilidade na fronteira Franco-Brasileira no contexto da Cabanagem (1835-1840)
1ª página do Processo-Crime referente a uma sedição militar ocorrida na
Praça e Vila de São José de Macapá no ano de 1839 (Foto de arquivo pessoal)
A
fronteira Franco-Brasileira tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores de
diferentes áreas do conhecimento. Na historiografia isso não tem sido
diferente, pois tem se tornado um tema recorrente. Muitos a utilizam no sentido
de delimitação territorial e/ou área litigiosa e de conflitos em que são
enfatizadas questões políticas, econômicas e diplomáticas.
Todavia,
em nossa pesquisa nos propomos analisar esse espaço fronteiriço por meio de uma
dimensão histórico-social em que, apoiados nos pressupostos da História Social
e em autores que abordam a temática, possamos refletir sobre a agência
histórica de diferentes sujeitos (como negros, indígenas e soldados desertores)
no contexto das lutas e tensões em torno da Cabanagem (1835-1840) na fronteira
Franco-Brasileira.
É importante destacarmos que a
escolha desse recorte espaço-temporal dá-se devido a essa região de fronteira (correspondente
ao atual Estado do Amapá) pertencer à então Província do Grão-Pará, onde em
1835 eclodiu a Cabanagem (movimento social que contou com a participação maciça
de diferentes grupos sociais contra o governo estabelecido na província). Esse
movimento teve início na capital Belém, mas devido à interiorização da luta
armada repercutiu por quase todas as vilas do Grão-Pará, alcançando a região de
fronteira do Brasil com a Guiana Francesa (Departamento Ultramarino pertencente à França).
Assim
sendo, temos como proposta pesquisar sobre Sociabilidade
na fronteira Franco-Brasileira no contexto da Cabanagem (1835-1840) visando
analisar sociabilidades entre diferentes sujeitos que circulavam/transitavam
por essa região de fronteira em meio a um contexto de instabilidade política,
econômica e social; bem como compreender como ocorriam trocas de experiências e
solidariedades entre estes.
Mas
por que pesquisar sobre esse tema? Qual a relevância disso? Então, estudar
sobre interações sociais na Amazônia não é um tema inédito, pois autores como Rosa
Elizabeth Acevedo Marin (2003) e Flávio dos Santos Gomes (1999) fazem isso com
maestria, em especial sobre os séculos XVII e XVIII. Entretanto, não há estudos
significativos sobre essa temática na primeira metade do século XIX, sobretudo,
que trate especificamente sobre esse tema nesse espaço fronteiriço durante o
movimento da Cabanagem.
Nesse
sentido, acreditamos que ao pesquisarmos sobre sociabilidades desenvolvidas
entre sujeitos de diferentes grupos sociais que circulavam e/ou se refugiavam
nessa fronteira no contexto da Cabanagem estaremos contribuindo não apenas com
estudos sobre este tão importante movimento social ocorrido na Amazônia, em
específico sua repercussão na fronteira Franco-Brasileira e seus possíveis
impactos nas ações de sujeitos que por ali transitavam, mas também estaremos
dando nossa contribuição a estudos de fronteira e história social da Amazônia,
uma vez que estudos e pesquisas como essa nos permitem analisar e compreender a
agência de sujeitos históricos.
Assim, a abordagem utilizada nessa pesquisa
será a qualitativa, por meio da qual será realizada análise de material
bibliográfico de autores com enfoque em estudos sobre Cabanagem e
sociabilidades em áreas de fronteira, bem como analisaremos informações
encontradas em fontes documentais encontradas no Arquivo Público do Pará (ofícios
do Governo com a Corte, processo-crime de 1839 sobre uma sedição militar na Vila
de São José de Macapá, entre outros que ainda iremos coletar) relativas a essa
região fronteiriça na década de 1830.
Sabemos que
desenvolver uma pesquisa em meio a uma pandemia não é nada fácil, pois os
desafios se tornam maiores, já que o deslocamento e acesso as informações que
precisamos são mais restritos, entretanto, isso não significa que ficaremos
estagnados, pois este tempo de isolamento/distanciamento social nos possibilita
avançarmos nas leituras dos materiais que já temos em mãos, e assim vamos
prosseguindo com as pesquisa.
Referências:
GOMES,
Flávio dos Santos (Org.). Nas Terras do Cabo Norte: fronteiras, colonização
e escravidão na Guiana Brasileira – século XVIII/XIX. Belém: Editora
Universitária/UFPA, 1999.
MARIN,
Rosa Elizabeth Acevedo; GOMES, Flávio. Reconfigurações coloniais: tráfico de
indígenas, fugitivos e fronteiras no Grão-Pará e Guiana Francesa (Séculos XVII
e XVIII). Revista de História, São Paulo, nº 149, p. 69-107, 2º – 2003.
Maria
Izeth Braga Beltrão – Mestranda em História (PPGHIS-UNILA)
Orientador:
Prof. Rodrigo Faustinoni Bonciani