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Comemorando o aniversário de Foz do Iguaçu e sua história: A importância da revista Painel (1973-2017) para a história de Foz do Iguaçu e região


Neste dia 10 de junho, em que comemoramos os 106 anos de fundação de Foz do Iguaçu, o blog publica iniciativa dos professores Paulo Renato da Silva e Rosangela de Jesus Silva, do curso de História - América Latina da UNILA, voltada para a catalogação e difusão de fontes históricas do município. Boa leitura!

A importância da revista Painel (1973-2017) para a história de Foz do Iguaçu e região

O projeto de extensão História e Memória de Foz do Iguaçu e região: digitalização, catalogação e difusão de fontes históricas, em desenvolvimento na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), tem o objetivo de formar um acervo de documentos históricos no âmbito do Laboratório de Estudos Culturais (LEC) da UNILA, ligado ao curso de História – América Latina. O LEC funciona na sala 302 do Jardim Universitário – atualmente fechado em virtude da pandemia provocada pelo coronavírus. A primeira fonte histórica contemplada pelo projeto é a revista Painel, que foi publicada em Foz do Iguaçu entre 1973 e 2017. A coleção – quase completa – foi doada pelo editor José Vicente Tezza ao LEC. 
Perci Lima, jornalista e pesquisador da História de Foz do Iguaçu – autor do livro Foz do Iguaçu e sua História (2001) – informou em 2017 que a revista Painel era a mais longeva da cidade e destaca a sua importância para o conhecimento do cotidiano dos seus moradores (LIMA, 2017, s./p.).
A data inicial da publicação – março de 1973 – indica que a revista começou a circular inclusive antes da assinatura do Tratado de Itaipu – em 26 de abril de 1973 –, o que a torna fundamental para a apreensão das expectativas, incertezas e frustrações geradas pela construção da usina. A permanência da publicação pelo menos até 2017 permite apreender, ainda, como a relação entre a usina e a cidade se transformou desde então.


Capa da primeira edição da revista (mar.-abr. 1973)

Aluízio Palmar menciona que a revista foi vigiada pelos órgãos de repressão durante a ditadura militar (1964-1985), pois deu espaço a opositores que criticavam algumas consequências da instalação de Itaipu na cidade. Vale lembrar que, à época, Foz do Iguaçu era considerada área de segurança nacional. Segundo Palmar, os “olhos e ouvidos dos arapongas estiveram voltados para a revista de José Vicente Tezza por conta dos incisivos e corajosos artigos do advogado Antônio Vanderli Moreira, então presidente do Diretório Municipal do MDB.” (PALMAR, 2011, s./p.). Palmar destaca que o advogado atuava em favor de colonos desapropriados pela construção de Itaipu. Histórias como essas são importantes para a consolidação de um contraponto às memórias produzidas e difundidas por Itaipu. Conforme aponta German Sterling em relação ao Ecomuseu, mantido por Itaipu, a "(...) memória das disputas em torno da construção da usina, e dos embates com os proprietários de terras, camponeses, indígenas e os movimentos sociais que se organizaram, não encontram espaço na memória do museu.” (STERLING, 2011, p. 69). Em tempo, um contraponto à Itaipu já tem sido feito por diversas iniciativas, como o site Nosso Tempo Digital (http://www.nossotempodigital.com.br/), que disponibiliza uma parte do acervo do semanário de mesmo nome que circulou em Foz do Iguaçu entre 1980 e 1994.

Danilo Georges, em um texto sobre o Centenário da cidade comemorado em 2014, aponta que a revista Painel foi, ainda, uma das responsáveis por difundir Foz do Iguaçu como destino turístico. (GEORGES, 2014, s./p.).

“A beleza artificial e natural se confundem em nossas fronteiras”. Assim o primeiro número da Painel se refere à Ponte da Amizade e às Cataratas do Iguaçu. (mar.-abr. 1973, p. 20)

Além dos motivos expostos, a revista se configura como uma fonte histórica importante, pois permite compreender as relações tecidas com a Argentina e o Paraguai a partir da Fronteira Trinacional. A política paranaense e a brasileira também são temas constantes em suas páginas. Assim, a revista permite uma análise conectada da história de Foz do Iguaçu e região com a história nacional e inclusive global. 
O projeto se encontra em fase inicial. Nos próximos meses continuaremos a divulgar no blog as possibilidades de pesquisa oferecidas pelo material e histórias pouco conhecidas sobre Foz do Iguaçu e região. Pretendemos que os números digitalizados da Painel comecem a ser disponibilizados aos pesquisadores interessados a partir de dezembro de 2020, em meio a ser definido.

Referências bibliográficas:

GEORGES, Danilo. Memórias hegemônicas e o Centenário de Foz do Iguaçu. La Espada, 12 mar. 2014. Disponível em: <https://laespadaunila.wordpress.com/2014/03/12/memorias-hegemonicas-e-o-centenario-de-foz-do-iguacu/>. Acesso em: 26 fev. 2020.
LIMA, Perci. José Vicente Tezza, o decano dos escritores iguaçuenses. Sítio do Perlim. Disponível em: <http://www.sitiodoperlim.com.br/noticia/jos-vicente-tezza-o-decano-dos-escritores-igua-uenses>. Acesso em: 26 fev. 2020.
PALMAR, Aluizio. Histórias colhidas no arquivo da PF de Foz. Documentos Revelados, 7 mai. 2011. Disponível em: <https://www.plural.jor.br/documentosrevelados/geral/historias-que-colhi-ao-vasculhar-o-arquivo-da-pf-de-foz-do-iguacu/>. Acesso em: 26 fev. 2020. 
STERLING, German Adolfo Ocampo. Representações Museográficas na Fronteira: Museo de la Tierra Guarani (Hernandárias/Paraguai) e Ecomuseu (Foz do Iguaçu/Brasil). Marechal Cândido Rondon, 2011. 134 p. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

Paulo Renato da Silva
Rosangela de Jesus Silva
* O projeto conta com a participação do discente Gustavo Alves Lima, bolsista da Pró-Reitoria de Extensão da UNILA.


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